Jornalista formado pela Universidade Católica de Santos e especialista em Gestão Pública Municipal. Edita o site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br).
Pois é, o governo brasileiro é mesmo uma mãe para alguns de seus filhos. Os filhos dessa mãe construtores de ferrovias, por exemplo. Todos os seus erros serão perdoados. Seu futuro está garantido. Dinheiro não lhes faltará. E, se algum TCU critica suas má-criações, correm para debaixo das asas da mamãe, como pintinhos em busca da galinha. A galinha dos ovos de ouro...
Dias atrás, em 19 de abril, o governo lançou o Programa Porto 24 Horas, para desburocratizar o sistema portuário. Em 24 de abril de 2008 passou a vigorar a lei que extinguia o fuso horário do Acre. Em 25 de fevereiro de 1993, surgiu a Lei 8.630, de modernização dos portos brasileiros. Em 12 de abril de 1990, a Portobrás foi extinta pela lei 8.029. A cronologia invertida não é casual: analisando os fatos, parece que estamos recuando no tempo. E atropelando, pelo caminho, fatos meio esquecidos, como a existência do Ministério da Desburocratização (1979/1986), criado para acabar com o excesso de burocracia, mas por ela vencido.
Até os chineses arregalaram os olhos semicerrados para do caos nos acessos aos principais portos brasileiros, por terra e por mar. Tanto que lá da China veio a ordem: cortar as compras de soja no Brasil, pois vendemos e não temos como entregar. Tantos países competindo/guerreando entre si para garantir mercados para seus produtos, e o Brasil entregando de bandeja, por incompetência, um mercado tão pequeno e insignificante como a China.
O caos viário no entorno do Porto de Santos – que a imprensa há mais de uma década alertou que aconteceria, sem que fossem tomadas providências para evitá-lo – chegou ao ponto de se começar a fazer comparações de velocidade com animais conhecidos por sua lentidão. Foi o que fez a Folha de São Paulo, em 20 de março, no infográfico Logística Tartaruga.
"Quando os elefantes lutam, quem sofre é o capim". O provérbio citado há cerca de 35 anos pelo ex-presidente da Tanzânia, Julius Nyerere, no contexto da guerra fria entre as superpotências, pode ser transplantado para a Baixada Santista, onde lerdos porém pesados elefantes lutam, e a população é pisada como capim. E eu me refiro ao caos nas estradas que esses elefantes deixaram acontecer e agora lutam entre si para empurrar a responsabilidade.