Quinta, 26 Dezembro 2024

Pois é, o governo brasileiro é mesmo uma mãe para alguns de seus filhos. Os filhos dessa mãe construtores de ferrovias, por exemplo. Todos os seus erros serão perdoados. Seu futuro está garantido. Dinheiro não lhes faltará. E, se algum TCU critica suas má-criações, correm para debaixo das asas da mamãe, como pintinhos em busca da galinha. A galinha dos ovos de ouro...

Digo isso após ter visto os desvios na Transnordestina (não só os de dinheiro, mas os que precisam ser feitos no traçado, para que a ferrovia não atropele o altar de uma antiga igreja, como já comentei antes – será que os construtores pretendiam entrar no templo com locomotiva e tudo, para receber a sagrada hóstia?).

Logo depois, vejo uma reportagem no Estadão (10/3/2013, página B3), agora sobre a milenar Ferrovia Norte-Sul (pelo tempo da construção, será que é entre os polos da Terra?). A foto impressiona, fico lembrando dos tempos de ferrorama: um trenzinho que percorresse tal traçado provavelmente descarrilaria, mas os especialistas devem saber o que fazem...


Clique aqui para ver a reportagem em tamanho ampliado

Opinião diferente tem o Tribunal de Contas da União, que aponta erros de projeto e superfaturamento – mas... quem é o TCU para criticar os doutores engenheiros, economistas e empresários (com "e" minúsculo, mesmo...)? Mamãe há de garantir que seus filhotes sejam sempre saudáveis, senão eles embirram e empacam.

É o que está acontecendo na Norte-Sul: para garantir que a estatal Valec não dê um calote nas concessões de ferrovias, serão antecipados 15% da "mesada" que os concessionários receberiam pelos próximos 35 anos. E acredite: se o governo não pagar, o governo paga: os "recebíveis" servem como garantia de empréstimos do BNDES, e assim, se o concessionário não receber o recebível, o calote do governo é repassado direto ao banco oficial...

E tem mais: não importa que a ferrovia, se um dia for completada, seja tratada como a famosa Madeira-Mamoré, a que foi sem nunca ter sido: mesmo que nada seja transportado, para os concessionários será como se milhares de trens trafegassem na sua máxima capacidade, pois a Valec comprará toda a capacidade de carga, use ou não. Mesmo com risco zero, os investidores, coitadinhos, estão inseguros. Talvez porque eles estejam naquela difícil fase da adolescência: já não são crianças, mas ainda são "di menor", irresponsáveis e impunes...

Lógico que a pílula está disfarçada em juridiquês e economês, para os leigos não notarem que os filhos reclamões dessa mãe maravilhosa têm garantia mais que suficiente para trabalhar (e receber) como deputados e senadores até a idade madura (ou até se aposentarem, via aditamentos de contrato)...

E ainda tem gente achando que eu é que sou contra o desenvolvimento ferroviário no Brasil!

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