A evolução da informática é admirável. Já se fala sem espanto em imprimir casas completas, em vez de construí-las. Qualquer cidadão consulta seu celular e tem na hora a situação do trânsito nas principais cidades, áreas alagadas, onde conseguir táxi, tempos de viagem de ônibus, tempo de espera nos inevitáveis congestionamentos, rotas alternativas, até trocando informações via Twitter. As câmeras de monitoramento mostram o que acontece em quase todo o mundo e até fora da Terra, em tempo real. Big Brother de Orwell é fichinha. Qualquer assalto é mostrado na TV por três ou quatro câmeras diferentes. Quem compra pela Internet acompanha em tempo real o trajeto da encomenda até sua casa.
Lembro que a computação chegou a Santos pelas empresas do porto. Um sofisticado centro de processamento de dados (CPD) era mantido já nos anos 1970 pela antiga Companhia Docas de Santos. O telex e o fax chegaram primeiro às agências de navegação. Sistemas de rastreabilidade surgiram no cenário santista junto com os contêineres. Gestão eletrônica de documentos, transmissão de dados entre continentes, automação de equipamentos, conferência de cargas on line e tantas outras novidades tecnológicas, surgiram na região (e muitas vezes no Brasil) por meio das empresas que gravitam em torno do porto de Santos.
Habituado nas décadas finais do século XX a ver a primazia das empresas marítimas e dos portos no emprego de telemática (casamento de telecomunicações e informática), não consigo, sinceramente, entender como terminais portuários, transportadoras, armadores e porto não conseguem fazer algo tão simples (relativamente) como um plano de controle da chegada de caminhões ao porto, durante a safra ou fora dela.
Esse caos é antigo e bem conhecido, e a culpa não é só da imprevidência do Governo Estadual (que não fez as obras necessárias). Trânsito local parado, serviços de emergência impedidos de prestar socorro, acidentes graves, poluição, comunidades isoladas por filas de caminhões parados, cargas desviadas para outros portos, tudo por falta de coordenação mínima do fluxo de veículos pesados. As multas, poucas, não intimidam.
As soluções já foram debatidas há muito tempo. Os meios existem, e nem são complicados. Bem mais difícil seria reunir informações sobre todo o fluxo de trânsito de São Paulo e, como citei, qualquer um tem essa informação em seu celular. Os caminhões que demandam o porto seguem percurso origem-destino bem previsível, não chegam de surpresa ao porto, sua passagem pode ser controlada por pontos de passagem, GPS e outros meios. Nada justifica o que se vê nas imediações do porto todos os dias.
A responsabilidade é do porto quanto à entrada dos veículos na área do cais, e é dos terminais de cargas e contêineres quanto às filas que se formam em suas portas, que eles deveriam ter evitado. Plano de carga, para a estivagem dos contêineres a bordo, os armadores já fazem há décadas, todos sabem com bastante antecedência a ordem do embarque. Portanto, não há desculpas. Se esses empresários não sabem o que é um PC, um telefone celular, um plano de carga ou simplesmente o significado da palavra "Logística", não merecem continuar no ramo. Portanto, multa neles!