Jornalista e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Servidor público de Cubatão, atua na assessoria de imprensa da prefeitura do município.
Há algumas semanas, recebi de Diniz Gonçalves Júnior seu livro de poemas Decalques. Para os dois leitores que costumam acompanhar o Porto Literário, a cadência da poesia de Diniz soa muito próxima àquela dos versos de Alberto Martins, principalmente os poemas de Cais. Mas ao invés da paisagem portuária e litorânea deste, Diniz prefere espaços menores, tendo como um dos temas principais a arquitetura de prédios da cidade de Santos.
A capa de uma edição recente do PortoGente trazia uma foto de Berenice Kauffman Abud em que um casco vermelho de navio e sua ferrugem se encontram em primeiro plano. Na galeria da fotógrafa (Ships and their features...) conhecemos uma série maior, com closes de lemes, âncoras e cascos, sempre tendo a ferrugem como figurante.
Em alguns dos textos publicados neste Porto Literário, tive a oportunidade de comentar questões relativas ao estudo da literatura, principalmente quanto ao preconceito dos que acreditam o estudo sobre a criação literária possa prejudicar o amor “puro” pelas letras.
Em uma série de cartas enviadas à sua esposa entre junho e novembro de 1907, o poeta alemão Rainer Maria Rilke descreve o impacto em sua sensibilidade artística causado pela observação contínua de pinturas do francês Paul Cézanne (1839-1906). Morando em Paris à época da exposição de Cézanne no Grand Palais, Rilke visitaria praticamente todos os dias as obras. Esse exercício contínuo de apreciação é um exemplo de como as diversas formas de arte podem influenciar umas às outras. Em muitos momentos da correspondência, Rilke aponta como a contemplação das artes plásticas vinha afetando sua escrita poética, anotações que valem também para o exercício crítico e literário.
O texto é pequeno, não tem mais de três páginas, e descreve o impacto dos portos na sensibilidade das cidades que os comportam. No caso, o porto é Marselha, na França, e o texto é Dois planos, do crítico cultural alemão Siegfried Kracauer, publicado originalmente em 1926 pelo jornal Frankfurter Zeitung, e que chega ao público brasileiro na coletânea O ornamento da massa, lançado agora em 2009 pela editora Cosac Naify.