Jornalista e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Servidor público de Cubatão, atua na assessoria de imprensa da prefeitura do município.
O romance 'Navios Iluminados' volta a ser assunto da coluna. Desta vez, o foco é direcionado para a forma como a amizade entre o protagonista José Severino de Jesus e Felício é utilizada pelo autor como eixo principal da narrativa. Isso ocorre de duas maneiras: a mobilidade dos dois personagens faz com que a história incorpore diversos personagens e grupos sociais; e a própria tensão entre os dois permite ao autor inserir um conteúdo de denúncia social.
‘Navios Iluminados’, obra de 1937 já apresentada anteriormente na coluna (Pelo Macuco de 1930), volta ao espaço. Desta vez, o destaque é para as descrições que o autor Ranulpho Prata, médico de profissão, faz dos acidentes de trabalho e das condições de vida dos trabalhadores que habitavam o bairro portuário do Macuco.
Na coluna anterior comentava-se o conteúdo de uma carta de Manuel Barbosa, personagem de "A carne", romance de Júlio Ribeiro escrito na segunda metade do século XIX, em 1888. Barbosa é um homem de seu tempo, um entusiasta dos avanços científicos e técnicos que explora, colhe e cataloga espécimes da fauna e da flora da fazenda da família no interior da província de São Paulo; é acionista da São Paulo Railway Co., companhia que explorava o percurso de trem de Jundiaí a Santos.
Quem gosta de ler uma obra literária cujo cenário são as ruas e avenidas pelas quais passa todo dia pode começar a procurar nos sebos da cidade uma edição de ‘Navios Iluminados’, livro escrito em 1937 pelo médico sergipano Ranulpho Prata. O bairro portuário do Macuco é o grande personagem deste romance em que as pessoas vivem em torno do prédio da Inspetoria da Companhia Docas de Santos.
Parte da crítica literária relaciona a ocorrência dos gêneros literários a determinados espaços (para uma história de naufrágio, por exemplo, são necessários um porto de embarque, uma rota oceânica e uma ilha ou continente distante). Franco Moretti, um geógrafo que estuda literatura, defende que “cada espaço determina, ou pelo menos encoraja, sua própria espécie de história”.