Quarta, 01 Janeiro 2025

Há algumas semanas, recebi de Diniz Gonçalves Júnior seu livro de poemas Decalques. Para os dois leitores que costumam acompanhar o Porto Literário, a cadência da poesia de Diniz soa muito próxima àquela dos versos de Alberto Martins, principalmente os poemas de Cais. Mas ao invés da paisagem portuária e litorânea deste, Diniz prefere espaços menores, tendo como um dos temas principais a arquitetura de prédios da cidade de Santos.

 

O acesso do poeta ao tema ocorre por meio da memória do autor, paulistano com passagens por Santos. Assim, nesta abordagem inicial de seu livro, a coluna destaca alguns poemas em que se destaca a arquitetura dos espaços internos dos prédios da cidade, nos quais os corredores, as pastilhas das paredes e a vista a partir do apartamento acabam configurando a matéria-prima de peças como Edifício Parque Verde Mar, do arquiteto Artacho Jurado:

 

desenho matizado em cores fortes
ligação entre espaços amplos, do portal aos
jardins de paisagens
no teto carrosséis, figuras geométricas
giracéu salpicado de horizontes

 

Os vãos e as curvas da arquitetura de Artacho Jurado, em foto

da capa do livro sobre o arquiteto, de Rui Eduardo Debs Franco

 

O arquiteto é lembrado nominalmente no poema Artacho Jurado:

 

o desenho
brinca nos vãos
cor que veste o
espaço esquadro
aéreo de latitudes
moderno no traço de
tinta ordem que desafia
a geometria invento
solando improvisos uma
respiração do mar

 

Desenho, esquadro, vãos, geometria desafiada e improvisos de uma respiração marítima traduzem de forma poética as impressões de qualquer santista ou turista que passe em frente a edifícios como o Enseada ou o Nosso Mar, ambos na orla da Cidade.

 

Esse narrador algo turista, algo santista não poderia deixar de descrever outros edifícios marcantes, desta vez porque públicos, como o aquário na Ponta da Praia ou o cassino do Monte Serrat. O lar do saudoso leão-marinho Macaé, dos pingüins e do lobo-marinho Macaezinho é narrado como se fosse uma visita ao aquário, com sensações e objetos se sucedendo por um corredor do início ao fim do passeio:

 

Aquário Municipal
espaço vítrico tingido azul profundo coral peixe
areia move moinho
empurra ar sentido aquático medusa sereia
plástica fundo água espelho
silêncio bolhas nado vida vaga netuno mito
tridente alga

 

Em Monte Serrat, o poema se desenvolve pela relação do local com a urbanidade e a paisagem:

 

a letra de Itororó inicia a escada
traça sua geografia cortando
a vila que lembra Noel insolação
na manha atlântica avista a capela
e o cassino desativado entre vitrais
do salão panorama de mapas
e mirantes diluídos em 360º

 

Antes de seu livro, lançado em 2008, Diniz tem publicado suas poesias nas revistas Cult, Poesia Hoje e Zunái, entre outras. O blog do autor é o Desmemórias. Contatos pelo correio eletrônico [email protected].

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