Jornalista e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Servidor público de Cubatão, atua na assessoria de imprensa da prefeitura do município.
Em sua coluna no Estadão, Luis Fernando Veríssimo, com um afiado olhar sobre nossos dias, costuma perguntar: “poesia numa hora dessas?”. Essa é a pergunta que repito ao tratar mais uma vez de literatura quando mais um trabalhador perde a vida no cais de Santos. Cabe aos especialistas determinar as causas e à Justiça punir as negligências. Ao Porto Literário, se algum consolo ostenta, resta contribuir para a reflexão sobre esse espaço político-econômico-cultural.
Do ciclo do romance portuário, Os Vira-latas da Madrugada, romance de Adelto Gonçalves publicado em 1981, traz em seu próprio título a natureza dos personagens que aparecem em suas páginas: vira-latas – pequenos ladrões, prostitutas, valentões e vagabundos – que circulam pelas franjas do porto, no espaço intermediário entre o cais e a cidade. É o mesmo universo tratado anteriormente em Cais de Santos (1939), de Alberto Leal, e Querô – uma reportagem maldita (1975), de Plínio Marcos. É o porto dos pequenos expedientes.
Porto Literário retoma os comentários sobre o ciclo do romance portuário, mesmo que algumas de suas obras tenham sido citadas na coluna anterior, O bonde-operário da Moscouzinha Brasileira. Só para lembrar, as obras do ciclo, como originalmente escreveu Narciso de Andrade em 1993, são os romances Navios Iluminados (1937), Cais de Santos (1939), Querô – uma reportagem maldita (1976), Os vira-latas da madrugada (1981) e Barcelona Brasileira, que só seria publicado no século XXI, além de Agonia na noite (1954), de Jorge Amado, acrescentado pela coluna.
Nesta semana, Porto Literário dá um tempo no ciclo do romance portuário para tratar de um lançamento sobre a história de Santos: A “Moscouzinha” brasileira: cenários e personagens do cotidiano operário de Santos (1930-1954), do historiador Rodrigo Rodrigues Tavares. A obra avança a pesquisa do autor sobre a repressão aos trabalhadores e entidades comunistas em Santos iniciada em O porto vermelho: a maré revolucionária (1930-1951), seu livro anterior.
Cais de Santos (1939), de Alberto Leal, foi lançado dois anos depois de Navios Iluminados, de Ranulpho Prata. O que o Porto Literário de hoje vai tentar é colocar em perspectiva histórica as duas obras que iniciam o ciclo do romance portuário.