Sexta, 26 Abril 2024

Alessandro Atanes

Jornalista e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Servidor público de Cubatão, atua na assessoria de imprensa da prefeitura do município.

Quem tem acompanhado a coluna Porto Literário nas semanas recentes tem lido um vai-e-vem entre textos sobre o Porto de Santos como tema literário e literatura latino-americana. Pelo ritmo das leituras, parece que não vai mudar. Há duas semanas escrevi sobre os temperamentos de dois grupos de poemas sobre a cidade portuária, fui para Roberto Bolaño na semana anterior e hoje volto aos tais temperamentos.

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Logo no início de “Un paseo por la literatura”, prosa poética de 1994 em que o autor enumera sonhos, Bolaño descreve a condição “sudaca”. É também uma das primeiras aparições da figura do detetive em sua obra:

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Em um dos depoimentos da parte central de “Os detetives selvagens” (Roberto Bolaño, 1998), o leitor acompanha desde Port Vendres (costa mediterrânea da França, junto à fronteira com a Espanha) Alain Lebert contar como conheceu Arturo Belano e Ulisses Lima, os protagonistas do livro, dois latino-americanos na diáspora pela Europa, “sudacas”, como escreve o autor, ele mesmo um chileno nascido em 1953 que passou o final da adolescência no México e perto dos 30 anos parte para a Europa e acaba residindo na Catalunha, Espanha, onde morre aos 50 anos.

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Em Flávio Viegas Amoreira, esse aspecto se dá pela paisagem litorânea sendo afetada por uma infecção de linguagem literária que, apesar de manter aspectos de lirismo, nada lembra a nostalgia do século anterior. É um processo que ocorre em “Maralto” (2002) e “A Biblioteca submergida” (2003) e chega ao ápice, desde o título, em “Escorbuto – Cantos da Costa” (2005): “CHOVENOMAR desperdício estarmundo / CHOVENOMAR acontece / POEMASPONJA recolhos reunimentos / meus poros são olhos! Pontos focados / pés castos / costados dobradiços / jazz aqui poensia: ex-boçamento”.

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No último encontro da oficina “Conheça Santos por meio da Literatura”, no litoral paulista, conversamos sobre a diferença de sensibilidades entre poetas do século passado e da primeira década deste século XXI ao retratarem o Porto de Santos. A coisa toda é mais uma pista, a ponta do fio que começamos a puxar. Do século passado, tratamos de poemas de Rui Ribeiro Couto (“Santos”, 1939), Roldão Mendes Rosa (“Porto”, da década de 50 ou 60, publicado postumamente em 1991) e Narciso de Andrade (“Cais”, década de 50 ou 60, publicado em 2006). Os dois primeiros são marcados por um profundo sentimento de nostalgia (“Nasci junto do porto / ouvindo o barulho dos embarques”, Couto; “Por que / este amor ao cais / se o que espero / não viaja?”, Roldão). Por trás da escrita dos poetas, neles se percebe uma criança que nasceu em torno do cais. Já no poema de Narciso, vemos a presença do então repórter de porto no cais, vendo os detalhes (a espuma na superfície da água, um passarinho no mastro) misturado à nostalgia dos dois acima (“Com tanto navio para partir / minha saudade não sabe onde embarcar”).

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