Quinta, 26 Dezembro 2024

Alessandro Atanes

Jornalista e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Servidor público de Cubatão, atua na assessoria de imprensa da prefeitura do município.

IIMais já para além da metade da aula Barthes escreveu / disse algo que ilumina essa obsessão expressa em “El mal de Montano” pelo perigo que a literatura possa correr. Para ele, o ato criativo é “não propriamente um Triunfo sobre a Morte, mas uma Dialética do Indivíduo e da Espécie”. As anotações, com uma profusão de sinais e traços e uma brevidade de lista de itens, revelam o componente afetivo, ou psicológico, da obra de Vila-Matas:

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Foi pela temática, o 11 de setembro de 2001, que aproximei obras tão distintas como “El mal de Montano” (2002), de Enrique Vila-Matas, e “Edoardo, o Ele de Nós” (2007), de Flávio Viegas Amoreira no artigo da semana passada. Nos dois romances – ainda que “Edoardo...” possa ser considerado uma novela – acompanhamos como a data afeta narradores e personagens. Hoje, guiado pela leitura das aulas de Roland Barthes sobre “A Preparação do romance”, retomo os dois livros por outro ponto em comum: ambos debruçam-se sobre o fazer literário e a própria Literatura.

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Quase lá no meio do “Grande Sertão: Veredas” (pg. 116 da edição comemorativa da Nova Fronteira), Riobaldo, a voz que ouvimos ao ler o clássico romance de João Guimarães Rosa que é sempre direcionada a um interlocutor a quem sempre se refere. Nesse trecho lembra de quando era menino moço e foi com a mãe ao porto do Rio-de-Janeiro, Bahia abaixo, já perto do Santuário do Santo Senhor Bom-Jesus da Lapa, onde o jovem de 14 anos, recuperado de uma enfermidade, pagaria promessa feita pela mãe ao pedir esmola na praça para encomendar uma missa. Assim, a coluna passa por mais uma descrição de cena portuária, ainda que de um porto humilde, na sublime prosa de Rosa:

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II A paisagem na poesiaO mistério do mar e a distinção da montanha. Por isso, retomo aqui o poeta peruano Javier Heraud (1942-1963), que tenho traduzido aos poucos neste Porto Literário. Na parte 4 de seu longo poema dedicado ao outono, “À espera do outono”, Heraud usa os dois elementos para descrever a expectativa pela chegada da estação:

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Em seus diálogos com Osvaldo Ferrari, gravados em 1984 para a Rádio Municipal de Buenos Aires, o escritor argentino Jorge Luis Borges de artes plásticas e lembrava como o inglês William Turner (1775-1851, Cores e luzes de Turner) foi o primeiro pintor a dar importância à paisagem:

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