Quinta, 25 Abril 2024

Foi pela temática, o 11 de setembro de 2001, que aproximei obras tão distintas como “El mal de Montano” (2002), de Enrique Vila-Matas, e “Edoardo, o Ele de Nós” (2007), de Flávio Viegas Amoreira no artigo da semana passada. Nos dois romances – ainda que “Edoardo...” possa ser considerado uma novela – acompanhamos como a data afeta narradores e personagens. Hoje, guiado pela leitura das aulas de Roland Barthes sobre “A Preparação do romance”, retomo os dois livros por outro ponto em comum: ambos debruçam-se sobre o fazer literário e a própria Literatura.

Barthes, semiólogo, um dos nomes do estruturalismo francês, tem passado, assim como todo o estruturalismo, por uma revisão crítica. Na abertura da aula de 1º de dezembro do ano letivo de 1979-1980, o próprio Barthes já não se considerava propriamente um estruturalista “stricto sensu” como Lévi-Strauss, que, ao chegar de navio ao Brasil em 1935 para dar aulas na USP, descreve a paisagem entre o porto de Santos e a Serra do Mar como “trópicos de sonho” (em Porto Literário, confira “Lévi-Strauss em Santos” e “Barthes, Marlon Brando e o isolamento dos portos”).

I
Em uma das partes de “El mal de Montano”, o narrador, que tudo vê e entende pelo filtro da literatura (esse é o Mal de Montano do titulo, uma infecção literária), percebe que o problema está mesmo nas pessoas que não veem o mundo dessa forma e pensa em iniciar uma cruzada para salvar a literatura. O que Vila-Matas faz em forma de ficção, o crítico e ensaísta Tzvetan Todorov fez em “A Literatura em perigo” (2009, aqui comentado em “Mesmo em perigo, a literatura salva”), onde inicia uma cruzada contra a crítica que sufoca a literatura com uma carga insuportável de teoria.


Roland Barthes em aula no Collège de France

Ali ele acusa justamente o estruturalismo como um dos responsáveis pela inflação de teoria no ensino universitário, onde se estuda mais teoria do que as próprias obras. Mesmo nesse momento de revisão pelo qual Barthes também passa, a leitura de seus textos sobre a escrita e o fazer literário mantém-se fresca e inventiva. Ele era mais literário que teórico, mais exploratório do que afirmativo, de um amor aberto e declarado à Literatura.

Clique aqui para ler a segunda parte deste artigo.

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