Opinião | José Antonio Marques Almeida
Engenheiro Civil especializado em Gestão Portuária
Ainda no calor da COP30, recentemente encerrada, diante da indefinição que ainda ronda o terminal de contêineres STS10 no Porto de Santos, este complexo portuário se vê colocado, mais uma vez, diante de um debate que o Brasil posterga há décadas: qual será a relação entre o maior porto do hemisfério sul e a cidade que o abriga? A equação porto-cidade, resolvida com ousadia nos principais hubs logísticos do mundo, permanece em aberto no litoral paulista – justamente quando o cenário internacional exige clareza, planejamento e ambição.
Nos portos mais avançados do planeta, a integração entre espaço urbano e operações marítimas já se faz com a força das tecnologias inteligentes. Inteligência Artificial, sensores em rede de automação de ponta e sistemas de apoio à decisão transformaram áreas portuárias antes fechadas em territórios dinâmicos, eficientes e mais sustentáveis. Essa revolução não é conceito: é prática cotidiana em Roterdã, Antuérpia, Singapura e Los Ángeles.
O mundo avança para modelos portuários que reduzem emissões, otimizam energia, preservam biodiversidade e devolvem à sociedade áreas historicamente degradadas. No Brasil, Santos ainda discute o básico.
A automação – que otimiza atracação, reduz congestionamentos e aumenta a segurança – deixou de ser diferencial competitivo. É condição de sobrevivência. O Porto de Santos, que deveria liderar a transição da logística nacional para padrões globais, segue travado em decisões que emperram sua modernização e deixam a cidade à margem do futuro. Ao mesmo tempo, a Baixada Santista, sufocada por limitações de mobilidade, moradia e uso do solo, clama por planejamento integrado capaz de transformar velhas zonas industriais em novos espaços públicos, criativos e economicamente vibrantes.
Portos modernos são centrais comunitárias, não enclaves isolados. Criam benefícios tangíveis para quem vive ao redor. Compensam impactos. Conectam cultura, tecnologia e qualidade urbana.
Roterdam redesenhou seu território para equilibrar crescimento portuário e vida urbana. Singapura libertou terras valiosas ao consolidar operações em instalações totalmente automatizadas. Antuérpia transformou antigas frentes marítimas em bairros vibrantes. Los Angeles antecipou a pauta da descarbonização quando o tema ainda engatinhava.
Santos, no entanto, continua preso ao ciclo da promessa permanente, enquanto o mundo reorganiza estruturas logísticas, reduz emissões e amplia sua resiliência energética. O porto segue sendo um dos motores vitais da economia brasileira – mas motores também envelhecem se não acompanharem a tecnologia.
Cada era revela seu sistema próprio, composto por forças econômicas, políticas e sociais que se reforçam. A modernização, quando ocorre de forma consistente, libera uma nova energia transformadora. A pergunta que Santos precisa enfrentar é se continuará reagindo ao futuro ou, finalmente, decidirá construí-lo.
José Antonio Marques Almeida
Engenheiro Civil especializado em Gestão Portuária








