Editorial | Coluna Dia a Dia
Os planos são ambiciosos, a lógica é válida, falta garantir os investimentos necessários à execução. Mas, fica o sinal para os setores de Logística ficarem atentos e colocarem nos seus radares, ao esboçarem cenários futuros: não é impossível que o próximo centro de referência logística do mundo se desloque para as profundezas da Amazônia. Se os grandes financiadores forem convencidos (e eles já estão sendo visitados), isso pode ocorrer dentro de bem poucos anos.
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Em fins de novembro, o governo acreano enviou uma comitiva oficial a Moscou para apresentar detalhes da proposta, a convite da Câmara Brasil-Rússia de Comércio, Indústria e Turismo.
E... qual a proposta? Criar “a Rota Quadrante Rondon, que liga o Brasil ao Pacífico pelo Acre, as atividades da economia local e a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) ... a fim de atrair indústrias de fertilizantes do país ao estado”, dentro do “novo cenário logístico que posiciona o Acre como elo de integração entre o Brasil, o Pacífico e a Ásia”.
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E qual a lógica desta logística? Os proponentes explicam: “Com a recente inauguração do porto de Chancay, no Peru, empreendimento de grande porte com conexão direta até Xangai, na China, o estado acreano consolida-se como um novo caminho de acesso à rota marítima entre a Ásia e a América do Sul. Essa infraestrutura instalada no país vizinho cria um fluxo mais curto, já que reduz o tempo de envio de produtos brasileiros ao mercado asiático em até 17 dias em comparação com as rotas utilizadas atualmente pelo Brasil.”
Por quê o Acre? “Por já dispor de infraestrutura rodoviária operante, posição geográfica privilegiada e ambiente logístico em consolidação. Além disso, o estado está concluindo a implantação da ZPE, área alfandegada que oferece incentivos especiais para instalação de empresas industriais exportadoras.”
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E mais: há grande potencial para importação de fertilizantes: Acre, Rondônia e Mato Grosso somam mais de 15 milhões de hectares plantados e dependem de fertilizantes importados. A Rússia fornece cerca de 50% dos insumos adquiridos pelo Brasil, equivalentes a mais de US$ 5 bilhões anuais.
Há ainda vantagens operacionais: proximidade com Peru, Bolívia, Amazônia Ocidental e Centro-Oeste. Mais de 35 milhões de pessoas vivem em um raio de 1.000 km da ZPE, configurando grande mercado consumidor.
Integrada por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre, Peru e Bolívia, a Rota Quadrante Rondon é uma das cinco Rotas de Integração Sul-Americana do Ministério do Planejamento. Seu objetivo é incentivar o comércio regional e ampliar a conexão com a Ásia.
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“O Acre entra definitivamente no mapa das grandes rotas internacionais. Mostramos que existe um corredor logístico real, competitivo e capaz de reposicionar o fluxo comercial entre América do Sul e Ásia”, declarou o titular da Seict, Assurbanípal Mesquita.
O otimismo é grande — até porque a Ferrovia Bioceânica passará por ali —, mas há uma nuvem de preocupação: a instabilidade política no Peru pode interromper acessos ao porto de Chancay e ao porto alternativo de Ilo.
Também devemos observar os reflexos das instabilidades na Venezuela e Colômbia. Como mostrou a guerra na Ucrânia, conflitos territoriais no século 21 seguem possíveis. Os EUA reforçam sua presença militar no Caribe, reacendendo tensões.
Para contrabalançar a Rota da Seda chinesa, os EUA começaram a promover a Doutrina Monroe 2.0, alterando profundamente o contexto geopolítico. Ao virar centro logístico global, o Acre também pode enfrentar riscos geopolíticos ainda maiores.
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Os planos chineses para a Ferrovia Bioceânica continuam. A economia russa, apesar das sanções, ultrapassou a brasileira e está novamente entre as dez maiores do mundo. Rússia e China podem se tornar parceiras do Brasil em projetos acreanos.
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O Acre tem longa história — ex-território boliviano comprado pelo Brasil nos primeiros anos da República, em negociações conduzidas por José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco.
O nome do projeto remete ao general e sertanista Cândido Rondon, descendente de indígenas e responsável por levar os fios do telégrafo pelas selvas brasileiras. Se o espírito pioneiro de Rondon e a diplomacia do Barão do Rio Branco se somarem, os horizontes podem ser muito promissores.
Ficamos na torcida para que tudo dê certo — que se realize a visão de um rio branco ligando Atlântico e Pacífico e ampliando a economia do extremo Norte do Brasil.
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Representantes do Acre apresentaram sua proposta de negócios em Moscou
Foto: cedida para divulgação via Agência de Notícias do Acre








