Opinião | Carlos Magano
Engenheiro Civil, ex-funcionário de carreira e ex-diretor de operação do Porto de Santos
O zoneamento atual e futuro do Saboó, Valongo e Outerinhos — O novo cenário diante da perspectiva do STS-10 e do Túnel
O desenho do maior porto da América Latina passa por um momento de redefinição crítica. Enquanto o aguardado leilão do megaterminal de contêineres STS-10 sofre novos adiamentos, o projeto de integração Porto-Cidade ganha velocidade com a consolidação do Parque Valongo e a iminente realocação do Terminal de Passageiros (Concais). Este cenário expõe o complexo xadrez entre eficiência logística, pressão de mercado e desenvolvimento turístico.
O STS-10 e o Compasso de Espera no Saboó
Considerado a joia da coroa para a expansão da capacidade de contêineres em Santos, o leilão do STS-10 foi oficialmente postergado para 2026. O projeto prevê investimentos na ordem de R$ 6,45 bilhões e um aumento de 50% na capacidade de movimentação de contêineres. No entanto, a indefinição persiste.
Informações recentes da mídia especializada indicam que o atraso decorre de análises pendentes no Tribunal de Contas da União (TCU) e de revisões estratégicas do Ministério de Portos e Aeroportos sobre a modelagem final do terminal. Enquanto isso, exportadores seguem pressionando o TCU, alertando para o risco iminente de gargalos logísticos caso o modelo de duas fases da Antaq não avance rapidamente.
No terreno, o Cais do Saboó já vive um processo de "limpeza" contratual para receber o futuro empreendimento. O terminal de suco cítrico da Cargill, por exemplo, já foi desativado. As áreas remanescentes operam sob contratos transitórios envolvendo empresas como Santos Brasil e BTP.
O caso do Ecoporto ilustra a transitoriedade: embora o arquivo de referência mencione operações até maio de 2026, atualizações da imprensa no final de 2024 confirmam a assinatura de contratos de transição mais curtos (180 dias renováveis), mantendo a operação ativa, mas sob constante revisão administrativa.
Túnel Santos-Guarujá e a Mudança do Concais
Se no Saboó o clima é de espera, na região do Valongo a transformação é visível. O fator determinante para essa mudança é o projeto do Túnel Santos-Guarujá. O traçado da obra exige a desocupação da área atual do Terminal de Passageiros (Concais), cuja operação pode ser inviabilizada durante a construção.
Diante disso, a transferência definitiva do terminal de passageiros para o Valongo deixou de ser apenas uma alternativa em estudo para se tornar uma diretriz central do Ministério e da Autoridade Portuária. O setor de cruzeiros, que vê Santos como o maior hub da América Latina, pressiona por garantias de que a infraestrutura estará pronta a tempo.
Valongo: De Armazéns a Polo Turístico
A região do Valongo, historicamente degradada, assume novo protagonismo. Parte da área foi cedida à Prefeitura de Santos via Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para a implantação do Parque Valongo.
Confirmando as previsões de revitalização dos Armazéns 4, 5 e 6, a primeira fase do Parque foi inaugurada em julho de 2024, abrindo o espaço ao público. O plano agora avança para integrar o novo terminal de passageiros aos armazéns adjacentes (especialmente o entorno do Armazém 5), consolidando a visão Porto-Cidade.
Riscos e Perspectivas
O adiamento das decisões estruturantes do STS-10 para além de 2026 gera um risco político considerável, podendo afetar a narrativa de eficiência do Governo Federal em anos eleitorais.
O Porto de Santos vive hoje um conflito de visões estratégicas: de um lado, o STS-10 como símbolo da abertura de mercado e eficiência de carga; do outro, o Valongo como o triunfo da visão turística e urbana. Com o Túnel Santos-Guarujá forçando a redefinição logística, o mercado aguarda os próximos lances deste jogo marcado por disputas políticas e indefinições administrativas.
Carlos Magano
Engenheiro Civil, ex-funcionário de carreira e ex-diretor de operação do Porto de Santos
