SÃO PAULO – Pela primeira vez desde que soube do indiciamento de Genival Inácio da Silva, Vavá, por tráfico de influência e exploração de prestígio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem o irmão mais velho, dizendo que ele está mais para “ingênuo” que para lobista. Comparando Vavá a um “lambari” que teria sido pego em meio a um “cardume de pintados” durante as investigações da Polícia Federal, Lula disse que duvida de qualquer participação do irmão em tráfico de influência e intermediação de favores junto ao governo.
O secretário estadual de Educação Superior, José Aristodemo Pinotti, disse ontem que os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) são “privilegiados” e “deveriam colocar a mão na consciência” para refletir sobre a invasão da reitoria. Para Pinotti, eles não deveriam reclamar tanto de moradia, alimentação ou outros subsídios porque já recebem esses benefícios em quantidade suficiente, diferentemente do que ocorre com os estudantes pobres de universidades particulares, que não têm direito a nada. “Acho que eles têm de abandonar essa causa inexistente, sair de lá e deixar a universidade trabalhar.”A criação pelo governo José Serra da secretaria chefiada por Pinotti foi um dos motivos para o início do movimento dos alunos. Eles acreditam que a pasta vai interferir na autonomia universitária e pedem a demissão do secretário. Apesar das declarações, Pinotti defende que o governo e a reitora Suely Vilela continuem dialogando com os estudantes.Pinotti participou ontem do evento “O desafio da educação para transformar o Brasil”, que reuniu 220 presidentes de empresas nacionais e multinacionais para fazer perguntas e homenagear o ministro da Educação, Fernando Haddad. Uma das questões formuladas ao ministro foi justamente sobre a situação na USP. “O governador estendeu a mão para o diálogo”, disse o ministro sobre o decreto declaratório. “Acredito que está havendo um amadurecimento disso na USP, lentamente, mas está ocorrendo. Esse gesto do governador precisa ser considerado em toda a sua plenitude”, completou Haddad, que também é professor da universidade.Os alunos que invadiram a reitoria há 41 dias faziam ontem à noite mais uma assembléia para decidir o rumo do movimento. Às 20 horas, a reunião ainda não havia terminado.O Sindicato dos Funcionários da USP (Sintusp) protocolou ontem na reitoria um pedido oficial de negociação com Suely Vilela. Segundo o presidente da entidade, Magno de Carvalho, a intenção é mostrar que o Sintusp não está criando um “impasse”. Eles aguardam agora a resposta.Ontem à noite, o Fórum das Seis, entidade que congrega as associações de funcionários e professores da USP, Unesp e Unicamp, se reuniu para discutir estratégias de negociação com os reitores, além da proposta de participar de ato conjunto do funcionalismo estadual, marcado para sexta-feira. A próxima rodada de negociações acontecerá na segunda-feira, em Campinas.A reunião do fórum foi acompanhada por um grupo de alunos da ocupação, que já dura 41 dias.AULASApesar do fim da greve dos professores na USP, algumas unidades não retomaram suas atividades normais ontem. Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), os alunos colocaram barricadas de carteiras e trancaram algumas salas para impedir que as aulas fossem dadas. Na única classe em que se via algum movimento no prédio de Letras, uma professora falava sobre “teatro político”, numa das atividades da greve discente.“Como acabou a greve dos professores, vim para cá achando que ia ter aula”, disse, frustrada, a estudante Patrícia Factore, de 20 anos. Ela encontrou sua sala trancada e, ontem pela manhã, estudava no corredor da faculdade. Professores da Letras disseram que não forçaram as aulas porque os alunos ainda estão em greve.Na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), as aulas eram normais. “Se a gente fizer greve aqui leva falta”, disse Thais Burin, de 19 anos. Segundo ela, há alunos na FEA que apóiam a paralisação dos estudantes e a luta pela autonomia, mas desaprovam a ocupação da reitoria. “Está certo lutar pela universidade, mas não é assim que se luta”, completou a estudante Ilana Bobrow, de 19 anos, também da FEA.
A tolerância com a jogatina em Mato Grosso do Sul, alvo principal da Operação Xeque-Mate, teve respaldo em uma lei estadual e uma contratação feita pelo governo Zeca do PT, em seu primeiro mandato (1999-2002). A informação é do delegado Marcelo Vargas Lopes, da Polícia Civil, que depôs ontem no inquérito sobre corrupção, contrabando, formação de quadrilha, tráfico de influência e exploração de prestígio envolvendo 79 empresários e lobistas, incluindo Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Dario Morelli Filho, amigo e compadre do presidente.“Bingo e caça-níquel não era uma política de repressão de segurança pública, mas uma política de governo”, declarou Vargas. O delegado é citado nos grampos feitos pela Polícia Federal, com autorização da Justiça. Ele atribui as menções ao seu nome à “raiva desse povo”. Vargas, que foi diretor da Delegacia Especializada de Ordem Política e Social (Deops), entre julho de 2003 e julho de 2006, acredita que é “alvo de retaliação, com certeza”.Os grampos revelam que a máfia dos caça-níqueis corrompia policiais para não ter as suas máquinas apreendidas e para obter informações antecipadas sobre repressão. Vargas é citado em uma conversa de Ari Silas Portugal, acusado de chefiar uma das cinco quadrilhas desbaratadas pela PF.Portugal aparece nas investigações como sócio do deputado estadual Coronel Ivan (PSB) - que foi comandante da PM na gestão Zeca do PT. Segundo a PF, Ivan, além de sócio, usava a sua influência dentro da corporação para favorecer o grupo e os seus negócios. Em um diálogo entre Portugal e um funcionário, gravado em 8 de março, ele sugere o envolvimento de Vargas no esquema: “Está do nosso lado.” Portugal parece confiante que suas máquinas não serão apreendidas e pede para o funcionário manter a casa de videobingo aberta. “Fala para ele deixar aberto lá, na nossa ninguém vai mexer não.” E explica: “Ele conhece o cara, tá no lugar do cara que tá do nosso lado. Os caras acho que não pagou lá... Mas não é para deixar levar nada. Só se tiver mandato da Federal, Civil não é para deixar levar não, nem Militar.”Para a PF, “ele” é Ivan, “o cara” é o delegado da Deops Fernando Augusto Soares Martins - preso na Operação Xeque-mate - e “o cara que tá do nosso lado” é Vargas.CONVÊNIOVargas confirmou ontem ter conversado com Ivan, mas nega ligação com o grupo investigado: “Realmente conversei com o Coronel Ivan várias vezes, mas foram contatos profissionais.” “Durante todo esse período em que fui titular da Deops, existia uma lei estadual que permitia a exploração das máquinas, inclusive a concessão para uma empresa de Campo Grande, que firmou convênio com a Lotesul”, declaro o delegado. “Era um problema de fiscalização, segundo as orientações de governo. Não era responsabilidade da Deops.”Segundo Vargas, com base na lei estadual do bingo, o governo Zeca do PT abriu uma licitação e contratou a Jana Promoções, do empresário Jamil Nami - cujo filho, Jamil Nami Filho, foi preso pela Xeque-Mate. “A polícia não tinha competência para fechar bingos”, afirma.O delegado diz que a “política de governo” ligada ao jogo ainda vigora: “Ou não existem banca de jogo do bicho na cidade?” Vargas supõe que foi alvo de vingança por ter comandado uma operação no norte do Estado, na qual foram apreendidos 76 caça-níqueis. A missão foi deflagrada depois que o jogo virou polêmica no governo e a Justiça cassou liminares favoráveis aos empresários.Procurado ontem, Zeca do PT não se manifestou sobre o caso.
O sistema de julgamento das greves em atividades não essenciais pelos Tribunais do Trabalho por meio de dissídio coletivo movido pela empresa, depois de frustradas todas as tentativas de negociação coletiva, vinha funcionando bem. Atenuava os inconvenientes da greve para os dois lados. As empresas sofrem prejuízos com a paralisação da produção. Os grevistas expõem-se aos riscos da perda dos salários dos dias parados e a tensão do conflito. Proposto o dissídio, o Tribunal fazia uma proposta de conciliação. Se não fosse aceita, passava a julgava os pleitos pendentes entre as partes. Com a sentença a greve tinha que terminar, reativando-se as atividades da empresa.
Os atrasos e cancelamentos de vôos que têm ocorrido nos aeroportos das Regiões Sudeste e Sul do País - especialmente em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre - se devem a fatores sazonais. Durante meses, os passageiros sofreram as conseqüências da greve branca feita pelos controladores de vôo. Agora, padecem os efeitos dos nevoeiros, que provocam o fechamento de aeroportos ou a sua operação com severas restrições. Em alguns aeroportos, nos últimos dias houve atrasos e cancelamentos em mais de 20% dos vôos programados. Os controladores já não estão fazendo greve branca e, no máximo dentro de dois meses, os nevoeiros voltarão a ser fenômenos isolados. Mas os passageiros terão de se acostumar a longas esperas nos saguões e nas salas de embarque dos aeroportos. O sistema aeroportuário brasileiro está saturado e isso se traduz em desconforto para os usuários do transporte aéreo.Isso não acontece apenas no Brasil. Nos Estados Unidos - o país que é geralmente citado como um exemplo de dinamismo e eficiência no setor - está acontecendo a mesma coisa. O sistema está saturado e qualquer perturbação climática provoca atrasos muito maiores do que os registrados, por exemplo, em São Paulo, por causa da diferença de escala do movimento de passageiros e aviões. Na terça-feira, por exemplo, houve atrasos de 70 minutos no Aeroporto de Boston, de 81 minutos em Newark, de 86 minutos no Kennedy, de 95 minutos no La Guardia e de 62 minutos no O’Hare, em Chicago. Nos primeiros quatro meses do ano, a média de atrasos foi de 24,5% dos vôos, a pior dos últimos 12 anos.A demanda de viagens aéreas está crescendo assustadoramente e há muitos anos. No Brasil, apesar da quebra da Transbrasil, da Vasp e da Varig, há um aumento de demanda de 12% ao ano. Esse crescimento se deve a fatores que vão do crescimento da economia com moeda estável até a entrada no mercado das companhias aéreas que oferecem serviço básico a preço baixo, passando pela globalização, que desglamourizou as viagens internacionais. Em resumo, as viagens aéreas tornaram-se triviais e baratas, ao alcance de um número cada vez maior de pessoas que há duas ou três décadas nem sonhariam entrar num avião. O resultado dessa convergência de fatores é a saturação da infra-estrutura aeroportuária. No Brasil, segundo estimativas da Infraero, o volume anual de passageiros, atualmente de 118 milhões, subirá para mais de 158 milhões em 2010 e para 200 milhões em 2018.Os principais aeroportos já não têm capacidade para tamanho movimento. Um relatório preliminar da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostra, por exemplo, que o Aeroporto de Congonhas, com uma capacidade para receber 12 milhões de passageiros por ano, recebe mais de 17 milhões. O de Brasília tem uma capacidade para 7,4 milhões, mas recebe cerca de 10 milhões de passageiros. Cumbica, com capacidade para 16,5 milhões de pessoas, está no limite. A construção de um terceiro terminal ampliará a capacidade para 28,5 milhões de passageiros, mas entre 2010 e 2015 a estimativa é que passem pelo aeroporto 30,7 milhões de passageiros. Os terminais de Vitória e Porto Seguro também estão saturados. Os de Curitiba, Salvador, Fortaleza e Cuiabá atingirão esse ponto dentro de dois ou três anos.Os pátios de aeronaves desses aeroportos também estão saturados - ou seja, não há mais espaço físico para receber os aviões a mais, necessários para atender à demanda.Os atuais planos de expansão da infra-estrutura aeroportuária são meros paliativos, que empurram a crise para a frente, por mais quatro ou cinco anos, no máximo. Isso se forem cumpridos. A Infraero estima em R$ 5,069 bilhões o custo da expansão dos 28 aeroportos mais críticos, mas disporá de apenas R$ 3,044 bilhões. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê dotação de R$ 2 bilhões, mas para 20 aeroportos. Já a Anac estima em mais de R$ 6,8 bilhões o total necessário para a expansão do sistema. Ou seja, exclusivamente com recursos públicos, a conta não fecha.Enquanto o governo continuar impedindo que a iniciativa privada - sob a forma de concessões ou de Parcerias Público-Privadas - invista na infra-estrutura aeroportuária, o passageiro sofrerá.