Quarta, 06 Agosto 2025

Editorial | Coluna Dia a Dia

Portogente

Numa guerra, a primeira vítima é sempre a Verdade. De um lado, atingida por bombas lançadas pelo clã golpista aliado a um presidente acusado de muitos crimes e que num país mais sério já poderia estar na cadeia (é ele mesmo, o ex-alaranjado...), pelas manobras nojentas de milicianos “patriotas” que querem submeter o Brasil com “fake news”, pintando cenários aterrorizantes que eles mesmos criam.

De outro, admiradores desse mesmo clã, descobrindo que são principais atingidos pelas bombas antes elogiadas, disfarçam seu constrangimento reposicionando-se como vítimas e aliados da população sofrida. Esquecem que muito podiam ter feito nas últimas décadas para evitar o nocaute econômico que agora choram.

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Sempre disseram nossos avós: nunca ponha todos os ovos num cesto só. O Brasil até que se libertou da monocultura colonial do açúcar, do algodão, depois do café. Mas setorialmente não aprendeu a negociar com parceiros externos, de forma a distribuir as vendas e reduzir os efeitos das crises (“volatilidades”!) do mercado internacional.

Ah, é mais fácil ampliar parcerias existentes que buscar novos parceiros e vender para ambos... Eis o resultado. Até nos EUA, escapam em meio ao noticiário as críticas de que a presença permanente de negociadores brasileiros é pífia, comparada aos concorrentes. Agora, atribuem a outros as consequências dos próprios erros. Vejamos isso acontecendo em alguns setores econômicos:

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A Abipesca lamenta perder o mercado estadunidense – maior destino das exportações de lagosta, pargo e atum, que representavam “praticamente 100% da produção” e exemplifica com o cancelamento de compra de 58 contêineres com pescado porque de navio chegariam após a vigência das novas tarifas! Na mesma notícia, a Fider Pescados, de Rifaina/SP, anuncia que enviou o produto por avião para chegar antes: agiu para apagar o incêndio, em vez de apenas se lamentar.

No ramo da carne bovina, a Minerva Foods estima que o impacto nas suas exportações será de “no máximo, 5% devido à diversificação geográfica das operações”. Com maior foco no valor agregado, a Marfrig até registrou alta de 6,38% num dia (10 de julho) no Ibovespa. Uns lamentam, outros agem para resolver, alguns até se previnem. Em meio à crise, os mais preparados até lucram.

Veja mais: Triangulação e outros mercados estão na rota do café

Outro setor que também está se mexendo é o cafeeiro, embora num caminho arriscado: quer esquecer o “made in Brazil” e colocar o produto nos EUA por meio de triangulação com México ou Colômbia. Não é possível recomendar essa tática, o mundo não é trouxa. Pelo menos, não ficaram parados lamentando “a perda de empregos”...

Curioso que tais empresários considerem mais fácil engabelar o importador que adaptar o produto ao gosto de potenciais clientes, garantindo justamente a diversificação que tanta falta lhes faz agora. Enquanto isso, muitas grandes indústrias há anos fabricam sob demanda e personalizando ao gosto de cada freguês: ele é que escolhe a cor, o formato, o material. Difícil, não?

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Os EUA tentaram blefar no mercado chinês com “sua” soja “Made in Argentina”. Os chineses devolveram o produto. Como também descobriram em maio a farsa do petróleo venezuelano “Made in Brasil”. Eles preferem produtos originais do Brasil...

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Enfim, cada setor precisa encontrar os próprios caminhos. Eles existem, mesmo com os EUA tentando sumir do mapa econômico mundial. Mirando nos outros países, Trump finge não ver que seu tiro está saindo pela culatra.

O mundo está aprendendo a desconfiar e a se proteger desses tiros, o empresariado brasileiro que faça o mesmo. Corra para aproveitar a chance de ser justamente o novo parceiro de economias que não querem depender dos EUA e se abrem a novos relacionamentos – são muitas, é só ler as notícias. Aliás, procurem: não é só a China, que até se propõe a substituir os EUA como parceira de grandes negócios e investimentos no Brasil.

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Nessa história de tarifaços, a Águia mostra suas garras. Quer muito nossos minérios de alto valor, mas desdenha e ameaça, para forçar a entrega a preço vil, apostando que não perceberemos a importância estratégica e econômica de seu potencial. Aposta que “patriotas” entreguistas lhe farão mais esse favor. Cega às mudanças, imagina que o mundo preferirá “perder menos” a enfrentar a fúria do “Grande Irmão Tio Sam”.

Fique o leitor atento, o vento mudou de direção, expondo o truque ianque de rebaixar os outros para que não percebam o crescente nanismo dos EUA. Não conseguem ser “verdes”, combatem a moderna economia sustentável. Com economia sendo sufocada pelas dívidas crescentes, querem nivelar o mundo por baixo. Sabem que “não é preciso ser o coelho mais rápido, basta que seja mais veloz que outro animal que satisfaça o apetite do leão”...

Enfim, talvez o ex-alaranjado (sim, mudou a cor da sua maquiagem para marrom...) tenha feito um grande favor, mostrando nossas fragilidades emocionais e econômicas (e as deles...). Oportunidade rara para corrigir isso. Muitas das grandes invenções surgiram pelas necessidades da guerra. Então, que a guerra comercial-política sirva para destravar e alavancar todo o potencial deste país “abençoado por Deus”...

especial51 Os EUA perdem em não nos querer: podemos ganhar o mundo
Ilustração: inteligência natural brasileira, com imagens livres na Internet

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