Os atrasos e cancelamentos de vôos que têm ocorrido nos aeroportos das Regiões Sudeste e Sul do País - especialmente em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre - se devem a fatores sazonais. Durante meses, os passageiros sofreram as conseqüências da greve branca feita pelos controladores de vôo. Agora, padecem os efeitos dos nevoeiros, que provocam o fechamento de aeroportos ou a sua operação com severas restrições. Em alguns aeroportos, nos últimos dias houve atrasos e cancelamentos em mais de 20% dos vôos programados.
Os controladores já não estão fazendo greve branca e, no máximo dentro de dois meses, os nevoeiros voltarão a ser fenômenos isolados. Mas os passageiros terão de se acostumar a longas esperas nos saguões e nas salas de embarque dos aeroportos. O sistema aeroportuário brasileiro está saturado e isso se traduz em desconforto para os usuários do transporte aéreo.
Isso não acontece apenas no Brasil. Nos Estados Unidos - o país que é geralmente citado como um exemplo de dinamismo e eficiência no setor - está acontecendo a mesma coisa. O sistema está saturado e qualquer perturbação climática provoca atrasos muito maiores do que os registrados, por exemplo, em São Paulo, por causa da diferença de escala do movimento de passageiros e aviões. Na terça-feira, por exemplo, houve atrasos de 70 minutos no Aeroporto de Boston, de 81 minutos em Newark, de 86 minutos no Kennedy, de 95 minutos no La Guardia e de 62 minutos no O’Hare, em Chicago. Nos primeiros quatro meses do ano, a média de atrasos foi de 24,5% dos vôos, a pior dos últimos 12 anos.
A demanda de viagens aéreas está crescendo assustadoramente e há muitos anos. No Brasil, apesar da quebra da Transbrasil, da Vasp e da Varig, há um aumento de demanda de 12% ao ano. Esse crescimento se deve a fatores que vão do crescimento da economia com moeda estável até a entrada no mercado das companhias aéreas que oferecem serviço básico a preço baixo, passando pela globalização, que desglamourizou as viagens internacionais. Em resumo, as viagens aéreas tornaram-se triviais e baratas, ao alcance de um número cada vez maior de pessoas que há duas ou três décadas nem sonhariam entrar num avião.
O resultado dessa convergência de fatores é a saturação da infra-estrutura aeroportuária. No Brasil, segundo estimativas da Infraero, o volume anual de passageiros, atualmente de 118 milhões, subirá para mais de 158 milhões em 2010 e para 200 milhões em 2018.
Os principais aeroportos já não têm capacidade para tamanho movimento. Um relatório preliminar da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostra, por exemplo, que o Aeroporto de Congonhas, com uma capacidade para receber 12 milhões de passageiros por ano, recebe mais de 17 milhões. O de Brasília tem uma capacidade para 7,4 milhões, mas recebe cerca de 10 milhões de passageiros. Cumbica, com capacidade para 16,5 milhões de pessoas, está no limite. A construção de um terceiro terminal ampliará a capacidade para 28,5 milhões de passageiros, mas entre 2010 e 2015 a estimativa é que passem pelo aeroporto 30,7 milhões de passageiros. Os terminais de Vitória e Porto Seguro também estão saturados. Os de Curitiba, Salvador, Fortaleza e Cuiabá atingirão esse ponto dentro de dois ou três anos.
Os pátios de aeronaves desses aeroportos também estão saturados - ou seja, não há mais espaço físico para receber os aviões a mais, necessários para atender à demanda.
Os atuais planos de expansão da infra-estrutura aeroportuária são meros paliativos, que empurram a crise para a frente, por mais quatro ou cinco anos, no máximo. Isso se forem cumpridos. A Infraero estima em R$ 5,069 bilhões o custo da expansão dos 28 aeroportos mais críticos, mas disporá de apenas R$ 3,044 bilhões. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê dotação de R$ 2 bilhões, mas para 20 aeroportos. Já a Anac estima em mais de R$ 6,8 bilhões o total necessário para a expansão do sistema. Ou seja, exclusivamente com recursos públicos, a conta não fecha.
Enquanto o governo continuar impedindo que a iniciativa privada - sob a forma de concessões ou de Parcerias Público-Privadas - invista na infra-estrutura aeroportuária, o passageiro sofrerá.
Fonte: O Estado de S.Paulo - 11 JUN 07