Editorial | Coluna Dia a Dia
Portogente
Mr. Ex-Orange, tem esta mensagem o objetivo de lhe agradecer. Sim, em apenas sete meses, fez enorme favor ao mundo. Mesmo por vias travessas (nos sentidos de transversais, ilícitas ou de atos praticados por pessoas que gostam de fazer travessuras), ensinou a todos o que fazer e principalmente o que não fazer. Sentimos apenas que não aprendeu as próprias lições que tanto enfatiza.
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Quando os EUA bloquearam a recepção de sinais GPS para o navio ‘Yinhe’, em 9/1993, os chineses literalmente abriram os olhos para o perigo e trataram de criar seu sistema de geolocalização por satélites: o BeiDou, lançado em 27/12/2018. A Europa criou o Galileo, a Rússia o Glonass, a Índia o IRNSS/Navic, o Japão reforçou o sistema com o QZSS...
Então, sua recente ameaça de desligar o GPS, com mais prejuízo às empresas estadunidenses, passou de ridícula a inócua. A maioria absoluta dos telefones celulares desde 2022 sai de fábrica (pelo menos no Brasil) pronta para trocá-lo pelos sinais alternativos. E seu ex-pupilo Musk combinou com a Telefónica de España o uso gratuito do Starlink em lugares do Brasil não alcançados pela telefonia convencional.
Lição aprendida. Ah, faça-nos o favor de desligar o Windows, soubemos que o HarmonyOS da China é muito bom, sem aqueles milhares de “bugs”...
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Os EUA defenderam a globalização, taxando de esquerdista/comunista quem pensasse diferente. Seu governo, Mr. TACO, descobriu que a globalização é péssima para a geopolítica ianque. Tudo bem. Ah, legal o seu pragmatismo em negociar petróleo com o sr. Maduro. Virou comunista, presidente? Avise seu cachorrinho para não latir quando o venezuelano chegar. Não precisamos mais temer invasões comunistas...
Suas atitudes recentes, longe de resolver problemas, isolarão seu país do “resto” do mundo. Uma ‘débâcle’ começa bruscamente, porém não é consumada necessariamente logo depois. Ainda assim, parece que os números mais recentes de sua economia dão sinais preocupantes.
Mas, sabemos também que já encontrou a solução. Demitir o carteiro que lhe traz más notícias é genial... Graças a isso, ficaremos mais atentos aos números do seu novo United States Bureau of Alternative Statistics...
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Sabemos que, com sua agenda cheia de blefes no golfe e na Casa Branca, não lhe sobra tempo para ler Paul Kennedy ou Paul Strathern, sobre ascensões e quedas, mas... pergunte ao seu ilustre economista Paul Krugman o que ele pensa do “seu” império.
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Entendemos sua loucura por tarifas que reencham o esvaziado Tesouro Americano. Após tantas novas atribulações, parece justo que seus concidadãos recebam de volta os trocados rejeitados por seus amigos bilionários. Mas, precisava cobrar até US$ 15 mil por um papelzinho inútil chamado “visto de turista/negócios”?
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Será outra medida inócua. O mundo sabe que Disneylândia tem na França e no Japão; há bons cassinos em Montecarlo, Ciudad del Este e em águas internacionais. Negócios são coisa do passado. E, para passar fome, sem café, hamburger, suco de laranja, ovos etc., ninguém precisa ir aos EUA.
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Ah, aceite nosso convite e venha ver como é produzido de modo sustentável o café, cuja compra a China anunciou nestes dias que vai ampliar muito. E nossa carne bovina, de que o México virou segundo maior importador, superando os EUA. Ok, ignore a palavra “sustentável”, até porque ficará supérflua (como a sua economia), como (não) lhe dirão seus agricultores e industriais MAGA. Ou os que fabricam seus bonés...
E não se preocupe: a base da nossa energia não são big-ventiladores que enfeiam a paisagem (nem minas de carvão que deixam tudo lindamente escuro e poluído). Temos hidrelétricas, energia verde, muito petróleo (soube das novas descobertas?), até carvão (muito caro), energia eólica e solar... Taí, até podemos lhe ensinar algo: já ouviu falar de quitosana?
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Soubemos de seu interesse em terras raras, lítio e tal. Pena que boa parte da nossa produção futura já foi comprada por outros países. Mas, se tiver uma proposta legal, podemos incluí-lo na fila de interessados, “no problem”.
Claro, Mr. Orange, não esperávamos seus ensinamentos diários: vamos correndo fazer a lição de casa, levando nosso apetitoso peixe, nosso saboroso açaí e nossa deliciosa manga para outros lugares. Até pensamos numa linha de sapatos de golfe com salto alto, mas só teríamos um comprador, então ajustaremos nossa produção calçadista a outros mercados. Demora um pouquinho, mas bem menos que consertar os EUA.
Ah, valeu aquela sua dica sobre dolarização. Na verdade, nem precisamos agir, o tempo e seus financiadores tratarão de criar outra Bretton Woods.
Agradecemos profundamente pelo seu interesse em tutelar nossas questões internas (e ainda mais por hospedar longe daqui certas criaturas), mesmo com sua ojeriza a imigrantes (a propósito: parabéns por livrar seus eleitores da exploração do trabalho escravo).
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Compreendemos que as questões superiores e urgentes de seu grande país (que coisa, né, aquela história de Epstein...?) não lhe deixarão (muito tempo) livre para cuidar do mundo. Portanto, relaxe: dos nossos assuntos internos, pode deixar que cuidaremos, neste país tropical abençoado por Deus.
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Bem, o papo está bom mas precisamos encerrar. Esta cartinha vai ficando longa e os canadenses e mexicanos estão tocando nossa campainha...
Interessante. Falta ver se o mundo confiará em “estatísticas alternativas”...
Imagem: Goris/creativemarketing.com.au/Threads/Quora etc.