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As mudanças trazidas pela globalização no mundo se acentuarão até o final deste século e vão beneficiar principalmente os países asiáticos, que devem criar um novo capitalismo, menos predatório. O Brasil estará fora do batalhão de frente dessa nova realidade, por ainda ser um país fechado ao comércio internacional.
A análise é do professor Ernesto Lozardo, da Fundação Getúlio Vargas, que está lançando o livro "Globalização - A Certeza Imprevisível das Nações". Ele trata desse tema em entrevista ao programa Panorama do Brasil , apresentado pelo jornalista Roberto Müller e exibido nesta segunda-feira pela TVB. Também participaram da entrevista os jornalistas Theo Carnier, editor de Indústria do DCI, e Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Roberto Müller: No seu livro sobre globalização não há uma contradição no subtítulo, "a certeza imprevisível das nações"?
Ernesto Lozardo: Minha preocupação foi entender o desenvolvimento do século XXI. Acho que está claro no meu livro para onde caminhamos, em que dimensão a globalização, no melhor dos sentidos seria o capitalismo global, pode assegurar uma prosperidade para todas as nações. Acho que ele não assegura ainda esta tranqüilidade e, portanto, a imprevisibilidade desse capitalismo global não se encontra nas grandes nações, nos países mais desenvolvidos, mas nos menos desenvolvidos. A imprevisibilidade está relacionada à má distribuição da renda mundial, há um grande grau de pobreza no mundo. Ou seja, ou o capitalismo dá uma resposta clara de solução para dois terços da humanidade mais pobre, para aqueles que ganham menos de dois dólares por dia na sociedade mundial ou não vamos ter também o capitalismo. Então a imprevisibilidade significa a não-resposta à situação das nações mais pobres.
Roberto Müller: Mas a quem compete dar essas respostas ?
Ernesto Lozardo: Todas as empresas têm o objetivo do lucro. A imprevisibilidade não está por conta das empresas, mas muito mais por conta das instituições internacionais, a OMC (Organização Mundial do Comércio), o Banco Mundial, o papel do Fundo Monetário Internacional, e dos governos. O mundo passa, ou passará, por uma situação de convergência de objetivos das instituições internacionais que respondem por dar uma ordem global, no comércio, nas leis, ordens ambientais, de direitos humanos, quer dizer, a predominância dessas normas ou regulamentações gerais do mundo com vistas ao mundo ter um clima mais pacífico de convivência. Os governos terão que se adequar a isso, ou seja, que a sociedade tenha conta de participar do capitalismo global. Hoje temos uma curiosidade muito grande com relação à China. O governo chinês assumiu como modo de produção o capitalismo, mas como política interna é comunismo. Mas no meu entender o comunismo vai desaparecendo gradualmente da China, na medida em que o capitalismo vá se impondo dentro da cultura chinesa. É uma questão de tempo. A dimensão do governo chinês é ser um país líder dentro do comércio internacional. Agora, nem todos têm as mesmas condições da China.
Milton Paes: No livro, o senhor deixa claro a necessidade de o capitalismo mudar essa questão social?
Ernesto Lozardo: O capitalismo muda sim, e muda muito mais por um regionalismo asiático. Poucos economistas estão entendendo o que está acontecendo nesse novo regionalismo asiático. Acho que a Ásia traz para o mundo coisas importantes. A Ásia tem uma relação entre os próprios países da região, são trinta e poucos países, e toda a relação é fundamentada nos valores étnicos e culturais. É por aí que as coisas começam na Ásia, não é meramente pelo lucro, mas pelas relações étnicas e culturais, pela confiabilidade, pela consciência de relacionamento. É histórico isso. O que ela traz para o mundo é um capitalismo diferente, não é um capitalismo do olho por olho, dente por dente. Esse capitalismo acabou. Este é o capitalismo norte-americano. O que vem no mundo do século XXI é o capitalismo co-responsável, no qual as nações desenvolvidas e menos desenvolvidas terão a responsabilidade da inserção dos seus cidadãos, da sua população, no acesso a tudo o que o mundo oferece de consumo.
Roberto Müller: Mas isso é possível, professor?
Ernesto Lozardo: O mundo caminha para isso. Caminhamos nessa direção e acho que as pedras estão colocadas. Não é só na Organização Mundial do Comércio que isso acontece, mas temos também as questões ambientais, de saúde pública, de meio ambiente, de combate ao terrorismo, de uma segurança militar mundial. Ocorre em nível global, não é mais em nível de nações. Então o homem do século XXI é um outro homem, é uma outra sociedade. A nova sociedade chama-se a era do conhecimento, que é diferente da era industrial, e é tão importante quanto foi a era industrial. O impacto é grande. É acesso a todos, a tudo o que se oferece no mundo.
Theo Carnier: Como o senhor vê a posição do Brasil nesse contexto?
Ernesto Lozardo: O Brasil não ficará tão bem quanto os asiáticos, quanto qualquer país asiático. Não ficará tão bem quanto Tailândia, Malásia ou a China.O Brasil está ainda num processo de identificar o seu modelo de crescimento. O Brasil por muitas décadas oscilou entre crescer para dentro e crescer para fora. Quer dizer, vamos crescer abrindo a economia ou vamos crescer primeiro olhando a economia doméstica. Nunca foi muito claro o modelo brasileiro. Mas, de qualquer maneira, o Brasil, entre os países da América do Sul, é o país mais bem preparado, que está mais bem instrumentado para fazer face a esse capitalismo global.
Roberto Müller: O senhor prevê uma participação mais intensa do Estado no capitalismo que o senhor tem em mente?
Ernesto Lozardo: O papel do governo não é assistencialista. Isso é terrivelmente perigoso. Não basta dar inclusão social, tem que dar ascensão social. Se você dá inclusão social sem ascensão social tem a humilhação social, que é muito pior. Essa história de dar inclusão social por cesta básica ou por dar uma educação de péssima qualidade não inclui ninguém a lugar nenhum. Você tem que dar ascensão social, essa condição é que tem que ser criada. O papel do governo é fundamental. Mas de que forma? Acho que tem que assegurar a competitividade de todo o comércio e da industria brasileira. Tem que ter um tamanho adequado às cidades, de competição global, redução de carga tributária. E ter um país com uma infra-estrutura adequada à globalização. A globalização exige infra-estrutura de alta qualidade de comunicação, de transporte, de oferta de energia. O Brasil ainda está buscando esse modelo, de parceria com o setor privado. Há mais de quarenta anos, a China de Mao já descobriu a globalização. O Brasil agora está começando a visualizar que a globalização é importante. Mas não tem os fundamentos para isso ainda. Falta uma melhor distribuição da renda, um governo mais eficiente, uma carga tributária menor e estar mais competitivo na indústria e no comércio em nível global.
Roberto Müller: Questões como sustentabilidade e governança corporativa, que ganharam importância recentemente, vieram para ficar ou trata-se apenas de uma pequena nuvem, que não traz nada consistente?
Ernesto Lozardo: Vieram para ficar. Há nesse livro um capítulo específico sobre o papel das multinacionais e das empresas, a governança se trata de uma governança global, o processo de produção, a cultura empresarial, deixa de ser nacional, é global.
Robero Müller: As normas contábeis tendem a ser universais.
Ernesto Lozardo: Exato. As leis que regem o comércio são globalizadas, e eu dei um passo além nesse meu trabalho quando falo da questão humana. O talento humano dentro dessa globalização é um outro talento. O século XXI exigirá a formação de novos talentos da administração que não é a administração da era industrial. Estamos na era da informática, da internet. Você não precisará estar na sua empresa para produzir naquela empresa, a empresa é que irá até você. Você poderá estar em qualquer lugar do mundo produzindo um bem comum para uma empresa determinada. Então os currículos das universidades, das escolas de administração, engenharia, terão que ser mudados e estão sendo mudados no mundo de maneira muito rápida, para se adequar a esse novo cenário. Há mudanças de valores muito grandes, e esses valores dizem o seguinte: no século XXI o homem passa a ser o centro do mundo de novo, não é mais a instituição ou os governos, ou a indústria, é o homem. E isso é importantíssimo. Quer dizer, isso muda o foco da prosperidade global, não será mais institucional, mas humano. O que está em jogo é atender os desejos humanos, de ter acesso a tudo que se produz no mundo. Este é o desafio. Quer dizer, a queda de barreiras não se trata só de queda de barreiras comerciais, mas é a queda de barreiras culturais, técnicas.
Roberto Müller: As pessoas anseiam cada vez mais, e isso é primordial no sentido de se atingir esse modelo de globalização.
Ernesto Lozardo: As pessoas querem é ter acesso. Não importa se é um africano, da Mongólia, um alagoano, um malaio, um americano, não importa. Todos querem ter acesso a tudo o que se produz no mundo. De repente o mundo está aberto a todos. Aberto não só a acesso a bens de consumo. Acesso às culturas que estão no mundo. Então as distâncias não só ficaram curtas em comunicação, mas as diferenças culturais reduziram muito. Esta é a grande mudança que temos no mundo. As empresas estão preparadas para enfrentar essa mudança de paradigmas mundiais. Estamos hoje abertos a tudo e a todos. Agora, o que a humanidade quer? Estar mais bem preparada. Sabe o que é isso? É educação, cultura, talento para fazer parte desses desafios do século XXI.
Milton Paes: Como foi possível a mudança tão rápida da China, do comunismo para o capitalismo?
Ernesto Lozardo: A disputa entre Mao e Deng Xiaoping foi no sentido de como promover a justiça social. Mao tinha uma idéia mais institucional e Deng Xiaoping tinha uma mais comercial O primeiro tom da reforma de 1978 de Deng Xiaoping foi de liberalizar os preços agrícolas internos. O Estado não mais passou a comprar, a demandar os produtos agrícolas. O agricultor teve que buscar o mercado regionalmente. Resumo da história: os agricultores chineses ficaram ricos. Foi aí que apareceu o lucro, a eficiência, a produtividade e a distribuição. Mas nesse meu trabalho eu analiso outros países, que serão os eixos do século XXI na economia mundial, que é a Coréia do Sul, Índia, China, a União Européia e os Estados Unidos. São os eixos.
Roberto Müller: O Brasil está fora?
Ernesto Lozardo: O Brasil está fora do eixo da prosperidade global. O País, primeiro, é pouco expressivo no comércio mundial. Ele representa não mais do que 1,1% das exportações mundiais. Para vocês terem uma idéia, a China, em 1977, representava 0,6% das exportações mundiais. O Brasil representava já 1%. O Brasil continua com esse 1% e a China representa hoje 9% das exportações mundiais, tendendo a 12% até 2010.
Theo Carnier : Mas o Brasil tem crescido bastante nessa área de comércio exterior.
Ernesto Lozardo: O Brasil cresceu porque os preços internacionais cresceram, não porque exportamos mais. Nós exportamos, mas a gente precisa notar que o eixo das exportações brasileiras se deve a commodities demandadas pelos asiáticos, pela China principalmente. E que os preços cresceram muito. De 1990 até 2007, o preço das commodities do mundo cresceram 70%. Nossas exportações cresceram 400% em termos de volume e preço. Então estamos surfando com o mundo. Melhoramos, mas estamos longe de chegar em 2010 ao que o Brasil já exportou em 1948, quando o Brasil teve uma participação de 2,8% das exportações mundiais. Era café.
Roberto Müller: O senhor acha que um eventual ajuste estrutural da economia norte-americana em decorrência dos déficits gêmeos acelerará ou retardará esse novo capitalismo?
Ernesto Lozardo: Eu tinha certeza que ia terminar esse meu livro com um último capítulo com uma coisa apoteótica. O sucesso do capitalismo nas mãos dos americanos, o que foi uma grande surpresa e de preocupação. Mas economia que mais coloca hoje o mundo numa possível desacelerando econômica são os norte-americanos. A economia norte-americana ela hoje vive um desequilíbrio muito grande e provoca um desequilíbrio muito grande no mundo. Por ser país rico, ele que deveria estar investindo o seu capital nos países pobres ou pelo menos estar ofertando o seu capital aos países pobres. E está acontecendo o contrário. São os países emergentes que estão que estão financiando os Estados Unidos. Inverteu o fluxo. Coloco no livro que a economia americana, dentro de alguns anos, acho que até a partir de 2010, passará por um ajuste fiscal grande, e isso significa um ajuste no fluxo de capital internacional. Os americanos, na verdade, estão em uma situação, em termos macroeconômicos, muito delicada. Primeiro, o nível de investimento é alto e a poupança está caindo há quarenta anos. Por outro lado, a família americana está muito endividada. A dívida total americana, está em torno de US$ 40 trilhões é o tamanho do PIB mundial.
Roberto Müller: E o que o senhor preconiza para o Brasil?
Ernesto Lozardo: Esse ajuste deve acontecer dentro de três anos. O Brasil está muito melhor preparado para enfrentar a crise. Os fundamentos da economia brasileira são robustos. O que nos atrapalha é a carga tributária e um possível apagão energético no Brasil. Então, o que atrapalha o Brasil é o governo central, é o governo federal. No mais, tudo está bem arrumado, nos outros segmentos. Houve o combate à inflação de forma eficiente, o Brasil está muito próximo a ter o investment grade no mercado internacional.
Theo Carnier: Como desatar os nós da carga tributária e da infra-estrutura?
Ernesto Lozardo: É na sociedade. Acho que o Congresso brasileiro está ciente da ausência da reforma tributária, por um lado. Por outro o governo também tem uma índole dos gastos.Temos uma conjunção de duas irresponsabilidades, do Congresso e do governo, do Executivo. Por mais que tenhamos a Lei Fiscal, ela ainda é pouco robusta para ajustar os governos, no tocante aos seus gastos mais eficientes.
Fonte: DCI - 30 JUL 07
A análise é do professor Ernesto Lozardo, da Fundação Getúlio Vargas, que está lançando o livro "Globalização - A Certeza Imprevisível das Nações". Ele trata desse tema em entrevista ao programa Panorama do Brasil , apresentado pelo jornalista Roberto Müller e exibido nesta segunda-feira pela TVB. Também participaram da entrevista os jornalistas Theo Carnier, editor de Indústria do DCI, e Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Roberto Müller: No seu livro sobre globalização não há uma contradição no subtítulo, "a certeza imprevisível das nações"?
Ernesto Lozardo: Minha preocupação foi entender o desenvolvimento do século XXI. Acho que está claro no meu livro para onde caminhamos, em que dimensão a globalização, no melhor dos sentidos seria o capitalismo global, pode assegurar uma prosperidade para todas as nações. Acho que ele não assegura ainda esta tranqüilidade e, portanto, a imprevisibilidade desse capitalismo global não se encontra nas grandes nações, nos países mais desenvolvidos, mas nos menos desenvolvidos. A imprevisibilidade está relacionada à má distribuição da renda mundial, há um grande grau de pobreza no mundo. Ou seja, ou o capitalismo dá uma resposta clara de solução para dois terços da humanidade mais pobre, para aqueles que ganham menos de dois dólares por dia na sociedade mundial ou não vamos ter também o capitalismo. Então a imprevisibilidade significa a não-resposta à situação das nações mais pobres.
Roberto Müller: Mas a quem compete dar essas respostas ?
Ernesto Lozardo: Todas as empresas têm o objetivo do lucro. A imprevisibilidade não está por conta das empresas, mas muito mais por conta das instituições internacionais, a OMC (Organização Mundial do Comércio), o Banco Mundial, o papel do Fundo Monetário Internacional, e dos governos. O mundo passa, ou passará, por uma situação de convergência de objetivos das instituições internacionais que respondem por dar uma ordem global, no comércio, nas leis, ordens ambientais, de direitos humanos, quer dizer, a predominância dessas normas ou regulamentações gerais do mundo com vistas ao mundo ter um clima mais pacífico de convivência. Os governos terão que se adequar a isso, ou seja, que a sociedade tenha conta de participar do capitalismo global. Hoje temos uma curiosidade muito grande com relação à China. O governo chinês assumiu como modo de produção o capitalismo, mas como política interna é comunismo. Mas no meu entender o comunismo vai desaparecendo gradualmente da China, na medida em que o capitalismo vá se impondo dentro da cultura chinesa. É uma questão de tempo. A dimensão do governo chinês é ser um país líder dentro do comércio internacional. Agora, nem todos têm as mesmas condições da China.
Milton Paes: No livro, o senhor deixa claro a necessidade de o capitalismo mudar essa questão social?
Ernesto Lozardo: O capitalismo muda sim, e muda muito mais por um regionalismo asiático. Poucos economistas estão entendendo o que está acontecendo nesse novo regionalismo asiático. Acho que a Ásia traz para o mundo coisas importantes. A Ásia tem uma relação entre os próprios países da região, são trinta e poucos países, e toda a relação é fundamentada nos valores étnicos e culturais. É por aí que as coisas começam na Ásia, não é meramente pelo lucro, mas pelas relações étnicas e culturais, pela confiabilidade, pela consciência de relacionamento. É histórico isso. O que ela traz para o mundo é um capitalismo diferente, não é um capitalismo do olho por olho, dente por dente. Esse capitalismo acabou. Este é o capitalismo norte-americano. O que vem no mundo do século XXI é o capitalismo co-responsável, no qual as nações desenvolvidas e menos desenvolvidas terão a responsabilidade da inserção dos seus cidadãos, da sua população, no acesso a tudo o que o mundo oferece de consumo.
Roberto Müller: Mas isso é possível, professor?
Ernesto Lozardo: O mundo caminha para isso. Caminhamos nessa direção e acho que as pedras estão colocadas. Não é só na Organização Mundial do Comércio que isso acontece, mas temos também as questões ambientais, de saúde pública, de meio ambiente, de combate ao terrorismo, de uma segurança militar mundial. Ocorre em nível global, não é mais em nível de nações. Então o homem do século XXI é um outro homem, é uma outra sociedade. A nova sociedade chama-se a era do conhecimento, que é diferente da era industrial, e é tão importante quanto foi a era industrial. O impacto é grande. É acesso a todos, a tudo o que se oferece no mundo.
Theo Carnier: Como o senhor vê a posição do Brasil nesse contexto?
Ernesto Lozardo: O Brasil não ficará tão bem quanto os asiáticos, quanto qualquer país asiático. Não ficará tão bem quanto Tailândia, Malásia ou a China.O Brasil está ainda num processo de identificar o seu modelo de crescimento. O Brasil por muitas décadas oscilou entre crescer para dentro e crescer para fora. Quer dizer, vamos crescer abrindo a economia ou vamos crescer primeiro olhando a economia doméstica. Nunca foi muito claro o modelo brasileiro. Mas, de qualquer maneira, o Brasil, entre os países da América do Sul, é o país mais bem preparado, que está mais bem instrumentado para fazer face a esse capitalismo global.
Roberto Müller: O senhor prevê uma participação mais intensa do Estado no capitalismo que o senhor tem em mente?
Ernesto Lozardo: O papel do governo não é assistencialista. Isso é terrivelmente perigoso. Não basta dar inclusão social, tem que dar ascensão social. Se você dá inclusão social sem ascensão social tem a humilhação social, que é muito pior. Essa história de dar inclusão social por cesta básica ou por dar uma educação de péssima qualidade não inclui ninguém a lugar nenhum. Você tem que dar ascensão social, essa condição é que tem que ser criada. O papel do governo é fundamental. Mas de que forma? Acho que tem que assegurar a competitividade de todo o comércio e da industria brasileira. Tem que ter um tamanho adequado às cidades, de competição global, redução de carga tributária. E ter um país com uma infra-estrutura adequada à globalização. A globalização exige infra-estrutura de alta qualidade de comunicação, de transporte, de oferta de energia. O Brasil ainda está buscando esse modelo, de parceria com o setor privado. Há mais de quarenta anos, a China de Mao já descobriu a globalização. O Brasil agora está começando a visualizar que a globalização é importante. Mas não tem os fundamentos para isso ainda. Falta uma melhor distribuição da renda, um governo mais eficiente, uma carga tributária menor e estar mais competitivo na indústria e no comércio em nível global.
Roberto Müller: Questões como sustentabilidade e governança corporativa, que ganharam importância recentemente, vieram para ficar ou trata-se apenas de uma pequena nuvem, que não traz nada consistente?
Ernesto Lozardo: Vieram para ficar. Há nesse livro um capítulo específico sobre o papel das multinacionais e das empresas, a governança se trata de uma governança global, o processo de produção, a cultura empresarial, deixa de ser nacional, é global.
Robero Müller: As normas contábeis tendem a ser universais.
Ernesto Lozardo: Exato. As leis que regem o comércio são globalizadas, e eu dei um passo além nesse meu trabalho quando falo da questão humana. O talento humano dentro dessa globalização é um outro talento. O século XXI exigirá a formação de novos talentos da administração que não é a administração da era industrial. Estamos na era da informática, da internet. Você não precisará estar na sua empresa para produzir naquela empresa, a empresa é que irá até você. Você poderá estar em qualquer lugar do mundo produzindo um bem comum para uma empresa determinada. Então os currículos das universidades, das escolas de administração, engenharia, terão que ser mudados e estão sendo mudados no mundo de maneira muito rápida, para se adequar a esse novo cenário. Há mudanças de valores muito grandes, e esses valores dizem o seguinte: no século XXI o homem passa a ser o centro do mundo de novo, não é mais a instituição ou os governos, ou a indústria, é o homem. E isso é importantíssimo. Quer dizer, isso muda o foco da prosperidade global, não será mais institucional, mas humano. O que está em jogo é atender os desejos humanos, de ter acesso a tudo que se produz no mundo. Este é o desafio. Quer dizer, a queda de barreiras não se trata só de queda de barreiras comerciais, mas é a queda de barreiras culturais, técnicas.
Roberto Müller: As pessoas anseiam cada vez mais, e isso é primordial no sentido de se atingir esse modelo de globalização.
Ernesto Lozardo: As pessoas querem é ter acesso. Não importa se é um africano, da Mongólia, um alagoano, um malaio, um americano, não importa. Todos querem ter acesso a tudo o que se produz no mundo. De repente o mundo está aberto a todos. Aberto não só a acesso a bens de consumo. Acesso às culturas que estão no mundo. Então as distâncias não só ficaram curtas em comunicação, mas as diferenças culturais reduziram muito. Esta é a grande mudança que temos no mundo. As empresas estão preparadas para enfrentar essa mudança de paradigmas mundiais. Estamos hoje abertos a tudo e a todos. Agora, o que a humanidade quer? Estar mais bem preparada. Sabe o que é isso? É educação, cultura, talento para fazer parte desses desafios do século XXI.
Milton Paes: Como foi possível a mudança tão rápida da China, do comunismo para o capitalismo?
Ernesto Lozardo: A disputa entre Mao e Deng Xiaoping foi no sentido de como promover a justiça social. Mao tinha uma idéia mais institucional e Deng Xiaoping tinha uma mais comercial O primeiro tom da reforma de 1978 de Deng Xiaoping foi de liberalizar os preços agrícolas internos. O Estado não mais passou a comprar, a demandar os produtos agrícolas. O agricultor teve que buscar o mercado regionalmente. Resumo da história: os agricultores chineses ficaram ricos. Foi aí que apareceu o lucro, a eficiência, a produtividade e a distribuição. Mas nesse meu trabalho eu analiso outros países, que serão os eixos do século XXI na economia mundial, que é a Coréia do Sul, Índia, China, a União Européia e os Estados Unidos. São os eixos.
Roberto Müller: O Brasil está fora?
Ernesto Lozardo: O Brasil está fora do eixo da prosperidade global. O País, primeiro, é pouco expressivo no comércio mundial. Ele representa não mais do que 1,1% das exportações mundiais. Para vocês terem uma idéia, a China, em 1977, representava 0,6% das exportações mundiais. O Brasil representava já 1%. O Brasil continua com esse 1% e a China representa hoje 9% das exportações mundiais, tendendo a 12% até 2010.
Theo Carnier : Mas o Brasil tem crescido bastante nessa área de comércio exterior.
Ernesto Lozardo: O Brasil cresceu porque os preços internacionais cresceram, não porque exportamos mais. Nós exportamos, mas a gente precisa notar que o eixo das exportações brasileiras se deve a commodities demandadas pelos asiáticos, pela China principalmente. E que os preços cresceram muito. De 1990 até 2007, o preço das commodities do mundo cresceram 70%. Nossas exportações cresceram 400% em termos de volume e preço. Então estamos surfando com o mundo. Melhoramos, mas estamos longe de chegar em 2010 ao que o Brasil já exportou em 1948, quando o Brasil teve uma participação de 2,8% das exportações mundiais. Era café.
Roberto Müller: O senhor acha que um eventual ajuste estrutural da economia norte-americana em decorrência dos déficits gêmeos acelerará ou retardará esse novo capitalismo?
Ernesto Lozardo: Eu tinha certeza que ia terminar esse meu livro com um último capítulo com uma coisa apoteótica. O sucesso do capitalismo nas mãos dos americanos, o que foi uma grande surpresa e de preocupação. Mas economia que mais coloca hoje o mundo numa possível desacelerando econômica são os norte-americanos. A economia norte-americana ela hoje vive um desequilíbrio muito grande e provoca um desequilíbrio muito grande no mundo. Por ser país rico, ele que deveria estar investindo o seu capital nos países pobres ou pelo menos estar ofertando o seu capital aos países pobres. E está acontecendo o contrário. São os países emergentes que estão que estão financiando os Estados Unidos. Inverteu o fluxo. Coloco no livro que a economia americana, dentro de alguns anos, acho que até a partir de 2010, passará por um ajuste fiscal grande, e isso significa um ajuste no fluxo de capital internacional. Os americanos, na verdade, estão em uma situação, em termos macroeconômicos, muito delicada. Primeiro, o nível de investimento é alto e a poupança está caindo há quarenta anos. Por outro lado, a família americana está muito endividada. A dívida total americana, está em torno de US$ 40 trilhões é o tamanho do PIB mundial.
Roberto Müller: E o que o senhor preconiza para o Brasil?
Ernesto Lozardo: Esse ajuste deve acontecer dentro de três anos. O Brasil está muito melhor preparado para enfrentar a crise. Os fundamentos da economia brasileira são robustos. O que nos atrapalha é a carga tributária e um possível apagão energético no Brasil. Então, o que atrapalha o Brasil é o governo central, é o governo federal. No mais, tudo está bem arrumado, nos outros segmentos. Houve o combate à inflação de forma eficiente, o Brasil está muito próximo a ter o investment grade no mercado internacional.
Theo Carnier: Como desatar os nós da carga tributária e da infra-estrutura?
Ernesto Lozardo: É na sociedade. Acho que o Congresso brasileiro está ciente da ausência da reforma tributária, por um lado. Por outro o governo também tem uma índole dos gastos.Temos uma conjunção de duas irresponsabilidades, do Congresso e do governo, do Executivo. Por mais que tenhamos a Lei Fiscal, ela ainda é pouco robusta para ajustar os governos, no tocante aos seus gastos mais eficientes.
Fonte: DCI - 30 JUL 07
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A Usiminas assinou contrato de trinta meses com o fornecedores chineses MinMetals,MCC e ACRE para a construção de sua terceira coqueria, que ficará localizada na usina da empresa em Ipatinga (MG). O investimento total é de aproximadamente US$ 250 milhões. As obras deverão se iniciar em maio do ano que vem, com a montagem do equipamento em outubro. A previsão é que no segundo semestre de 2009 a coqueria entre em operação.
A siderúrgica mineira segue os passos da Gerdau e da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), que também contrataram fornecedores asiáticos para a construção de suas coquerias. No caso da CSA, um projeto conjunto da alemã ThyssenKrupp e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), além dos equipamentos serão "importados" também cerca de 600 trabalhadores chineses. Segundo a empresa, a maioria são engenheiros com mão-de-obra qualificada essencial para a construção da coqueria. O contrato, fechado com a empresa Citic, tem valor aproximado de US$ 450 milhões.
Já a Gerdau Açominas fechou em 2005 contrato com cinco companhias chinesas para as obras de ampliação de 50% da capacidade de sua usina em Ouro Branco (MG). A soma dos equipamentos chegou a R$ 650 milhões, ou 21% do total do investimento de R$ 3 bilhões na ampliação. O pacote de tecnologias asiáticas visava a ampliar a capacidade instalada do alto-forno, da sinterização e da coqueria. Uma das empresas é a MinMetals, que também faz parte do grupo que assinou contrato com a siderúrgica mineira.
Auto-suficiência
A nova coqueria garantirá a auto-suficiência da empresa em coque, um dos principais insumos utilizados pelas siderúrgicas, e que vem sofrendo muitas oscilações de preço no mercado internacional. Ela terá capacidade de produzir 750 mil toneladas por ano de coque. A primeira coqueria construída pela empresa, que já está em atividade a 44 anos, será desativada após a construção da nova unidade.
A construção da nova coqueria faz parte do plano de expansão da capacidade de produção de aço da Usiminas, anunciado neste ano. Até 2015 deverão ser aportados US$ 8,4 bilhões nas usinas de Ipatinga e Cubatão (SP), que adicionarão 2,2 milhões toneladas de aço por ano.
Há também planos de construção de uma nova usina, provavelmente em Cubatão, onde serão produzidos 3 milhões de toneladas de placas de aço por ano, destinadas ao mercado externo. O objetivo da Usiminas é encontrar algum parceiro para laminar estas placas, embora não descarte também a possibilidade de instalar ou adquirir um laminador próprio no exterior.
A Usiminas assinou contrato de 30 meses com os fornecedores chineses MinMetals, MCC e ACRE para construir sua 3ª coqueria, que ficará na usina de Ipatinga (MG). O investimento total é de US$ 250 milhões.
Fonte: DCI - 30 JUL 07
A siderúrgica mineira segue os passos da Gerdau e da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), que também contrataram fornecedores asiáticos para a construção de suas coquerias. No caso da CSA, um projeto conjunto da alemã ThyssenKrupp e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), além dos equipamentos serão "importados" também cerca de 600 trabalhadores chineses. Segundo a empresa, a maioria são engenheiros com mão-de-obra qualificada essencial para a construção da coqueria. O contrato, fechado com a empresa Citic, tem valor aproximado de US$ 450 milhões.
Já a Gerdau Açominas fechou em 2005 contrato com cinco companhias chinesas para as obras de ampliação de 50% da capacidade de sua usina em Ouro Branco (MG). A soma dos equipamentos chegou a R$ 650 milhões, ou 21% do total do investimento de R$ 3 bilhões na ampliação. O pacote de tecnologias asiáticas visava a ampliar a capacidade instalada do alto-forno, da sinterização e da coqueria. Uma das empresas é a MinMetals, que também faz parte do grupo que assinou contrato com a siderúrgica mineira.
Auto-suficiência
A nova coqueria garantirá a auto-suficiência da empresa em coque, um dos principais insumos utilizados pelas siderúrgicas, e que vem sofrendo muitas oscilações de preço no mercado internacional. Ela terá capacidade de produzir 750 mil toneladas por ano de coque. A primeira coqueria construída pela empresa, que já está em atividade a 44 anos, será desativada após a construção da nova unidade.
A construção da nova coqueria faz parte do plano de expansão da capacidade de produção de aço da Usiminas, anunciado neste ano. Até 2015 deverão ser aportados US$ 8,4 bilhões nas usinas de Ipatinga e Cubatão (SP), que adicionarão 2,2 milhões toneladas de aço por ano.
Há também planos de construção de uma nova usina, provavelmente em Cubatão, onde serão produzidos 3 milhões de toneladas de placas de aço por ano, destinadas ao mercado externo. O objetivo da Usiminas é encontrar algum parceiro para laminar estas placas, embora não descarte também a possibilidade de instalar ou adquirir um laminador próprio no exterior.
A Usiminas assinou contrato de 30 meses com os fornecedores chineses MinMetals, MCC e ACRE para construir sua 3ª coqueria, que ficará na usina de Ipatinga (MG). O investimento total é de US$ 250 milhões.
Fonte: DCI - 30 JUL 07
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