O aquecimento do mercado interno e a pressão nos custos devem inaugurar uma onda de alta nos preços de insumos e matérias-primas, especialmente as de uso industrial como aço, resinas plásticas e papel, a partir de abril. No setor siderúrgico, já há casos de sucesso em negociações, como em alguns contratos de chapas grossas da Usiminas. Na cadeia petroquímica, os fabricantes mantêm o suspense sobre o preço das resinas a partir do próximo trimestre e causam preocupação aos transformadores plásticos.
Uma em cada quatro empresas industriais do País sofre a concorrência de produtos chineses no mercado brasileiro, principalmente nos setores têxtil, vestuário, equipamentos hospitalares e de precisão e calçados. Dentre as empresas que relatam que essa concorrência existe, 52% perceberam que sua participação nas vendas para o mercado doméstico diminuiu. Essas são algumas das conclusões de uma sondagem feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) entre seus associados. O estudo mostra ainda que a concorrência do gigante asiático também pesa no mercado externo. Segundo a CNI, 54% das indústrias brasileiras que exportam concorrem com os chineses. Dentre elas, 58% perderam clientes para concorrentes da China. A sondagem revelou que 75% das empresas têxteis consultadas que concorrem com os chineses relataram que tiveram queda de participação nas vendas ao mercado interno. Entre as empresas de vestuário, esse porcentual é de 66%. No mercado externo, o setor de vestuário está entre os mais prejudicados. A sondagem mostra que 31% das empresas desse setor que concorrem com a China pararam de exportar e 69% afirmaram que perderam clientes para os chineses. No setor de couros, 30% das empresas que concorriam com a China deixaram de exportar e 40% perderam clientes externos para os chineses. Na indústria de calçados, 20% das empresas consultadas deixaram de exportar e 65% perderam clientes.A forte concorrência chinesa vem, inclusive, forçando a migração de parte da produção industrial brasileira para a China, em busca de menores custos de produção. O levantamento da CNI mostra que 12% das grandes empresas entrevistadas já transferiram, direta ou indiretamente, parte de sua produção para a China. Segundo o levantamento, 7% das grandes empresas já produzem com fábrica própria na China e mais 5% terceirizaram parte da produção naquele país. O coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI), Flávio Castelo Branco, avalia que, para os próximos anos, a tendência é de que haja mais acirramento da concorrência entre a indústria brasileira e os produtos da China. “É preciso criar condições para enfrentar essa concorrência.”Castelo Branco ressaltou que “não dá para colocar salvaguardas”, por exemplo, em todas as importações da China. A solução, na avaliação dele, é melhorar a capacidade de competição das empresas brasileiras. A adoção de eventuais medidas de proteção comercial foi dificultada depois que o governo Lula reconheceu a China como economia de mercado para ajudar a entrada daquele país na Organização Mundial de Comércio. Com esse acordo, a adoção de medidas de proteção passou a depender de uma série de exigências, como longos processos em que deve ser provado e calculado o possível dano que os produtos chineses causam à indústria nacional.“As indústrias já estão fazendo a sua parte. Mas o que precisa ser solucionado são problemas de natureza sistêmica como a alta carga tributária, a logística ineficiente, o alto custo de capital e mercado de trabalho com regras em excesso”, disse Castelo Branco.
As oito maiores empresas de produção de cimento e concreto no País serão investigadas pela Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, sob suspeita de formação de cartel (acordo entre concorrentes para controlar um setor da economia). A titular da SDE, Mariana Tavares de Araújo, disse ontem que há “evidências diretas” de existência de um cartel que teria afetado o setor de construção civil. “Com a abertura da investigação, vamos montar o quebra-cabeça. Se a conclusão for pela existência do cartel, os prejuízos terão sido de enormes proporções”, comentou Mariana. São alvo da investigação da SDE as empresas Votorantim, Camargo Corrêa, Lafarge, Companhia de Cimentos do Brasil, Holcim, Itabira Agro Industrial (Grupo Nassau), Soeicom e Itambé. A SDE estima que elas representem 90% do faturamento do setor. Estão ainda sob suspeita a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Aberc) e a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), além de quatro executivos: Anor Pinto Filipi, Renato Giusti, Marcelo Chamma - todos da Votorantim - e Sérgio Bandeira Camargo Corrêa, da Camargo Corrêa. Procuradas, a maioria das empresas envolvidas optou por não se manifestar sobre a investigação da SDE. A Holcim e a Itambé disseram ter ficado sabendo do processo somente ontem, pelo Diário Oficial, e aguardariam os trâmites regulares antes de comentar o assunto. A Lafarge informou que não pretende se manifestar até o fim do processo. A Camargo Corrêa também informou que não ia se pronunciar. Já a Votorantim disse “ter a certeza de que seus procedimentos estão de acordo com as boas práticas de concorrência do mercado”. A empresa afirmou que colaborará com a SDE e as autoridades para prestar os esclarecimentos solicitados.DENÚNCIASMariana Tavares informou que o setor de cimento é acompanhado há muitos anos pela SDE, mas a abertura da investigação só foi possível depois que, em novembro do ano passado, Evaldo José Meneguel, ex-gerente de vendas da Votorantim na Região Sul, denunciou as práticas do suposto cartel. Ela citou a realização de reuniões entre executivos das diferentes companhias, em hotéis, para fazer uma divisão regional de mercados entre os concorrentes, que têm presenças diferenciadas em cada região. As empresas também definiriam conjuntamente preços e quantidades de concreto e cimento a serem vendidas e fariam ainda o direcionamento de clientes entre si. “Um concorrente, quando tirava um cliente do outro, tinha que encaminhar um novo cliente e ainda pagar um bônus em dinheiro”, explicou a secretária. Na tentativa de impedir a entrada de novos competidores no mercado, as empresas foram acusadas de discriminar preços de acordo com o alinhamento com o suposto cartel. Concreteiras ligadas ao grupo recebiam produto com preço mais baixo que as concreteiras independentes. Segundo a secretária, o denunciante afirmou que, em alguns casos, os valores eram impraticáveis.Existem na SDE pelo menos outros 14 procedimentos para investigar esse setor que, no entanto, nunca foram à frente. “Mas ainda é prematuro dizer se vamos apensá-los ou utilizá-los nessa investigação”, disse a secretária. Em fevereiro, após conseguir um mandado judicial, a SDE realizou com a Polícia Federal e o Ministério Público uma operação de busca e apreensão nas sedes de seis das empresas suspeitas e recolheu documentos e computadores. A SDE não pode ainda comentar o teor desses documentos porque eles estão sob sigilo de Justiça. Ao final da investigação, a SDE vai encaminhar um parecer ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Se forem condenadas por cartel, as empresas estarão sujeitas à multas de 1% a 30% de seu faturamento bruto anual.SOB INVESTIGAÇÃOAs denúncias contra as empresas: Fixação de preços e quantidades de cimento e concreto a seremcomercializadas; divisão regional do mercado; divisão edirecionamento de clientes de cimento entre as concorrentes; barreira à entrada de novosconcorrentes no mercado de concreto Empresas investigadas: Votorantim Cimentos Ltda.; Camargo Corrêa Cimentos S/A; Lafarge Brasil S/A; Cia. de Cimentos do Brasil (Cimpor); Holcim Brasil S/A;Itabira Agro Industrial S/A (Cimento Nassau); Soeicom S/A; Cia. de Cimento ItambéEntidades investigadas: Associação Brasileira dasEmpresas de Serviços de Concretagem (Abesc);Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)Executivos investigados: Anor Pinto Filipi, Renato Giusti e Marcelo Chamma (Votorantim); Sérgio Bandeira (Camargo Corrêa)
`Realizei um sonho: virei coveira.’’ A frase, inusitada, é de Maíra Lima Bezerra, recém-aprovada em 2º lugar no concurso na Prefeitura de Embu. Desde ontem, as quadras 6 e 7 do Cemitério do Rosário são de sua responsabilidade.Além de cuidar da limpeza do lugar, Maíra - que não é gótica, apenas gosta do silêncio dos cemitérios - é quem vai enterrar e desenterrar os mortos daquele setor. Dentre os cem candidatos que participaram da seleção, ela surpreendeu ao realizar a prova prática (que inclui exumação de cadáveres) com ’’extrema habilidade’’, segundo os avaliadores. Para a menina, seu diferencial foi não ter medo da morte.As mãos macias e unhas pintadas podem estar com seus dias contados. ’’Tudo bem, vou me cuidar. Acho essa história um pouco preconceituosa. Podemos fazer o que os homens fazem’’, afirmou.É o mesmo pensamento da gerente da unidade de Paulínia da Copagaz, Andréia Fernandes. Ela está grávida de 6 meses e comanda uma equipe de 80 pessoas, dos quais 80% são homens. ’’Tenho de fazer a supervisão da administração e da produção de gás’’, diz a futura mamãe.Ela conta que quando começou, há 5 anos, os funcionários estranharam, pois são poucas as mulheres trabalhando nas plantas de gás. ’’Quando contei a meus superiores que pretendia engravidar, minhas amigas disseram que eu era louca, que a empresa daria um jeito de me cortar. Mas aqui há respeito pelo trabalho feminino, não tive nenhum problema.Andréia diz que, em algumas empresas, ainda há um preconceito sutil contra mulheres. ’’Mas chegamos a qualquer lugar quando nos dedicamos.’’Andréia cita como exemplo a colega Elaine Portugal, de 26 anos, motorista de um caminhão de 10 toneladas para transporte de gás. ’’O sonho dela era ser caminhoneira, como o pai. Ela começou como professora de auto-escola, e foi a primeira colocada no teste de admissão da Copagaz.’’
Baixinho, de óculos e aparentemente mal-humorado, Jean Baudrillard fala rápido demais e a tradutora ao seu lado tropeça inúmeras vezes para acompanhar o pensamento. A platéia, lotada, também parece perdida. O problema nem é a velocidade com que as palavras são proferidas, e sim como as idéias são distribuídas por cada frase. É abril de 2002, e o filósofo está no Brasil como convidado da Bienal Internacional do Livro de São Paulo para divulgar seu último livro, A troca impossível. Mas o que todo mundo quer saber é do seu depoimento polêmico em relação ao último 11 de setembro. Ao fundo do entediado Baudrillard, há um enorme painel retratando (ou simulando, verbo caro ao pensador) os aviões em colisão com o World Trade Center.