`Realizei um sonho: virei coveira.’’ A frase, inusitada, é de Maíra Lima Bezerra, recém-aprovada em 2º lugar no concurso na Prefeitura de Embu. Desde ontem, as quadras 6 e 7 do Cemitério do Rosário são de sua responsabilidade.
Além de cuidar da limpeza do lugar, Maíra - que não é gótica, apenas gosta do silêncio dos cemitérios - é quem vai enterrar e desenterrar os mortos daquele setor. Dentre os cem candidatos que participaram da seleção, ela surpreendeu ao realizar a prova prática (que inclui exumação de cadáveres) com ’’extrema habilidade’’, segundo os avaliadores. Para a menina, seu diferencial foi não ter medo da morte.
As mãos macias e unhas pintadas podem estar com seus dias contados. ’’Tudo bem, vou me cuidar. Acho essa história um pouco preconceituosa. Podemos fazer o que os homens fazem’’, afirmou.
É o mesmo pensamento da gerente da unidade de Paulínia da Copagaz, Andréia Fernandes. Ela está grávida de 6 meses e comanda uma equipe de 80 pessoas, dos quais 80% são homens. ’’Tenho de fazer a supervisão da administração e da produção de gás’’, diz a futura mamãe.
Ela conta que quando começou, há 5 anos, os funcionários estranharam, pois são poucas as mulheres trabalhando nas plantas de gás. ’’Quando contei a meus superiores que pretendia engravidar, minhas amigas disseram que eu era louca, que a empresa daria um jeito de me cortar. Mas aqui há respeito pelo trabalho feminino, não tive nenhum problema.
Andréia diz que, em algumas empresas, ainda há um preconceito sutil contra mulheres. ’’Mas chegamos a qualquer lugar quando nos dedicamos.’’
Andréia cita como exemplo a colega Elaine Portugal, de 26 anos, motorista de um caminhão de 10 toneladas para transporte de gás. ’’O sonho dela era ser caminhoneira, como o pai. Ela começou como professora de auto-escola, e foi a primeira colocada no teste de admissão da Copagaz.’’
Fonte: O Estado de S.Paulo - 08 MAR 07