Ao completar os cem primeiros dias da arrastada indicação política de Casemiro Tércio Carvalho para assumir a presidência da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a administradora do Porto de Santos, o que mais marcou esse período foi o descompasso da Autoridade Portuária com a sua comunidade. Uma sequência de iniciativas atabalhoadas e retrocessos, mesmo antes de ser nomeado oficialmente; isolamento na relação porto e cidade; falta de liderança com os quadros da empresa; inobservância da transparência na empresa pública e acusação de impropriedades cometidas sem apuração. Sumariamente, o Porto de Santos permanece atolado no caos.
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Por consequência na gestão das contas, os cortes de despesas com a repactuação de arrendamentos mais a redução de serviços de zeladoria e acessórios, anunciados como economia, não compensam as contratações milionárias de indicações políticas com altos salários. Mesmo tendo um quadro de funcionários concursados deixado à margem da gestão da empresa, e assim, gerando inoperância. De que adianta o debate sem competência do tarifário do Porto, vigente desde a saída da Codesp de toda a operação portuária, sem saber qual o porto que vai se ter em Santos? Trata-se de forma generalizada um importante fator de competitividade para um negócio portuário, que deve romper, já tardiamente, suas amarras com Brasília. A prioridade é debater a gestão descentralizada do Porto.
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Durante esses cem dias ainda não ficou bem esclarecida a contratação emergencial, que poderia ter sido licitada, da Terracom para manutenção da pavimentação da área portuária. Não menos estranho é não ter sido realizada, nesses cem dias, uma licitação possível para a dragagem do Porto. Porém, já se sinaliza com consultas a algumas empresas para contratação emergencial desses serviços de dragagem. Nem tampouco se justificam os argumentos ameaçadores e arbitrários contra contratos legalmente vigentes. Convenhamos que já juntou muita fumaça na administração do Porto de Santos em tão pouco tempo.
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Também não foi ainda esclarecida, e nem silenciada, a ruidosa denúncia por um ex-assessor contra o diretor de Desenvolvimento de Negócios e Regulação da Codesp, egresso da Raízen Combustíveis, do grupo Cosan. E mais, este grupo tem robusto portfólio de negócios no Porto e cláusula contratual não cumprida. Tais fatos sobrepesam na negociação que essa mesma diretoria vem promovendo, com dureza, para a renovação do contrato da Petrobrás de arrendamento de área para estocagem e movimentação de combustíveis. É de se perguntar: qual a posição da Secretaria Nacional de Portos diante de tantas questões mal esclarecidas?
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Sob a ótica da Comunidade Portuária do Porto de Santos, os primeiro cem dias se traduzem em conflitos, insegurança e falta de perspectiva. Para o negócio do Porto a resultante é negativa. Engana-se quem achar pacífica a questão da gestão centralizada e a proposta de um modelo “prêt-à-porter” (pronto), sem um amplo debate com a sociedade e calando a representação política regional no Congresso, atenta ao assunto. Sem sombra de dúvida: crise à vista.