Diante das eternas promessas de que as companhias docas brasileiras serão geridas por profssionais de alto gabarito, causa espanto o teor da ata da 1918ª reunião da diretoria executiva da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) indicando para o cargo comissionado de gerente de Contratos de Arrendamento uma pessoa, de acordo com o próprio documento, que não detém "integralmente os requisitos necessários" para exercer a função. A atitude da nova diretoria da Companhia, em documento assinado no último dia 11 de março, não é novidade nesse ambiente, mas desestimula os funcionários de carreira e prejudica uma empresa que tem como foco "melhorar a eficiência e a competitividade do Porto de Santos".
Em maio de 2007, a Secretaria Especial de Portos foi criada pelo governo Lula sob o comando do ministro Pedro Brito para minimizar os efeitos das indicações políticas e dotar as companhias docas de eficiência na administração. No entanto, os portos brasileiros continuaram sendo ambientes propícios para negociatas, eclodindo na investigação pela Polícia Federal do inquérito que acusa o ex-presidente Michel Temer de fazer do Porto de Santos, o principal da América Latina, um universo de propina e curral eleitoral.
O discurso de mudança do diretor-presidente da Codesp, Casemiro Tércio Carvalho, é colocado em cheque por causa de atitudes como a indicação de Luiz Henrique Garcia da Silva para esta importante gerência, com o acolhimento de profissional sem os requisitos necessários para o cargo, segundo a própria diretoria, devido a uma "regra de adequação para implementação do Plano de Cargos Comissionados e Funções de Confiança". A remuneração bruta mensal do indicado é de R$ 25.966,55, na contramão do discurso presidencial de redução de custos em estatais e preferência por escolhas técnicas, sem viés ideológico.
A reprovável indicação envolve ainda outros importantes atores do setor portuário, já que o aquinhonado é irmão do ex-presidente da Codesp e atual presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Fernando Garcia da Silva. O gerente da Codesp também já exerceu cargo de confiança na Appa, revelando um círculo vicioso de benefícios aos "amigos do rei", regra geral em todas as autoridades portuárias do País.
Sobre o futuro do Porto de Santos, o secretário nacional de Portos, Diogo Piloni, já afirmou que "na linha de prestigiar uma maior autonomia da gestão local, vamos montar esse plano a quatro mãos: o ministério da Infraestrutura e a nova gestão da Codesp". Como é possível perceber, não falta autonomia de gestão local no mais importante porto do Hemisfério Sul. Difícil vai ser o secretário de Portos bater a meta de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL) com uma equipe em que a falta de aptidão é bem remunerada.