Pelos passos da sua nova diretoria, o Porto de Santos segue um rumo contrário às propostas do então candidato e hoje presidente Jair Bolsonaro (PSL) para os portos brasileiros, de "chegar ao final do governo com patamares similares aos portos asiáticos". Construir um futuro para o principal complexo portuário do Hemisfério Sul é seguir em direção ao ano de 2050. A começar por um planejamento robusto de longo prazo.
Em vez de iniciar dos fins para os meios, o diretor-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Casemiro Tércio, resolveu abrir uma caixa de ferramentas desgastadas pelo tempo e inadequadas para construir um porto para concorrer com os asiáticos. Propõe um modelo de dragagem por resultado, uma ideia de mais de 20 anos e há muito tempo defendida no Portogente. É, no entanto, uma forma de contrato limitado a manter a profundidade e navegação do canal, sem resolver plena e holisticamente a logística de acesso ao porto santista. Anuncia também a construção de um terminal de contêiner na região do Valongo-Paquetá, projeto da década de 1970, um puxadinho de baixa produtividade que vai instigar conflito ruidoso com a Cidade. Ali situam-se os mais antigos armazéns do Porto, construídos no início do século XX e hoje desativados. No espaço urbano contíguo sobrevive uma das mais antigas e agitadas histórias do Brasil, frágeis ao fluxo portuário.
Reprodução do projeto de navio autônomo da Rolls Royce
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Situado em um estuário de excelente qualidade, mas com as atuais características físicas limitantes para atender à marcha do desenvolvimento da navegação, o Porto de Santos precisa desafiar a si próprio para se desprender do passado e dar um salto virtuoso ao futuro. Por isso, o planejamento do seu porvir, daqui a trinta anos, exige o compromisso de pensar de forma ampla, inovadora e flexível. Um projeto para fazer essa transição, com aplicação de tecnologia e processos avançados, ultrapassa, entretanto, os limites do seu atual modelo de gestão, limitado ao tempo do governo de plantão. Daí ser oportuna uma mobilização da comunidade do Porto na construção do seu futuro no comércio marítimo global, fazendo o caminho para o ano 2050. Fatos que ressaltam a urgência da diretoria da Companhia ser definida no Conselho de Autoridade Portuária (CAP), a partir de critérios alinhados com os negócios portuários.
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Indubitavelmente, três fatores entrelaçados são determinantes na definição do rumo do Porto de Santos ao futuro: profundidade à navegação, produtividade na movimentação de carga, valor agregado para gerar produção e trabalho, bem como a sustentabilidade. Sob a ótica da ruptura pela era digital, o reflexo de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala e cadência ou padrão que introduz. Para se ter total proveito dessas circunstâncias, e assegurar o lugar histórico que o porto santista ostenta há 127 anos, a essencial estratégia de longo prazo deve se constituir de visão e metas compartilhadas. Ou seja, compor um grupo (pool) com governo e demais atores (players) das logísticas do Porto de Santos, em uma relação institucional distinta da vigente e que trate com objetividade, justiça e entusiasmo os múltiplos interesses em jogo.
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Decerto que se trata de uma decisão complexa, cujo sucesso exige uma governança intransigente para garantir resultados, pois está em jogo o futuro do Porto de Santos, por onde passou o desenvolvimento das regiões mais prósperas do Brasil. Diante dessa honrosa marca e para se harmonizar ao próximo paradigma, agora é preciso responder questões de como, por exemplo, receber os grandes navios de contêiner previstos para 2050, acomodar o aumento do tráfego marítimo e enfrentar os desafios correlatos daquele futuro. O primeiro passo dessa longa caminhada é entender com clareza onde se quer chegar.