Foi um feito notável a Praticagem de Santos ter possibilitado, no dia 1º de agosto último, a entrada do navio MSC Ajaccio, de bandeira Malta, de 14,45 metros de calado, o maior da centenária história do Porto de Santos (SP), como deu no Blog do Bruno Merlin. Trata-se de importante inovação à navegação em portos, com a utilização do Redraft (sistema de calado dinâmico, com tecnologia nacional e que determina o calado máximo considerando as condições ambientais, segundo as mais exigentes regulamentações internacionais). O navio navegou com segurança até ao final do canal estuário para atracar no terminal da Brasil Terminal Portuário (BTP).
MSC Ajaccio - Foto: Pedro Faga/Marine Traffic.
Esse fato revela duas realidades que afetam sobremaneira a produtividade e, por consequência, a competitividade do cais santista. Primeiro, o papel competente e estratégico da Praticagem para alinhar a navegação com os seus principais similares do mundo. Segundo, o papel meramente festivo da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a autoridade portuária local, tentando celebrar o feito como obra sua, sem ter qualquer mérito e nem conseguir superar com dragagem o problema da falta de profundidade adequada à navegação.
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A tecnologia de dragagem dos portos brasileiros, em especial a de Santos, necessita de uma revisão profunda para deixar de ser, como consequência de ações politicas indesejáveis, um gargalo ao progresso. Manter as profundidades, com menor custo possível, é condição à navegação de navios de maior porte e à prática de fretes mais baratos que habilitem o Brasil competir no novo cenário do comércio mundial.
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Todavia, fato recente ocorrido no complexo portuário de Santos concorre para prejudicar a vantagem comparativa da logística portuária do Porto. A dúvida se os valores pagos pela dragagem correspondem aos volumes efetivamente dragados prejudica o controle dos seus custos. Portogente indagou sobre o absurdo pagamento, mas não obteve resposta da Codesp e do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (MTPA).
A falta de transparência fere a legislação brasileira e fragiliza a já combalida confiança que devem ter as autoridades públicas e os órgãos de controle em qualquer tipo de processo de investimentos com dinheiro público. A única solução é que tal situação seja devida e corretamente apurada para que seja feita justiça.
Nesse cenário de obscuridades fica bem improvável que o Porto de Santos promova competência essencial para ser o hub port na costa leste da América do Sul, a exemplo do que vem acontecendo em Suape.
Quem vive, estuda e tem compromisso com o mundo portuário, logístico e com o País sabe que a velocidade na Codesp é muito inferior à velocidade do mundo. Sobretudo, porque tecnologia, navegação e comércio não toleram desaforo.