Anunciado pela equipe de Bolsonaro, o engenheiro Casemiro Tércio dos Reis Lima Carvalho deverá ser o próximo presidente da Autoridade Portuária do Porto de Santos, a Codesp. Com formação sólida, vai assumir a administração do mais importante porto do Hemisfério Sul atualmente mergulhada em um lamaçal de corrupção e ineficiência. Vítima de um processo de gestão centralizado em Brasília e conduzido por indicados a serviço dos interesses políticos, por consequência, diretores da empresa foram presos pela Polícia Federal, recentemente. Portanto, ao assumir a principal direção de porto do País em colapso, resta a Casemiro ter como prioridade construir uma nova estrutura de autoridade portuária, que deverá ser modelo para os portos brasileiros. Inclusive, considerando também a proposta de parlamentares do PSL, que representam setores da hinterlândia do porto e defendem uma administração tripartite. Um cenário onde se modela diversos potenciais em função de demandas, na busca de produtividade e sustentabilidade, com habilidade.
Foto: Alex de Almeida.
Na bagagem curricular de Casemiro destacam-se sete anos, de 2011 a 2018, como presidente do Porto de São Sebastião; ter liderado o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) em petróleo e energia, bem como o de transporte e logística. Decerto que os portos de São Sebastião e de Santos são geográfica, logística e operacionalmente distintos. Suas características de movimentação de carga e respectivas comunidades são incomparáveis. Acrescente-se também a dimensão das suas questões, como a da dívida da Libra com a Codesp, que se arrasta há quase 15 anos e já ultrapassa R$ 2 bilhões. Ao se aplicar a este assunto o máximo de luz do sol, na linha de discurso do candidato Bolsonaro, o futuro presidente da Codesp terá que fazer um pente fino neste caso, onde há muitos capítulos mal explicados.
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Outro nó a ser desatado e de fundamental importância é o da dragagem. Há fortes indícios de superfaturamento que Portogente revelou, e o relatório do TCU também acende a luz vermelha para práticas de preço superfaturado desse serviço. Além disso, é recorrente a falta de profundidade para dar produtividade à navegação. Daí a urgência de se adotar definitivamente um modelo de contrato por resultado e de longo prazo, como tem sido defendido por Portogente. Sem sombra de dúvida, esse contrato deve ser elaborado, licitado e fiscalizado pela Autoridade Portuária.
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Com certeza poderiam ser relacionados tantos outros gargalos e ineficiências que promovem resistências e perdas aos fluxos do Porto de Santos. Basta dizer que há mais de 30 anos vem sendo ampliada uma simples perimetral portuária que nunca termina e é investigada pelo Ministério Público. Talvez seja mais preciso afirmar que falta cultura de produtividade portuária no principal porto do Brasil. Fosse este atributo agregado à marca do Porto de Santos, certamente a autoridade portuária não estaria refém de um inominável desrespeito aos princípios fundamentais da gestão eficaz, que há décadas, a Polícia Federal poderia ter combatido. Estabelecer na prática a legitimidade social da Codesp e sua governança será um desafio de Casemiro.
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Nesse sentido, e tratando-se de um assunto de múltiplos interesses, visto que a pujança do Estado de São Paulo nasceu no Porto de Santos, é importante explicar o que se busca e como se alcançar. Forma milenar para evitar conflitos e motivar cooperações. Assim, será possível criar a mudança de mentalidade necessária e com suavidade. Como uma lei consuetudinária, e modelo adotado na formatação das estrutura administrativas dos mais bem sucedidos portos do mundo, essa nova abertura deve ser a ruptura do modelo atual da Codesp.
Dessa rejeição, deve surgir uma Autoridade Portuária moderna, com administração regionalizada e as operações do porto privatizadas (inclusive a dragagem). Sua diretoria, dirigida por profissionais competentes, tem que ter autonomia para tomar decisões alinhadas ao negócio do porto. Tudo isso acompanhado de metas e governança em dose dupla. Desafios que o Brasil torce por serem bem cumpridos por Casemiro.