Muito antes da invenção da locomotiva - 1825 - e da abertura das primeiras estradas para as carruagens, a navegação fluvial já era utilizada como meio de transporte de pessoas e de cargas, na França Medieval. Em 1672 o engenheiro Paulo Riquet inicia o canal do Midi, ligando o Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico.
Privilegiada pela natureza, a França possui um relevo propício à navegação. Com exceção do Maciço Central, região de Auvergne, dos Alpes, junto à fronteira ítan-suíça e ao sul, aos pés dos contrafortes dos Pirineus, pode - se navegar por toda a França. As primeiras eclusas datam da Idade Média e venciam desníveis de até dois metros.
Os grandes rios, o Sena correndo para o Canal da Mancha; o Reno para o Mar do Norte e o Ródano para o Mediterrâneo, mesmo em trechos com correnteza eram utilizados. Aí navegaram os barcos de uma só viagem, que partiam dos pontos altos e desciam para Paris, Strasburgo e Marsellha, carregando cereais e vinhos. Como a volta era impossível, pois, à época, ainda não existiam motores, tais barcos eram desmontados e a madeira vendida como lenha, o combustível da época.
Nos trechos suaves, os barcos venciam a pequena correnteza puxados por animais, que caminhavam em trilhas laterais aos rios. Esse procedimento, chamado de “há/age”, era exercido pelos proprietários das terras marginais, pelo qual cobravam uma taxa. Daí a origem dos primeiros pedágios.
No norte do país, em direção à Bélgica e Holanda, as “péniches”, nome popular dado a embarcação, navegavam à vela, movidas pelo mesmo vento que viravam os moinhos.
No inicio do século XIX, a grande rede fluvial começa a ser ampliada. O então Ministro dos Transportes, Monsieur Freycinet, define a “péniche” padrão, que teria 5 metros de largura e 38,50 metros de comprimento e transportaria de 250 a 400 toneladas. A partir dessa resolução, as eclusas e canais construídos permitiam a passagem da “péniche”com o gabarito “freycinet”.
Por volta do 1850, a França já havia interligado as suas principais bacias hidrográficas com eclusas, pontes e túneis canais, elevadores, que ainda hoje são obras de orgulho da engenharia. Assim, quando a ferrovia começava a ser implantada, a navegação interior já interligava o Mediterrâneo ao Mar do Norte.
Com a invenção do navio a vapor em 1807, a navegação marítima teve um grande desenvolvimento. Entretanto, essa tecnologia só atingiu a navegação fluvial com a utilização dos comboios de chatas e rebocadores na segunda metade do século XIX.
Na década de 20 do século XX, os motores diesel foram introduzidos nas “peniches”, tornando-as automotoras. Tal evento deu um grande impulso a “bate/lerie” - frota de “péniches”- que atingiu seu apogeu. Todavia, após a segunda Guerra, com a expansão das rodovias, a navegação fluvial começou também, a ser modernizada, pois seus canais, já centenários, não mais comportavam o tráfego crescente e suas “péniches” eram pequenas para o volume a ser transportado. Na época o Office National de la Navigation, organismo que regulamentava e planejava a navegação fluvial no território francês, começou a construir obras, que permitissem atingir os grandes portos fluviais, por embarcações de 3.000 toneladas e comboios de chatas de até 10.000 toneladas.
Hoje, Paris, Lion, Strasbourgo e Basiléia, na Suíça, recebem pequenos navios denominados de flluvio-marítimos, que as ligam com os principais portos de mar da Europa. Nas ligações interiores as velhas “péniches” ainda prestam relevantes serviços e representam uma tradicional categoria profissional. A “Compagnie Nationale du Rhône”, que construiu e opera as eclusas do Rio Ródano, estuda o projeto da ligação com o Reno, para embarcações de grande gabarito.
Na Europa, na década de 90, a Alemanha inaugurou a interligação do Reno ao Danúbio, através do Rio Main, que permite atingir os países do Leste Europeu e o Mar Negro. Nas últimas décadas, as “péniches” estão sendo utilizadas em duas atividades importantes. A primeira, na navegação de recreio, cruzando toda a Europa por canais tranquilos e rodeados por paisagens campestres, em pequenos cruzeiros fluviais. A segunda, como residências ancoradas em recantos aprazíveis próximos das cidades.
Referência bibliográfica
BEAUDOUIN, F. Paris e la batellerie du XVII au XX siécle. Paris: Editions Maritimes & D 'Outre-Mer, 1979. 32p.
Santos, Silvio dos. Navegação fluvial na França. São Paulo: Marinha mercante em todo o mundo - O Estado de São Paulo, 16/10/1984.