Editorial | Coluna Dia a Dia
Um dia, é urgente um aeroporto regional. No dia seguinte, já não é. No terceiro dia, é imperioso preciso fazer um túnel. No quarto dia, é preciso mudar o traçado. No quinto dia, o túnel talvez nem seja mais considerado necessário. No sexto dia, é indispensável construir um novo porto. No sétimo dia, a burocracia descansou.
Existem coisas que saem rapidinho quando se quer, quando há vontade de fazer. Outras, que são retardadas por décadas, séculos: a cada vez que alguém lembra, um papelzinho pula de uma gaveta para a outra, para na próxima vez pular de volta ao lugar anterior. Como na escolha entre modelos de gestão portuária.
Veja mais: Observatório Nacional de Transporte e Logística (ONTL) - Artigos Técnicos - Ver nº 6
Mas, cada movimento desses papeis custa fortunas, para pagar consultorias e fazer novos projetos e vídeos espetaculares (quando se ignora os erros de conceito, claro!), para os congressos e seminários em lugares exóticos e que nada concluem, para os lobistas de sempre agitarem os bastidores, para gáudio dos consultores jurídicos altamente especializados (que analisarão cada novidade, buscando preservar os direitos dos clientes),
Dinheiro que também custeia audiências públicas que sequer “detectam” ou explicam erros de metragem encontrados nas informações federais (STS10: 20.073 m² de diferença entre dados de EVTEA e PPI) – erros maiores que bairros inteiros ou que um terminal de cargas em Salvador constante do mesmo decreto...
Veja mais: STS10 terá audiência pública virtual nesta terça-feira - Portogente, 16/3/2025
Cadê o aeroporto de Guarujá? Há mais de 105 anos, faltam apenas detalhes. "Desta vez, o aeroporto de Guarujá sai do papel. Estou batendo o martelo", disse o comandante da Aeronáutica... em 27/9/2002. Detalhes...
Onde está o de Praia Grande? Não saiu do papel. A ligação seca Santos/Guarujá? Pensada nos tempos de Lampião, há 98 anos, está lá no meio da papelada burocrática para a licitação. Data? Um dia sai.
Coisas mais básicas, como dragagem de manutenção no porto de Santos? Esqueça. Dragagem de aprofundamento? Nem pensar. Então, como querem que o porto santista cresça? Não querem. Alguém adivinhe o motivo.
Em contraste, quando se trata de pagar aluguel literalmente milionário para uma nova sede portuária, todos os papéis correm, voam, driblam qualquer entrave para que o dinheiro troque de mãos. Até morto revive para assinar documentos. Denunciado o assunto na Imprensa, a primeira reação foi que não havia mais o que fazer (!?). E vem a famosa pá de cal...
Veja mais: Autoridade Portuária de Santos firmou contrato milionário com homem morto há 48 dias - 26/02/2025
A burocracia até se justifica: é preciso cuidado com o dinheiro público, ok. Mas, quando esse cuidado não parece ser o motivo, forças misteriosas emperram engrenagens, há que se pensar em outras razões.
Saudades dos Gaffrèe e Guinle... Do decreto de concessão em 19/10/1886 à inauguração do primeiro trecho do cais santista, em 2/2/1892, foram nem 65 MESES, mesmo com mudanças societárias, guerra de trapicheiros, epidemias dizimando a população e imensas outras dificuldades.
Veja mais: Dois decretos modernos... do século XIX!
Sem vontade de fazer, Santos talvez não fosse mais que mero trapiche
Foto: divulgação/livro Docas de Santos, de Hèlio Lobo - Novo Milênio