Segunda, 09 Dezembro 2024

O texto a seguir foi redigido pelo prático Alberto Carlos Praça, que durante vários anos exerceu a nobre profissão.

"Até o ano de 1940, os serviços de Praticagem em todo o Brasil, eram exercidos por práticos independentes, trabalhando individualmente em pequenos grupos. Naquele ano, o eminente Presidente Getúlio Vargas criou as Corporações de Práticos em todos os portos nacionais, subordinados à Diretoria de Marinha Mercante (DMM), departamento importante da gloriosa Marinha de Guerra.

Então, a 1º de Novembro, os práticos Constantino de Azevedo e Sebastião Couto, fundaram a Corporação de Práticos do Estado de São Paulo, reunindo os demais Práticos do Porto, e se estabeleceram em prédio comercial à Praça da República. Instalaram um posto de Atalaia no alto do Monte Serrat (ver artigo anterior), onde içavam uma esfera preta no mastro, com a finalidade de avisar, à Guarda Aduaneira (Alfândega) e Saúde do Porto, da aproximação, na Barra, de qualquer navio estrangeiro, afim de que aquelas unidades governamentais efetuassem as obrigatórias inspeções a bordo dos mesmos, após o fundeio interno do Porto, entre os Armazéns 1 e 12.

Anos depois, a Praticagem adquiriu um imóvel na Ponta da Praia, onde está até hoje defronte a este local e do outro lado do Canal, na Praia de Nossa Senhora dos Navegantes, montou uma oficina para reparos nos botes usados nas atracações e assistência às lanchas para o embarque e desembarque dos práticos. Em tempo atual e mais recente, construiu a sua própria ponte, com toda a modernidade exigida para o exercício da profissão, inclusive uma Estação Meteorológica para uso próprio, sob a supervisão de competentíssimo profissional, dr. Vilela, meteorologista de conceito internacional e docente da Universidade de São Paulo (USP).

Convém ressaltar que, desde a sua fundação, a Praticagem de Santos jamais solicitou auxílio monetário ou material do Governo, até os dias de hoje. Dispõe atualmente de moderníssima frota de lanchas velozes, leves e pesadas, e botes para a amarração dos navios em qualquer local do Porto.

O escritório-sede, na Ponta da Praia, está equipado com moderna estação transmissora e receptora de rádio, de longo alcance e seus operadores finalmente dominam o inglês, idioma exigido para a função. Nos serviços internos contábeis, dispõe também de tudo o que existe de mais moderno em Computação, com página na Internet... http://www.praticagemsantos.com.br, e portadora de ISO 9002 Internacional.

Na década de 60, a Corporação se transformou em Cooperativa de Trabalho, com anuência da Marinha e orientação e assistência técnica da Secretaria de Agricultura do Estado, nas pessoas do dr. Mario Umberto Fiori, dr. Cherto na parte Jurídica e dr. Clóvis Cliquet no setor financeiro, este dando assistência por mais de 30 anos.

Curiosidades - Desde sua fundação, a Praticagem participava do futebol amador de Santos, cuja equipe, por inúmeras vezes, foi campeã. De seus quadros saíram 3 excelentes jogadores para a equipe do glorioso Santos Futebol Clube.

A partir de 1955, o Porto de Santos passou a receber o maior petroleiro do mundo, de nome “Sinclair Petrolore”, americano; seguiram-se depois mais dois outros da mesma série, o “Universe Leader 2” e “Universe Command”.

O prático Ismael Castanho é o mais antigo elemento da Praticagem; ingressou em 1948 como funcionário do escritório, passando depois a prático, através de exame tradicional para o exercício da profissão.”

As informações contidas no texto me foram passadas, com o intuito de serem transformadas num artigo. Achei por bem, deixar tudo como me foi entregue. Junto com esse texto, vieram xerox de fotografias de antigos práticos como José Console, Ismael Castanho, Frederico S. Bento, Mario de Azevedo, Carlos Stein, Aquiles Tacão, Felipe Schechter, José Domingos Silveira, Gerson da Costa Fonseca, Raul Marinho de Mesquita, Teophilo Quirino, Celso F. dos Santos, Waldir C. da Silva, André Poyart, Milton Console, Fabio Fontes e Eddio Portugal Marinho.Este último, já falecido, era filho do conhecido prático Marinho, que foi prático individual até o fim da sua carreira, que se não me engano, foi até o fim dos anos 60. Marinho usava, na maioria das vezes, terno branco e chapéu Panamá, seu cliente era um armador polonês. Por algumas vezes, vi esse prático já com idade avançada, desembarcando de navios. Entretanto, a lancha não era as da Praticagem, mas sim uma embarcação do tipo catraia.

Voltando ao Praça, conhecia desde os anos 50, quando ele ainda era projetista e desenhista arquitetônico. Na verdade, ele era primo da Sra. Arlete Praça Fonseca, esposa do prático Gerson. Inclusive, lembro quando ele ia na casa do Gerson, na Av. Almirante Cochrane 79, para estudar e tomar informações para o exame de praticante de prático de 1956, onde foi aprovado, na ocasião, juntamente com Frederico S. Bento, Milton Console, entre outros. O prático Ismael Castanho foi chamado em 1957.

Uma lembrança foi da viagem que fiz na companhia de meus familiares, a bordo do transatlântico português Vera Cruz, em dezembro de 1956, onde o prático foi Gerson da Costa Fonseca, acompanhado do praticante Alberto Carlos Praça. Era por volta de 10 horas quando eles desembarcaram na altura da Praticagem (naquela época, os práticos desembarcavam na altura da atual sede da Praticagem). Eu, do convés de passageiros, ao vê-los passarem do navio para a lancha da Praticagem, gritei insolentemente para os dois, “Aí seus vagabundos!”, o que foi por eles respondido com um aceno de mão. Hoje, nos meus 60 anos de idade, fico pensando, o que teria pensado o Comandante Ambrósio Ramalheira, que anteriormente comandou os navios Serpa Pinto e Santa Maria, desse meu gesto de garoto levado?

A marca de cigarro preferida do Praça era Marlboro de origem norte-americana, que eram dados aos práticos pelos comandantes, como brinde por efetuarem uma manobra segura e satisfatória. Assim, ganhei de Praça, alguns cartões de cigarros das mais variadas marcas, Chesterfield, Lucky Strike, L&M, além de cigarros de marca inglesa. O tempo foi passando, como costumava ir à Praticagem na companhia de Gerson da Costa Fonseca, que é meu tio por afinidade. Resolvi ser prático e comecei a fazer embarques ora com Praça, ora com Gerson. Os resultados nos exames foram bons, mas como as notas eram próximas, sempre me classificava. Mas não o suficiente para o pequeno número de vagas para a categoria profissional. O exame caducava em dois anos.

Por isso, fica aqui registrada a minha gratidão para esse homem que muito me ajudou e que com certeza, está ao lado do Pai Eterno. Praça fez tudo no sentido de que eu fosse um prático. Mas, Deus é sábio, e viu o que era bom para mim, me tornando Despachante Aduaneiro, que como sempre digo, continuo ao lado do porto e dos navios, até permitindo que eu faça alguns cruzeiros de vez em quando. Praça, você deixou saudades. Obrigado por tudo!

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