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Será que ela realmente foi morta com duas balas na cabeça, conforme disseram os investigadores? É difícil afirmar isso com toda certeza, uma vez que o corpo foi dinamitado por meio de uma poderosa substância explosiva utilizada pelo exército. Os médicos legistas tiveram de se contentar com fragmentos miúdos, que foram encontrados num canto de floresta virgem perto de Kuala Lumpur, a capital da Malásia, em 20 de outubro de 2006.
Baginda (centro) é levado por policiais para o tribunal em Kuala Lumpur |
Desde então, o pai da vítima, um senhor de cabelos acinzentados, professor de psicologia na universidade de Oulan-Bator, recuperou dos seus arquivos alguns retratos de família, e toda a Malásia conheceu o belo rosto da mongol assassinada. Alguns fragmentos de vida - uma infância feliz em São Petersburgo, quando ainda se chamava Leningrado, uma estada na China, diversas viagens, e dois filhos, de 3 e 9 anos, daqui para frente, órfãos em Oulan-Bator - vieram fornecer alguma perspectiva para as fotos. Só que para o restante, e principalmente para os derradeiros anos da curta vida da jovem Altantuya, em que talvez fosse possível encontrar as chaves do seu brutal desaparecimento, aos 28 anos, permanecem, um ano depois, de uma espantosa opacidade.
Aqueles que haviam esperado que o processo dos três homens acusados do seu assassinato fosse esclarecer o caso por completo ficaram decepcionados. Quanto mais este processo, que foi iniciado em 18 de junho, avança, mais a verdade parece afastar-se.
Não que o processo seja abafado por uma conspiração do silêncio. Amplamente repercutido pela mídia, o "caso Altantuya" deixa poucos malasianos indiferentes. Sexo, crime e política: até mesmo num país majoritariamente muçulmano, como permanecer insensível a um coquetel como este? Isso porque todo mundo sabe que o principal acusado, Abdul Razak Baginda, 47 anos, é um assessor próximo ao vice-primeiro-ministro e ministro da defesa, Najib Tun Razak, e também o sucessor designado do atual primeiro-ministro. Oriundo de uma grande dinastia política, "Najib" é, aos 54 anos, um homem-chave do regime.
Abdul Razak Baginda deve ser situado na categoria logo abaixo daquela dos principais dirigentes. Um personagem muito destacado, ele é um desses homens brilhantes e repletos de charme que gravitam ao redor do poder, que os poderosos apreciam a companhia e a habilidade em manter conversas, e buscam a indispensável expertise. Um diplomado do King’’s College de Londres, autor de vários livros, admirador de Napoleão, ele é um "analista político", dirige um (pequeno) grupo de reflexão criado em 1993, o Centro de Pesquisas Estratégicas da Malásia, citado eventualmente como "o think tank de Najib", freqüenta as conferências de Davos, e costuma ser entrevistado na televisão.
Ele vive luxuosamente, também; sai muito e costuma se exibir ao volante de uma Porsche. Perfeitamente integrado nos meios dirigentes da Malásia, sempre ao alcance por meio do seu telefone celular, Abdul Baginda é o interlocutor privilegiado dos jornalistas estrangeiros e das embaixadas. A França outorgou-lhe até mesmo a medalha da Legião de Honra.
Os caminhos de Abdul e de Altantuya se cruzaram, segundo o depoimento do primeiro, no final de 2004, por ocasião de uma noite de gala em Hong Kong. Diferentemente de uma idéia que se tornou predominante, a jovem mulher, poliglota - ela falava, "entre outras", diz o seu pai, inglês, russo e chinês -, não é modelo e sim uma intérprete. Os dois iniciam uma relação amorosa, que os conduz até a Europa e pela Ásia afora. Por exemplo, eles estavam juntos em junho de 2005, em Paris.
Mas, sempre segundo a versão do acusado, as coisas se complicaram. Altantuya reclamou dinheiro, sempre mais; ele rompeu a relação, ela quis chantageá-lo. Em outubro de 2006, quando ela vivia em Oulan-Bator com os dois filhos, ela retornou a Kuala Lumpur em companhia de duas amigas mongóis e assediou o seu antigo amante. Baginda, que deixou a sua mulher, uma antiga juíza, a par da relação extraconjugal, pediu a um amigo para ajudá-lo. Quem é este amigo? O assistente palaciano de Najib Tun Razak. Este último lhe enviou dois policiais da unidade de elite, encarregada da proteção dos altos dirigentes, principalmente do vice-primeiro-ministro.
Na noite de 19 de outubro, Altantuya cometeu um erro fatal. Ela foi sozinha até a frente da casa dos Baginda, num subúrbio da capital, para tentar vê-lo. Uma testemunha a viu entrar no carro dos dois policiais. Ninguém mais a verá novamente. Os dois policiais foram acusados de terem cometido o assassinato. Assim como Abdul Razak Baginda, acusado de tê-los incitados a matar a jovem mulher, eles podem ser condenados à pena de morte.
De onde vêm esta impressão difusa, que paira sobre Kuala Lumpur nestes últimos dias, de que nenhum dos três acusados nunca verá a corda da forca em volta do seu pescoço? E mesmo a impressão de que Baginda, pelo menos, será libertado? Desde o processo, muito contestado, de Anwar Ibrahim, um antigo número dois do governo Mahathir, desamparado e encarcerado por sodomia e corrupção de 1998 a 2004 - desde então, ele foi absolvido da primeira acusação -, nenhum episódio judiciário teve uma repercussão política tão grande na Malásia.
Para o próprio Anwar Ibrahim, a conclusão deste novo caso já é evidente: "Este processo é uma farsa", diz ao "Le Monde" aquele que está atualmente na oposição e e está inelegível até 2008. "Não há seriedade alguma no trabalho que vem sendo efetuado pelo ministério público, que declarou de antemão que o inquérito não seria prorrogado, que ninguém mais seria envolvido no caso. O que todas as evidências indicam, é que se trata de proteger alguém que exerce um posto muito elevado na hierarquia. Nada mudou desde o meu processo".
O presidente da comissão dos direitos humanos na ordem dos advogados da Malásia, Edmund Bon, enxerga neste processo "um teste". "A dois títulos", precisa. "Um teste para a polícia, que deveria fazer um inquérito nas suas próprias fileiras, e para o sistema judiciário, que tem por tarefa gerenciar um caso politicamente sensível para o vice-primeiro-ministro. A nossa justiça nunca mostrou um grande desempenho neste campo".
Será um "affair" passional que acabou mal, ou será um caso de Estado que não quer revelar o seu nome? Vários advogados sublinham a impressionante lista de anomalias que apareceram na condução do processo desde o início do caso - o juiz, e, em seguida, o procurador, que são substituídos às vésperas da abertura do processo; o advogado do policial que se retira logo no primeiro dia; as testemunhas que retiram o que disseram; a inconsistência do inquérito... Por que um simples caso passional necessitaria de tantas manobras?
Um episódio resume, por si só, esta suspeita. Ao depor no processo, uma prima da vítima recorda-se de que Altantuya lhe havia mostrado uma foto dela com o seu amante, Baginda, quando os dois estavam jantando em Paris com "um dirigente malasiano". "Será que ela lhe disse o nome deste dirigente?", interveio o advogado da família mongol, Karpal Singh, uma figura formidável da ordem dos advogados, apelidado de "o leão de Penang" e deputado por um pequeno partido de oposição. "Sim", respondeu a testemunha, "Najib Razak". Um alvoroço tomou conta da sala: o nome do ministro da defesa, pronunciado durante a audiência! Mas o interrogatório não foi mais adiante. "A afirmação não interessa ao processo", cortou o juiz. E não ocorreu a ninguém, exceto ao advogado Karpal Singh, instado a permanecer calado, a idéia de solicitar que a foto fosse mostrada. Mais tarde, o vice-primeiro-ministro, por intermédio de um porta-voz, declarou que ele nunca se encontrara com a jovem mulher - mesmo se de fato ele se encontrava em Paris em visita oficial, no mesmo momento que o casal, em meados de junho de 2005.
Por que este encontro em Paris, se ele realmente ocorreu, seria mesmo interessante? Porque um outro elemento, que até agora não foi abordado durante o processo, mas que tomou conta do mundo dos blogs na Malásia, vinculou o acusado ao vice-primeiro-ministro: a venda de dois submarinos franco-espanhóis Scorpene para a Malásia em 2002, um contrato de 1 bilhão de euros (R$ 2,6 bilhões), que foi disputado com unhas e dentes por Paris frente à concorrência alemã e holandesa. Os documentos que foram divulgados na época mostram que uma carta de intenção relativa à venda havia sido assinada em abril de 2002 entre o governo da Malásia e o agente local da diretoria francesa dos estaleiros navais (DCN), além da sociedade malasiana Perimekar.
Ora, o ministro da defesa já se chamava Najib Tun Razak, enquanto a Perimekar pertence parcialmente a... Abdul Razak Baginda, de quem podemos adivinhar melhor agora que ele não deve a sua medalha da Legião de Honra apenas à sua paixão por Napoleão. Quatro meses mais tarde, em agosto de 2002, o governo malasiano assinou o contrato com os franceses, enquanto a sociedade Perimekar conquistou um contrato "para o fornecimento de serviços de apoio e de coordenação pelo período de seis anos", segundo informa um comunicado recente (de abril de 2007) do ministério da defesa da Malásia.
O valor do contrato é de 114,96 milhões de euros (cerca de R$ 300 milhões). Trata-se de uma quantia muito grande, que representa mais de 10% do contrato total. A sua descrição em euros, em vez de ser estipulada em ringgites malasianos ou em dólares, permite supor que a quantia é paga pelos franceses para a Perimekar. No jargão dos mercadores de armas, este tipo de prática é chamado de "retro comissão".
O episódio não é destituído de interesse, mas o vínculo com a morte de Altantuya não chega a ser tão evidente assim, uma vez que na época em que os três juntos se encontraram na França, em junho de 2005, esses contratos já estavam assinados havia três anos. Será que Altantuya chegou a ser a testemunha de outras negociações? Será que ela sabia coisas demais? Em Kuala Lumpur, não dá para contar nem com a imprensa, controlada demais, nem com a oposição, muito carente de meios, para levar mais adiante a investigação. Tanto mais que um novo escândalo, levantado desta vez pelo equivalente local do Tribunal das Contas, acaba de revelar a existência de enormes despesas injustificadas, por parte do ministério da defesa. Sempre prudente, "Najib" permanece em silêncio.
Fonte: Le Monde - 20 AGO 07
Tradução: Jean-Yves de Neufville
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