Aproveitando-se do câmbio baixo e testemunhando o aumento nas vendas do varejo, a indústria de lingerie registrou um crescimento de 27% nas importações entre janeiro e julho. Foram US$ 14,6 milhões, ante US$ 11,4 milhões no mesmo período do ano passado. As exportações, por sua vez, tiveram um incremento de 2,3%. Apesar da variação dez vezes menor que a dos materiais trazidos de fora, as vendas para o exterior ainda garantem uma balança positiva para o setor, que embarcou o equivalente a US$ 21,8 milhões entre janeiro e julho, ante US$ 21,3 milhões em 2007. O aumento nas importações, no entanto, não tem sido o suficiente para inibir o desempenho das fabricantes nacionais. Um mercado interno propenso a fazer compras tem colaborado para boas perspectivas. Segundo o diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, "a expectativa para o setor é de crescer 10% neste ano, devido à boa fase do varejo nacional". Isso pode elevar o faturamento geral a R$ 5 bilhões em 2008, depois de já ter crescido 13% e chegado a R$ 4,5 bilhões em 2007. Na fabricante de artigos de alto padrão Jogê, 2008 será um ano ainda mais forte. As vendas da empresa devem crescer entre 16% e 18%, depois de um longo período de desempenho tímido, na faixa dos 5%, e um impulso que já teve início em 2007, quando avançou 10%. O dólar fraco abriu uma porta para auxiliar no fornecimento, suprido por uma produção local de 40 mil peças por mês. Embora as importações tenham historicamente uma participação pequena na Jogê, na faixa dos 3%, foram ampliadas para 5% no último ano. Pequenas também crescem Não são apenas as marcas mais famosas que estão se beneficiando do aumento nas compras. A fluminense Belle, por exemplo, aguarda para 2008 alta de 100% em sua receita. O impulso será conseqüência da estratégia aplicada neste ano de expandir sua participação no País. Atuante principalmente no interior do Rio de Janeiro, onde está localizada, e capital, está reforçando agora os negócios em São Paulo e outros estados. Na paulistana Darling, o volume de vendas deve subir das 2,5 milhões de peças que comercializou em 2007, para 2,6 milhões em 2008. Também o crescimento tímido das exportações ou o dólar caro não têm combalido as intenções de investimentos no exterior. Gilberto Romanato, sócio da Universo Íntimo, conta que aguarda um crescimento de 30% para a empresa. "Nossa linha é mais voltada para moda, não competimos muito com os produtos trazidos da China", disse. A empresa acabou de fechar uma parceria com uma grande rede norte-americana, que deverá distribuir seus produtos nas mais de mil lojas que possui no país. A Universo Íntimo começou a fazer exportações no final do ano passado, e calcula que devam representar 30% das vendas até o final de 2008.
Em meio à epidemia de infecções por micobactérias nos hospitais, especialistas apontam comportamentos dos profissionais de saúde que aumentam os riscos de contaminações hospitalares. A higiene das mãos, por exemplo, cuidado mais básico e eficaz para diminuir a incidência do problema, é freqüentemente esquecida no corre-corre das enfermarias. Falhas na esterilização dos equipamentos e ausência de comissões para controle de infecções nos hospitais - uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - também contribuem para agravar o problema.A Anvisa considera que a falta de limpeza de equipamentos seria a causa principal dos 1.937 casos de infecção por micobactéria confirmados desde 2001.Thaís Guimarães, presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Central do Hospital das Clínicas, em São Paulo, explica que não basta lavar as mãos: é necessário higienizá-las com produto à base de álcool. "Infelizmente, os médicos são os profissionais de saúde que mais esquecem esse procedimento", afirma Thaís. O excesso de trabalho e a ausência de infra-estrutura adequada, como pias próximas aos locais de atendimento, são apontados como os principais responsáveis pelo problema. Antes e depois de atender um paciente, o médico deveria higienizar as mãos para não se tornar um vetor de infecções. "Quando há falta de pessoal, é difícil exigir isso", afirma Renato Grinbaum, da Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecções Hospitalares.INSTRUMENTOSMuitas vezes, os médicos têm seus próprios instrumentos cirúrgicos, que levam de um hospital para outro. O cirurgião plástico Antônio Gonçalves Pinheiro, do Conselho Federal de Medicina (CFM), afirma que os serviços de saúde deveriam garantir a esterilização desses equipamentos. "Quando o profissional chega atrasado para a cirurgia, pode ignorar os procedimentos necessários", afirma Pinheiro. No Fleury Hospital-Dia, por exemplo, os médicos são obrigados a entregar o instrumento que será utilizado na cirurgia com 24 horas de antecedência, para esterilização. Com isso, a taxa de infecção é de apenas 1%.No Brasil, as normas oficiais surgiram a partir de 1983. Hoje, a Anvisa estima uma taxa de infecção hospitalar de 15,5%, com cerca de 50 mil óbitos anuais. No entanto, 24% dos hospitais não têm comissões de controle das infecções, grupo multiprofissional que combate o problema dentro das unidades. Segundo o diretor-presidente da agência, Dirceu Raposo de Mello, as ações para combater as infecções "não têm nada de revolucionário". "Os protocolos de esterilização estão todos no nosso site. E o que o protocolo diz? Água e sabão, secar os equipamentos e então fazer a desinfecção ou esterilização."
A mineradora sul-africana Anglo American viveu dois milagres econômicos no Brasil. Mas foram necessários 24 anos para apostar de fato suas fichas no País, onde fincou sua base em 1973. Até o ano passado, a operação brasileira da Anglo era a lanterninha entre as dez subsidiárias. A entrada em minério de ferro, com a compra da MMX do empresário Eike Batista, colocou a filial em outro patamar.Hoje aparece entre os três maiores destinos de investimentos do grupo, ao lado do Chile e da África do Sul. Só essa área vai receber US$ 10 bilhões até 2010, sendo 55% apenas neste ano, um recorde na história da multinacional e talvez o maior desembolso feito por estrangeiros neste ano de uma só vez. "O Brasil entrou no radar da Anglo. A companhia decidiu apostar alto porque quer participar desse crescimento", diz o presidente da Anglo Ferrous Brazil, Alexandre Gomes.O "radar" da Anglo dá a medida da importância que o Brasil ganhou no cenário internacional. Entre 2006 e 2007, o País teve o maior crescimento de investimentos diretos estrangeiros entre as economias emergentes, à frente de China, Índia e Rússia, segundo a Unctad, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. O volume dobrou - saiu de US$ 18,8 bilhões para US$ 37,4 bilhões. Até julho deste ano, encostou em US$ 20 bilhões, o que leva a acreditar que o País deve atingir neste ano o mesmo patamar de 2007, contrariando a tendência mundial, que aponta queda de 37% no fluxo de investimentos. Quando a expressão Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) foi cunhada pelo banco Goldman Sachs, há sete anos, economistas do mundo inteiro questionaram a presença do Brasil. Até 2006, ainda não havia consenso se o País poderia ou não fazer parte do bloco que dominaria a economia em 40 anos. O banco revisou suas análises e o manteve na lista.Ainda assim, para muitas multinacionais e fundos de participação estrangeiros, o Brasil só foi redescoberto mais recentemente. "O País está passando por novas fases de crescimento, diferente dos vôos de galinha de antes. Os investidores agora conseguem enxergar a longo prazo", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima.O avanço em alguns aspectos macroeconômicos é indiscutível. Com a inflação sob controle, os juros em queda, a melhora na renda e a maior oferta de crédito, o consumo disparou, fazendo a festa das montadoras, das construtoras, das empresas de alimentos, dos bancos, das fabricantes de eletroeletrônicos e do varejo de forma geral. O Brasil ainda perde em termos de tamanho e custo de mão-de-obra, mas os estrangeiros estão sendo atraídos principalmente pelo crescimento do mercado local. Nesse quesito, o País já ganha da China, iguala-se à Índia e só perde para a Rússia, segundo levantamento da Unctad e elaborado pela Sobeet.O acesso a recursos naturais e a mão-de-obra eficiente faz o Brasil ter preferência dentro dos Brics. Daí o espantoso interesse da Anglo American, da ArcelorMittal, que na semana passada pagou US$ 830 milhões por uma única mina de ferro em Minas Gerais, e das petrolíferas. Isso, sem falar no etanol, que fez uma legião de gringos construírem ou apenas visitarem usinas por aqui.O Wal-Mart, no País desde 1995, não teria reservado um investimento de R$ 1,8 bilhão para o próximo ano se não confiasse num bom cenário. Neste ano, a classe média tornou-se maioria (51%). Desde 2004, a rede americana já aplicou R$ 3 bilhões na operação brasileira, sendo R$ 1,2 bilhão neste ano. Hoje a filial é referência para outros emergentes. O último presidente, Vicente Trius, assumiu no ano passado a operação da cadeia de supermercados na Ásia. A expectativa em Bettonville, sede do Wal-Mart, é que ele repita do outro lado do mundo a experiência tida aqui. O Carrefour chegou a cogitar sair do Brasil por dificuldades em competir com o alto grau de informalidade no setor. Em 2007, deu o recado contrário ao pagar R$ 2,2 bilhões (à vista) pelo Atacadão.
No Rio Grande do Sul, muitos agricultores estão viabilizando a produção de grãos por meio da rentabilidade obtida com a cultura do fumo. Mesmo ocupando uma pequena parte da propriedade rural, 2,4 hectares em média, o produto chega a responder por até 85% da renda bruta da lavoura que, na safra passada, somou de R$ 3,8 bilhões.Enquanto as commodities agrícolas estão em constante oscilação no mercado, nos últimos 10 anos o preço valorizou 123,68% - com a inflação corrigida o incremento foi de cerca de 30% -, sempre em linha ascendente com exceção da safra 2006/2007 quando problemas climáticos afetaram a qualidade do produto. Nesse período o fumo foi negociado a R$ 1,66 o quilo. Em 2008, o preço na porteira é de R$ 5,40, em média.No Município de Venâncio Aires, maior produtor mundial de fumo, é possível observar essa tendência. Dos 38 hectares que possui, o produtor Antonio Alcir Coutinho dedica 15 hectares a produção de fumo e só não aumenta a produção pela limitação logística e de mão-de-obra."Mais de 70% do rendimento que eu tenho é com o fumo", afirma. Experiência semelhante tem o produtor da mesma cidade, Sidnei Faleiro, que usa 2,7 hectares dos 11 hectares de sua propriedade para o plantio da cultura. "Só não planto na área toda por causa do custo da mão-de-obra", diz .Na região é comum produtores vizinhos se ajudarem na época da colheita, sendo praticamente nulo o número de trabalhadores contratados. Na mesma propriedade o produtor também cria gado para subsistência e conta que o dinheiro recebido pelo fumo é o que tem garantido a manutenção dos animais. A estimativa para a próxima safra é a de a produção tenha um aumento de 720 mil toneladas para 760 mil toneladas, resultado da expansão de área, de 354 mil hectares para 376 mil hectares, segundo números divulgados ontem pelo Sindicato da Indústria do Fumo (Sindifumo).IndústriaPara estimular esse crescimento da produção as indústrias da região investem no sistema integrado de produção, no qual são firmados contratos de um ano, em média, com os produtores que terão garantia de venda, assistência técnica e financeira e o frete do produto financiados pelas empresas. Em contrapartida, as fábricas conseguem fazer o planejamento adequado dos volumes e o controle de qualidade.Para a indústria, o negócio também tem se mostrado rentável. Desde 1993 o Brasil se mantém como líder mundial das exportações de fumo, na frente da China, Índia e Estados Unidos. Em 2007, as vendas externas do produto (700 mil toneladas) geraram uma receita de US$ 2,2 bilhões. "A projeção para 2008 é que o volume embarcado diminua para 650 mil toneladas, mas que a receita aumente para US$ 2,6 bilhões", destaca Iro Schünke, presidente do Sindifumo."Apesar do dólar baixo a demanda está aquecida pela falta de produtos em outros países, tudo o que foi plantado nessa safra foi comprado. Não vai sobrar nada no Brasil esse ano", afirma Octavio Vitiello, gerente de logística e exportação de fumo da Souza Cruz.Com a produção totalmente baseada na agricultura familiar a competição fica mesmo por conta das indústrias. A Alliance One, uma das maiores empresas de beneficiamento de fumo do mundo, já reclama do forte aumento do número de atravessadores no mercado."Com o aumento da demanda mundial tem atravessadores comprando direto do produtor a preços mais tentadores. O produtor integrado procura continuar fiel a empresa, mas já é uma preocupação do setor", diz Adilson Ricardo Closs, supervisor de produção agrícola da Alliance One.A empresa está negociando com o governo de Santa Catarina a instalação de uma unidade fabril no estado, em Araranguá (SC), no sul do estado, com investimentos iniciais previstos em R$ 70 milhões. A empresa é uma que está tendo dificuldades em negociar com o governo gaúcho o acúmulo de créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que somam mais de US$ 100 milhões.Pode-se dizer que a cultura do fumo é a agricultura familiar que deu certo. Nessa cultura, cerca de 70% da renda do setor fica nas mãos do produtor, que teve na última safra uma receita média de R$ 11 mil por hectare. Os 182 mil produtores rurais que cultivaram o produto no ano passado geraram uma receita da ordem de R$ 3,8 bilhões na safra 2007/2008.Na grande maioria minifundiários, os produtores de fumo costumam destinar cerca de 15% da propriedade - o que geralmente equivale a 2,4 hectares - para plantio do produto. O restante da lavoura costuma ser dividido entre: milho (2,7 ha), feijão (0,5 ha), arroz, batata, cebola, mandioca, hortifrutigranjeiros (todos com 1 ha ).No total, a área plantada é de 16,1 ha . A distribuição da produção está concentrada na região Sul do País. Com 50% no Rio Grande do Sul, 33% em Santa Catarina e 17% no Paraná. Nos três estados a produção de fumo envolve hoje cerca de 800 mil pessoas no meio rural e gera 30 mil empregos diretos nas indústrias. Estes são dados oficiais do Sindifumo.
O Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), maior banco de crédito chinês, anunciou ontem que se tornou o banco mais rentável do mundo no primeiro semestre do ano, com um lucro de 64,8 bilhões de iuanes (US$ 9,4 bilhões). Com isso, o chinês superou o rival HSBC Holdings Plc, que registrou ganho de US$ 7,72 bilhões."De acordo com todos os resultados provisórios que anunciamos até agora, o ICBC se tornou o banco mais rentável do mundo no primeiro semestre de 2008", indicou um comunicado da entidade bancária.Segundo o ICBC, os US$ 9,4 bilhões de lucro líquido nos primeiros seis meses do ano representam um aumento de 56,75% no mesmo período em 2007. O lucro bruto não foi anunciado.Jiang Jianqing, presidente do ICBC, mais do que duplicou os lucros do banco desde 2005 ao passo que o crescimento econômico do país superou os 10% impulsionando as tomadas de crédito e serviços financeiros."Isso nos mostra o poder econômico da China", disse Yuk Kei Lee, analista da Core Pacific-Yamaichi International em Hong Kong. "A força rentável do ICBC já superou outros gigantes do cenário financeiro mundial, mas precisamos de tempo para ver se esse desenvolvimento irá se sustentar", acrescentou o analista.As ações do banco chinês fecharam o pregão de ontem com queda de 2,9% na Bolsa de Valores de Hong Kong.De acordo com números do próprio banco, o ICBC tem 16.476 agências em todo o país e 112 no exterior. A instituição financeira também conta com 170 milhões de clientes na China - o equivalente à população de Rússia e Canadá juntas.A expansão do banco acontece em um momento em que o governo chinês se esforça para desacelerar a expansão do crédito na região por meio da imposição de cotas para empréstimos e elevação de taxas.Merrill LynchA Temasek Holdings Pte, maior acionista da Merrill Lynch & Co., deverá adquirir uma participação maior no banco de investimentos norte-americano, em uma aposta de que ele recuperará seu desempenho."Se houver oportunidade, gostaríamos de examinar essa possibilidade", disse S. Dhanabalan, presidente do conselho administrativo da empresa de investimento soberano de Cingapura. "Se faremos isso ou não, dependerá da nossa avaliação e da diversificação dos riscos".Os fundos soberanos de investimento como a Temasek, a Kuwait Investment Authority e a China Investment Corp. ajudaram bancos como o UBS AG e o Citigroup Inc. a repor mais de US$ 200 bilhões em capital depois dos prejuízos e baixas contábeis registrados em conseqüência da crise do crédito de alto risco (subprime) norte-americano.A Temasek é geralmente considerada o segundo fundo soberano de Cingapura. A Government of Singapore Invest Corp., ou GIC, administra mais de US$ 100 bilhões em reservas do país.No mesmo dia, o banco estatal de Crédito para a Reconstrução e o Desenvolvimento (KfW) da Alemanha vendeu para o grupo de investimento americano Lone Star sua participação de 90,8% no Banco de Indústria Alemão (IKB). O KfW informou que o valor da venda foi positivo, apesar de não cumprir as expectativas iniciais. Ambas as partes concordaram em não anunciar os detalhes financeiros da transação.InvestigaçãoO Federal Reserve (Fed - o banco central norte-americano) convocou o Credit Suisse para conferir se a instituição teria cortado uma linha de crédito do Lehman Brothers, como era comentado no mercado, informou o Wall Street Journal, citando fontes próximas ao assunto. O Credit Suisse disse às autoridades que o boato não procedia e que o banco não tem a intenção de cortar o crédito.No mês passado, autoridades do Federal Reserve contataram o Credit Suisse, mas não ficou claro se o movimento aconteceu antes ou depois da comissão de valores mobiliários norte-americana (SEC) ter intimado muitos hedge funds e instituições financeiras para responder sobre quatro rumores envolvendo o Lehman Brothers.