Sexta, 31 Janeiro 2025

No Rio Grande do Sul, muitos agricultores estão viabilizando a produção de grãos por meio da rentabilidade obtida com a cultura do fumo. Mesmo ocupando uma pequena parte da propriedade rural, 2,4 hectares em média, o produto chega a responder por até 85% da renda bruta da lavoura que, na safra passada, somou de R$ 3,8 bilhões.

Enquanto as commodities agrícolas estão em constante oscilação no mercado, nos últimos 10 anos o preço valorizou 123,68% - com a inflação corrigida o incremento foi de cerca de 30% -, sempre em linha ascendente com exceção da safra 2006/2007 quando problemas climáticos afetaram a qualidade do produto. Nesse período o fumo foi negociado a R$ 1,66 o quilo. Em 2008, o preço na porteira é de R$ 5,40, em média.

No Município de Venâncio Aires, maior produtor mundial de fumo, é possível observar essa tendência. Dos 38 hectares que possui, o produtor Antonio Alcir Coutinho dedica 15 hectares a produção de fumo e só não aumenta a produção pela limitação logística e de mão-de-obra.

"Mais de 70% do rendimento que eu tenho é com o fumo", afirma. Experiência semelhante tem o produtor da mesma cidade, Sidnei Faleiro, que usa 2,7 hectares dos 11 hectares de sua propriedade para o plantio da cultura. "Só não planto na área toda por causa do custo da mão-de-obra", diz .

Na região é comum produtores vizinhos se ajudarem na época da colheita, sendo praticamente nulo o número de trabalhadores contratados. Na mesma propriedade o produtor também cria gado para subsistência e conta que o dinheiro recebido pelo fumo é o que tem garantido a manutenção dos animais. A estimativa para a próxima safra é a de a produção tenha um aumento de 720 mil toneladas para 760 mil toneladas, resultado da expansão de área, de 354 mil hectares para 376 mil hectares, segundo números divulgados ontem pelo Sindicato da Indústria do Fumo (Sindifumo).

Indústria

Para estimular esse crescimento da produção as indústrias da região investem no sistema integrado de produção, no qual são firmados contratos de um ano, em média, com os produtores que terão garantia de venda, assistência técnica e financeira e o frete do produto financiados pelas empresas. Em contrapartida, as fábricas conseguem fazer o planejamento adequado dos volumes e o controle de qualidade.

Para a indústria, o negócio também tem se mostrado rentável. Desde 1993 o Brasil se mantém como líder mundial das exportações de fumo, na frente da China, Índia e Estados Unidos. Em 2007, as vendas externas do produto (700 mil toneladas) geraram uma receita de US$ 2,2 bilhões. "A projeção para 2008 é que o volume embarcado diminua para 650 mil toneladas, mas que a receita aumente para US$ 2,6 bilhões", destaca Iro Schünke, presidente do Sindifumo.

"Apesar do dólar baixo a demanda está aquecida pela falta de produtos em outros países, tudo o que foi plantado nessa safra foi comprado. Não vai sobrar nada no Brasil esse ano", afirma Octavio Vitiello, gerente de logística e exportação de fumo da Souza Cruz.

Com a produção totalmente baseada na agricultura familiar a competição fica mesmo por conta das indústrias. A Alliance One, uma das maiores empresas de beneficiamento de fumo do mundo, já reclama do forte aumento do número de atravessadores no mercado.

"Com o aumento da demanda mundial tem atravessadores comprando direto do produtor a preços mais tentadores. O produtor integrado procura continuar fiel a empresa, mas já é uma preocupação do setor", diz Adilson Ricardo Closs, supervisor de produção agrícola da Alliance One.

A empresa está negociando com o governo de Santa Catarina a instalação de uma unidade fabril no estado, em Araranguá (SC), no sul do estado, com investimentos iniciais previstos em R$ 70 milhões. A empresa é uma que está tendo dificuldades em negociar com o governo gaúcho o acúmulo de créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que somam mais de US$ 100 milhões.

Pode-se dizer que a cultura do fumo é a agricultura familiar que deu certo. Nessa cultura, cerca de 70% da renda do setor fica nas mãos do produtor, que teve na última safra uma receita média de R$ 11 mil por hectare. Os 182 mil produtores rurais que cultivaram o produto no ano passado geraram uma receita da ordem de R$ 3,8 bilhões na safra 2007/2008.

Na grande maioria minifundiários, os produtores de fumo costumam destinar cerca de 15% da propriedade - o que geralmente equivale a 2,4 hectares - para plantio do produto. O restante da lavoura costuma ser dividido entre: milho (2,7 ha), feijão (0,5 ha), arroz, batata, cebola, mandioca, hortifrutigranjeiros (todos com 1 ha ).

No total, a área plantada é de 16,1 ha . A distribuição da produção está concentrada na região Sul do País. Com 50% no Rio Grande do Sul, 33% em Santa Catarina e 17% no Paraná. Nos três estados a produção de fumo envolve hoje cerca de 800 mil pessoas no meio rural e gera 30 mil empregos diretos nas indústrias. Estes são dados oficiais do Sindifumo.

Fonte: DCI - 22 AGO 08

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