Em meio à epidemia de infecções por micobactérias nos hospitais, especialistas apontam comportamentos dos profissionais de saúde que aumentam os riscos de contaminações hospitalares. A higiene das mãos, por exemplo, cuidado mais básico e eficaz para diminuir a incidência do problema, é freqüentemente esquecida no corre-corre das enfermarias. Falhas na esterilização dos equipamentos e ausência de comissões para controle de infecções nos hospitais - uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - também contribuem para agravar o problema.
A Anvisa considera que a falta de limpeza de equipamentos seria a causa principal dos 1.937 casos de infecção por micobactéria confirmados desde 2001.
Thaís Guimarães, presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Central do Hospital das Clínicas, em São Paulo, explica que não basta lavar as mãos: é necessário higienizá-las com produto à base de álcool. "Infelizmente, os médicos são os profissionais de saúde que mais esquecem esse procedimento", afirma Thaís. O excesso de trabalho e a ausência de infra-estrutura adequada, como pias próximas aos locais de atendimento, são apontados como os principais responsáveis pelo problema. Antes e depois de atender um paciente, o médico deveria higienizar as mãos para não se tornar um vetor de infecções. "Quando há falta de pessoal, é difícil exigir isso", afirma Renato Grinbaum, da Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecções Hospitalares.
INSTRUMENTOS
Muitas vezes, os médicos têm seus próprios instrumentos cirúrgicos, que levam de um hospital para outro. O cirurgião plástico Antônio Gonçalves Pinheiro, do Conselho Federal de Medicina (CFM), afirma que os serviços de saúde deveriam garantir a esterilização desses equipamentos. "Quando o profissional chega atrasado para a cirurgia, pode ignorar os procedimentos necessários", afirma Pinheiro. No Fleury Hospital-Dia, por exemplo, os médicos são obrigados a entregar o instrumento que será utilizado na cirurgia com 24 horas de antecedência, para esterilização. Com isso, a taxa de infecção é de apenas 1%.
No Brasil, as normas oficiais surgiram a partir de 1983. Hoje, a Anvisa estima uma taxa de infecção hospitalar de 15,5%, com cerca de 50 mil óbitos anuais. No entanto, 24% dos hospitais não têm comissões de controle das infecções, grupo multiprofissional que combate o problema dentro das unidades. Segundo o diretor-presidente da agência, Dirceu Raposo de Mello, as ações para combater as infecções "não têm nada de revolucionário". "Os protocolos de esterilização estão todos no nosso site. E o que o protocolo diz? Água e sabão, secar os equipamentos e então fazer a desinfecção ou esterilização."
Fonte: O Estado de S. Paulo - 26 AGO 08