Caros leitores,
Em continuidade ao relato da evolução da navegação fluvial na França, hoje iremos abordar o transporte de madeira por flutuação, onde foi utilizada pela primeira vez uma técnica de logística: a unitização.
A madeira foi importante na economia da França Antiga, como matéria-prima para a construção, para o mobiliário e para a carpintaria de carroças. Foi, também, o combustível por excelência para o aquecimento doméstico, para a panificação e para os usos industriais.
Paris foi o mais importante centro consumidor de madeira e o desmatamento se estendeu pouco a pouco até áreas distantes da capital francesa. No fim do século XVIII, a madeira consumida vinha principalmente da região de Morvan pelo Alto Sena, Yonne e seus afluentes, graças a flutuação.
A flutuação era composta por duas fases sucessivas, a flutuação à “lenha perdida”, que era utilizada nos afluentes do rio Yonne, especialmente adequado para essa finalidade, e depois por flutuação “em comboio”, de Clamecy à Paris.
Em Clamecy, a 250 km de Paris, os troncos de lenha, jogados nos pequenos afluentes a montante, eram retirados d'água, classificados por tamanho e dispostos em pilhas. Eram então agrupados em fardos ao longo de margens suaves que facilitassem a recolocação na água. Amarrados em comboios eram conduzidos até Paris, carregados pela correnteza.
Nos períodos de estiagem, barragens eram abertas simultaneamente, para criar uma enchente artificial. Essa técnica, chamada de “navegação por eclusagem” ,fornecia a profundidade de água necessária para fazer flutuar as “jangadas” de madeira e a correnteza permitia um deslocamento “rápido” em direção à Paris, com uma velocidade aproximada de 5 km/h.
Nos trechos estreitos do leito do rio, nas pontes e ilhas, ocorriam frequentes choques entre os comboios e eventuais embarcações que estivessem na correnteza, ocasionando danos e atirando pessoas na água. Em Paris, os blocos de lenha eram retirados d'água para secagem e comercialização em mercados livres ao longo do Porto de Greve, próximo de Notre Dame.
No Brasil, essa prática também foi utilizada no Rio Uruguai, divisa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no transporte dos troncos de araucárias, “pinheiros do Paraná”, até o porto de Buenos Aires, do final do século XIX até meados do século XX.
No Canadá a flutuação ainda é utilizada para o transporte de madeira em toras até o Porto de Vancouver. Na Amazônia infelizmente esta pratica também é utilizada no contrabando de madeiras nobres, como o mogno e outras espécies em extinção.
Referência bibliográfica:
BEAUDOUIN, F. Paris e la batellerie du XVII au XX siécle. Paris: Editions Maritimes & D'Outre Mer, 1979. 32p.
Henn/, B.,Henry M. Voyageurs aux Iongs jours. Paris: Les Editions Arthaud, 1982.216p.