Segunda, 09 Dezembro 2024

Três foram as razões que me impeliram a escrever novamente sobre o magistral Parque Balneário Hotel. A primeira foi a solicitação de Eduardo Pappacena Carneiro, proprietário da tradicional loja de artigos masculinos Ao Camiseiro, para ver uma imagem do antigo Parque Balneário, visto do lado praia, ou melhor dizendo da Av. Vicente de Carvalho. A segunda foi a ideia da amiga e jornalista Viviane Pereira, autora de várias obras, propondo o relançamento do livro Memórias da Hotelaria Santista, lançado em 1997, juntamente com a jornalista Helena Maria Gomes. Por fim a terceira, que foi ao ler recentemente, o belo e nostálgico artigo Parque Balneário, o Hotel dos Sonhos, de autoria do conhecido jornalista Luiz Gonzaga Alca de Sant´Anna, na excelente revista Depois da Cena, que é um autêntico espaço cultural do jornal A Tribuna.

No início do artigo Luiz Alca, se referindo ao mais famoso estabelecimento da hotelaria de Santos em todos os tempos, conta: “Tal qual o Negresco de Nice, ou o Chateau Frontenac, de Quebec, Santos já teve o seu hotel dos sonhos, sim”. - Uma feliz citação feita pelo conhecido colunista social, colocando o Parque Balneário, no mesmo patamar dessas mundialmente conhecidas edificações situadas na França e no Canadá.

Quem teve a felicidade de ver o Parque, como era chamado carinhosamente o querido hotel, pode endossar, o que aqui digo. Foi uma das maiores belezas que a Cidade já teve em todos os tempos.

Não havia lugar igual para festas de casamentos, bodas, banquetes, bailes de formatura e carnaval. Era o local que todos os músicos tinham a ambição de tocar, como comentou o grande músico santista Plínio Metropolo, que lá tocou nos anos dourados, durante entrevista dada a um conhecido periódico.

Orquestras famosas animaram suas festas como: Zezinho Arruda Paes, Waldir Calmon, Cabral e Los Cubancheros, Sylvio Mazzuca. Além de conjuntos como o de Roberto Ferri, Simoney (pai do ator Ney Latorraca) e seu conjunto, Tico-Tico e seu conjunto. Foram muitas as orquestras, conjuntos, cantores e cantoras que por lá se apresentaram.

Tudo que era destaque acontecia no Parque, como a notícia publicada no Jornal A Gazeta de São Paulo de junho de 1964 (época da Bossa Nova) cujo exemplar pertence ao acervo de Benê Siqueira:

Havia Sol. Havia juventude. Todo Mundo reunido no Parque Balneário no bar, no terraço, a movimentação da turma jovem. Em todas as mesas, rapazes e moças em alegre confraternização numa reunião quase sem motivo maior. E gente animada para apreciar e cultivar a bossa nova brasileira. Por isso a tarde foi bonita. Bom tempo lá fora com o sol em céu azul. Bom tempo lá dentro com juventude e alegria. Havia muita gente, dentre elas, destacavam-se Eurico Cabral Guedes, Jonas Melo, Eunice Tomé, Marta Morel, Mário Antonio Cunha Pires, Sidney Marques, Rubens Mejias, Maria H. Pacheco Profeta do Nascimento e Silva, Maria Helena Pierry, Maria Helena Chiarello, Marisa e Marli Quintas, Ademir Esteves de Sá, Marco Antonio de Mello e Faro, Ana Maria Fornos, Rosana Del Porto, Ronald Conway e Benedito Teodoro de Carvalho Siqueira”.

Esse é um dos incontáveis acontecimentos realizados no Parque Balneário. 

No livro Memórias da Hotelaria Santista há um capítulo, dedicado ao grande hotel, que conta o seguinte:

“Primeiro havia uma construção pequena, que pertencia a Alberto Fomm e Elisa Poli. Foi vendida em 1912, surgindo então um edifício imponente, construído por etapas. O projeto original não chegou a ser concluído.

Em 1914, mesmo ano que foi inaugurada a Ponte Pênsil, o Parque Balneário Hotel começou a funcionar dirigido por João Fraccaroli. Ficou conhecido no País e no exterior. Era o centro turístico de Santos nos anos 30, 40, 50 e 60.

Em seus salões aconteceram muitos bailes homenagens, com a presença de autoridades, como o rei Alberto, da Bélgica, Afonso Pena, Getúlio Vargas, Júlio Prestes, Juscelino Kubitscheck, Ademar de Barros e João Goulart, além de pessoas em evidência no período, como os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, e o general Mark Clark, comandante do exército americano durante a II Guerra Mundial, General Craveiro Lopes, presidente de Portugal (1957).

Era comum a fundação de entidades e firmas durante eventos organizados no Balneário. O Tênis Clube de Santos, por exemplo, nasceu numa dessas ocasiões. Entre suas paredes, foram tomadas decisões que afetaram diretamente a população. Como aconteceu durante o banquete oferecido a Washington Luís, que voltava de uma viagem à Europa. Ele aproveitou a oportunidade e lançou sua candidatura à presidência da República. Acabou eleito em 1926.

“Naquele tempo havia muito romantismo. Sinto muitas saudades”, lembra o pianista e organista Weser Silva, mais conhecido como Tico-Tico. De 1959 até 1970, um luminoso na fachada principal do Balneário avisava que havia show do músico e sua orquestra. Eles tocavan no jardim de inverno até 23 horas. Depois, iam para a boate, onde ficavam até ás 3 horas da madrugada. As pessoas chegavam para jantar e juntavam mesa de 30, 40 pessoas que comiam e dançavam. Ouviam-se músicas clássicas, com o piano, violino, contrabaixo e violoncelo. “Depois tocávamos de tudo”.

Aconteciam no Balneário muitos shows internacionais. “Era o glamour. Nenhuma outra casa oferecia isso em Santos. As senhoras e moças iam muito bem vestidas”, recorda. Entre os artistas embalados por sua música, Tico-Tico destaca Julie Wood e Nat King Cole, a quem acompanhou como pianista. “Um pedaço de mim ficou no Balneário”, lamenta.

Se em música o atendimento era de primeira, na cozinha não era diferente. O cozinheiro Odil Neves Oliveira 72 anos, trabalhou no hotel na década de 50. “Por causa do cassino, o movimento era diário. O Balneário era a sala de visita do Brasil, considerado o melhor hotel da América do Sul de 40 e 60”. Segundo conta Odil, havia um chefe e ajudante para cada seção na cozinha. Ele preparava os peixes. “Lá dava gosto trabalhar, porque tudo era organizado”.

Em 1966, o Balneário foi vendido ao Santos Futebol Clube, que lá instalou sua sede social e ainda manteve o hotel por algum tempo. O edifício foi demolido. Atualmente, o terreno é ocupado pelo Hotel Turismo Parque Balneário (Av. Ana Costa, 555), e pelo Shopping Center  Balneário, além de edifício particulares”.

Felizmente o “hotel dos sonhos”, ficou na memória dos que o vivenciaram, e nas imagens de cartões-postais e fotografias. Como as que se encontram numa bela moldura, no saguão de entrada do novo Parque Balneário Hotel. Esse painel foi oferecido quando da sua reinauguração por admiradores do célebre hotel, com imagens internas e externas do estabelecimento. Dentre esses admiradores que fizeram a referida oferta estão: Narciso de Andrade, Jaime Caldas, José Carlos Rossini, José Carlos Silvares, João Emílio Gerodetti, o autor, entre outros. Para os que gostam e apreciam as coisas santistas do passado, vale a pena ser visto.

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