Congestionamentos no trânsito e emissões são marcas da maioria das grandes cidades do planeta - suas metrópoles, em particular. Gerenciá-los e reduzi-los é desafio para autoridades e toda a sociedade. No caso da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), a quarta maior conurbação mundial (quase 20 milhões de hab.), esse desafio é ainda maior. Os números das cargas, p.ex., são expressivos: 25.000 viagens/dia só para a construção civil (110 milhões ton/ano – mais que o Porto de Santos!); e mais de 400 mil/dia para o conjunto das cargas que abastecem a população e garantem o funcionamento do maior polo econômico da América Latina.
Mapa do projeto Hidroanel Metropolitano na capital paulista
Uma ameaça, sim. Mas há, também, uma oportunidade! Você já tinha pensado que São Paulo é quase uma ilha? Pois é. Se conectados, os rios Tietê + Pinheiros, as represas de Billings + Taiaçupeba, e com um canal de 25 e 30 km, ligando-as, ter-se-ia um hidroanel de 170-180 km! Este, que nasceu da releitura de 67 projetos, de múltiplos autores, elaborados ao longo do século XX, demandaria investimentos da ordem de (apenas!) R$ 3 bilhões, e seria possível ser implantado ainda nesta década.
Seus benefícios logísticos e ambientais, e da retomada da navegação de cargas na RMSP, intensa até meados do século XX (de passageiros mantem-se há 80 anos na represa!), poderiam, ainda, ser potencializados, pois ele se superpõe aos rodo e ferro anéis. E, isso, em três estratégicos pontos (integração trimodal!). Ambientalmente pode, também, ser um dos instrumentos, tanto da “Política Nacional de Resíduos Sólidos” (destacando-se a exigida “logística reversa”), como da “Política Estadual de Mudanças Climáticas – PEMC” (meta de redução de 20% das emissões do ano-base 2005, até 2020 - quase 60% do previsto para aquele ano!).
Mas, além da navegação, ele pode ter outras contribuições. Controle de inundações (reservatórios da hidrovia são, também, mega-piscinões); abastecimento de água (limpa, da cabeceira do Tietê diretamente para Billings); despoluição do Rio Pinheiros (agravada pela pouca circulação); agricultura (pela irrigação, via canal, ampliando as tradicionais áreas de hortifrúti à leste); geração de energia na eficiente Usina Henry Borden (capacidade hoje limitada a 1/3 pela escassez de água). Também lazer e turismo (que floresceu até meados do Século-XX na região das represas); e requalificação de extensas áreas lindeiras para uso imobiliário.
O aumento da navegação pode acelerar o processo de despoluição
Enfim, o hidroanel é um plano de uso múltiplo das águas, corrente na Europa e Estados Unidos, que pode redirecionar o desenvolvimento da grande metrópole, hoje “de costas para os rios” (expressão corrente!). É estruturante, capaz de alavancar um novo ciclo de ocupação e desenvolvimento do território, assim como uma nova forma de se planejar e gerenciar, articuladamente, envolvendo diversas unidades do Governo do Estado, dos 39 municípios da RMSP e a sociedade organizada. Digno desta data (República!).
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