(*)
Setembro de 2008, Cingapura: A última hora fui privilegiado com a incumbência de cumprir a agenda do então vice-governador, na sequência da minha participação no “LatinAsia” (conferência de investidores asiáticos interessados na América Latina).
No workshop do ministério responsável pela gestão do território, com secretários estaduais e dirigentes de algumas agências brasileiras, fomos informados do processo histórico de agregação de áreas marítimas, que lhe permitiu crescer uns 30%; de como sendo escassas as fontes naturais em solo próprio sua população é provida de água; enfim, da estratégia (bem sucedida!) daquela cidade-estado no tocante às infraestruturas e serviços públicos.
Ao final, aberta a palavra, um secretário, de importante estado brasileiro, figura conhecida, intrigado, questionou: “Bem: isso é o planejado. Mas o que a acontece na prática?”. A segura e preparada executiva sino-descendente respondeu de bate-pronto: “O que é planejado acontece!”.
Inconformado e, aparentemente, incrédulo, o secretário voltou ao tema: “Sabemos que uma coisa é o planejado; outra, bem diferente, é o que é realizado. Como isso é aqui tratado? A resposta foi pronta; impávida: “O que é planejado acontece!“. Ele tentou uma terceira e quarta investida, com uma formulação variante. Nossa anfitriã, agora já meio sem jeito mas com a delicadeza oriental, procurou esquivar-se e assumiu a precariedade do inglês do secretário: “Talvez estejamos tendo alguma dificuldade de comunicação...”.
Diante da situação, e já convicto de que pela cabeça daquela senhora jamais poderia passar a ideia de que algo planejado não fosse executado, pedi licença para participar do diálogo: “A pergunta está bem feita. A resposta está bem dada. A dificuldade, me parece, está na diferença de culturas”, seja quanto ao processo de planejamento, seja quanto do “law enforcement”.
Após diversas instituições visitadas saímos convictos de que, para eles, planejar, planejamento, planos vai muito além de discursos, de peças mercadológicas, de apresentações de PowerPoint, de declarações de intenção, de meras ideias, plantas ou desenhos. Obras paradas? Sobre-preços de 100%, 200%? Recursos orçamentários devolvidos? Difícil imaginar-se!
Lógico, também, que dificilmente ouviríamos e, se verbalizados, seriam aceitos, álibis na linha do “meu plano era bom, só faltou dinheiro”; “o projeto não foi em frente porque não houve vontade política”. Isso porque variáveis como recursos e vontade política são partes integrantes do processo de planejamento.
Admiramos, por vezes com uma ponta de inveja, o sucesso cingapuriano em setores como aviação, aeroportos, medicina, telecomunicações, saneamento, construção e reparos navais, portos... Não basta admirar. As diferenças culturais impõem algumas barreiras (como a pena de morte – ali existente). Mas será que esse modelo de planejar e gerenciar é assim tão exclusivo? Não há algo a ser aprendido?
(*) " Por erro da editoria do site, este artigo, publicado em 6/4 com título Planejamento! Que Planejamento?, foi republicado no dia 21/4 com outro título, no lugar do artigo que será publicado no dia 27/4/11".