Hoje, Porto Literário trata de duas Novas Yorks peruanas.
Uma delas é de Carlos Oquendo de Amat (1905-1936), poeta de quem publiquei aqui no PortoGente a tradução dos poemas Porto e Antuérpia. Assim como os dois, Nueva York foi publicado em 1927 em 5 metros de poemas, livro acordeão que se desdobra até atingir a medida que indica o título. Mais do que a tradução para o português, para se entender o poema basta olhá-lo. Espalhado por uma página dupla, ele mimetiza a grande cidade pela própria disposição dos versos.
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A página é como se fosse um cenário de Nova York, tanto que para entendê-lo temos que percorrê-lo. Abaixo dos dois primeiros versos, temos a ilha de Coney Island e o centro financeiro Wall Street, outros versos usam a linguagem das manchetes jornalísticas (“Rodolfo Valentino faz crescer o cabelo”).
Por todo o espaço da página temos grupos de versos dispostos em arranjos diferentes. Temos letras normais e em itálico, outras palavras escritas somente com maiúsculas, outras estão dispostas na vertical e outras ainda contém espaços entre suas letras; há versos formados por sílabas e, como vemos no final (abaixo, à direita), versos dispostos dentro de um retângulo como se fosse um anúncio (“Aluga-se esta manhã”).
Nestas duas páginas, Carlos Oquendo de Amat, assim como Mário de Andrade em Paulicéia Desvairada, cumpre a promessa da poesia moderna de capturar a metrópole.
A outra Nova York peruana foi publicada em livro em 1988. Está no livro Viaje a la lengua Del puercoespín, de Óscar Limache (1958). Entre os dois livros, o pós modernismo (ou hipermodernismo, como se têm falado ultimamente), no qual a literatura tem como principal referência a própria escrita e a linguagem, em um jogo de citações e referências que às vezes leva ao hermetismo, mas que costuma sugerir aos leitores uma série de caminhos e leituras cruzadas. Óscar Limache é deste time.
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