Domingo, 29 Dezembro 2024

Esse espaço dedicado à história e à literatura do Porto de Santos é ocupado vez por outra por outras manifestações artísticas, principalmente o cinema, mas também a pintura e as artes plásticas, como hoje, sobre a coletiva Imagens de Santos, que reúne os pintores Dmitri, Paulo Consentino, TomZé Scala e Mai-Britt até o dia 26 na Pinacoteca Benedicto Calixto.

 

Como é costume da coluna, vale lembrar, a abordagem deste texto é histórica, isto é, busca nos conteúdos artísticos elementos para a discussão do mundo portuário, sempre tendo em consideração a importância da obra de arte como entendimento do mundo, e não sua ilustração.

 

O tema

Das imagens de Santos recriadas pelos quatro artistas, o porto e o estuário são recorrentes, principalmente em Scala e Consentino (todas as obras em exposição podem ser vistas em www.buriti.art.br). Em Mai-Britt e em Dmitri temos algumas cenas da saída do canal do Estuário na Ponta da Praia, nada muito portuário, ainda que valha a pena destacar os volumes abstratos de Mai-Britt, como a fortaleza da Barra na Ponta da Praia, um bloco branco desenhado sobre azul e verde na tela Forte, e as cores de Dmitri, principalmente os roxos e os azuis das paredes externos dos prédios e das águas de monumentos como as fontes do Boqueirão, 9 de Julho, ou da Praça da Independência.

 

Os espessos contornos de Paulo Consentino ordenam uma profusão de planos e cores, como na reprodução abaixo, em que guindastes amarelos pontuam um cais cinza. 

 

 

 

Em conversa com o autor na Pinacoteca, o colunista soube que a relação artística do autor com a cidade não ocorre apenas no tema, mas também nas condições de produção. Nesse momento ele tem dezenas de pinturas que esperam o final da umidade para completá-las o acabamento. “Pintei muito nesse inverno (que foi seco) e agora estou sem fazer nada na primavera (em que só chove)”.

 

Tomzé Scala, entre os quatro, é o que mais se dedica ao porto, em obras como Margem Esquerda e Direita do Porto, uma seqüência de planos que acompanha o zigue-zague do canal do estuário.

 

A pintura naif (de ingênuo, em francês) de Tomzé Scala permite um olhar utópico sobre o porto de Santos, em telas em que os planos se sucedem horizontalmente sem a perspectiva realista que aprendemos com o Renascimento, como em Santos e o Monte Serrat, em que navios, cais, armazéns, prédios e morro se sucedem num bloco único, como se não houvesse hierarquia entre o porto e a cidade, ou entre o morro e os casarões.

 

Esse estreitamento de planos se repete em Ciclovia, em que uma tela de 20 centímetros de altura é dividida em estreitas tiras: uma faixa de asfalto e carros, calçada, ciclovia, jardim, faixa de areia, a baía, seus navios e ilhas, a embocadura formada pela ponta da Ilha de Santo Amaro e a ponta de Praia Grande e, enfim, o céu.

 

Referências

Dmitri, Mai-Britt, Paulo Consentino e Tomzé Scala. Imagens de Santos. Santos: Editora Buriti, até 26 de outubro de 2008.

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