A história recente do país é o pano de fundo dos relatos reunidos no livro O Brasil dos Correspondentes, em que mais de 20 jornalistas estrangeiros contam como realizaram reportagens sobre o Brasil publicadas pelo mundo todo entre 1977 e 2007. A obra foi lançada em Santos na última segunda-feira (22), na abertura da Semana Ceciliana de Artes e Comunicação e volta a ser apresentada ao público na noite desta terça-feira (23), às 19 horas, na livraria Realejo, na Marechal Deodoro, 02, no Gonzaga.
A jornalista Verónica Goyzueta, peruana, correspondente do Mergermarket, serviço do grupo Financial Times, e do ABC, jornal espanhol, é uma das organizadoras do volume. Na apresentação aos alunos da Unisanta, ela explicou que a opção pelas memórias dos jornalistas foi decidida porque a “idéia do volume é mostrar o que os correspondentes pensam” e não apenas o que saiu nos jornais. Para ela, o livro é uma contribuição para o estudo da história recente do Brasil: “São mais de 30 textos, com muitos arquivos pessoais. É um livro que tem valor de documento de pesquisa sobre a atuação dos correspondentes no Brasil”. Goyzueta, que é presidente da Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE) em São Paulo, conta que cada vez mais jornalistas são destacados para trabalhar por aqui, o que levará a mais histórias escritas sobre nosso país.
Thierry Ogier, francês há dez anos no Brasil, correspondente do jornal Les Echos, destacou que no livro os correspondentes puderam tratar de assuntos mais variados do que a pauta mais comum sobre o Brasil, muito centrada ultimamente em Economia. “Nesses últimos 30 anos, o Brasil apresentou uma evolução histórica muito grande, mas o livro tem espaço também para uma matéria sobre a ’’aspirina’’ dos pataxós e um depoimento sobre o Tropicalismo”.
Antes dos convidados, o público pôde ouvir também o repórter Luiz Fernando Yamashiro, de A Tribuna, que produziu recentemente um caderno especial sobre o centenário da imigração japonesa, isto é, ele acabou fazendo o “caminho inverso” dos correspondentes e acabou produzindo uma reportagem sobre a presença de uma cultura distante em nosso país. Outra atração foi o jornalista e professor universitário Marcus Vinícius Batista, que, também traçando um caminho inverso, tratou da atividade de jornalistas brasileiros como correspondentes. Para ele, apesar do crescimento do campo de atuação, como a recente presença de jornalistas brasileiros na China, ainda não temos uma visão brasileira sobre os fatos do mundo: “Ignoramos o México, não sabemos o que acontece no Peru, Bolívia e Venezuela só aparecem por causa do Evo (Morales) e do (Hugo) Chávez. A África tem 53 países, mas só agora temos um correspondente lá, em Angola, enviado pela TV Brasil, criada recentemente pelo Governo Federal. Ogier concorda com Marcus: “A mídia do Brasil fala do México como se fosse uma província dos Estados Unidos e também não há correspondente do México aqui. É recíproco”.
Referências
Jan Rocha, Verónica Goyzueta e Thomas Milz (organizadores). O Brasil dos correspondentes. São Paulo: Editora Mérito, 2008.
Vídeo sobre o lançamento pode ser visto em: