Uma cidade na transição. Santos: 1870-1913; Ventos do Mar. Trabalhadores do Porto, Movimento Operário e Cultura Urbana em Santos, 1889-1914; A “Moscouzinha” Brasileira. Cenário e Personagens do Cotidiano Operário de Santos (1930-1954); O porto vermelho: a maré revolucionária (1930-1951); Os plano da cidade: as políticas de intervenção urbana em Santos – de Estevam Fuertes a Saturnino de Brito (1892-1910); Arquitetura Militar. Um Panorama Histórico a Partir do Porto de Santos; Braz Cubas: homenagem a uma vida; Lutas e sonhos: cultura política e hegemonia progressista em Santos (1945-1962); A carga e a culpa. Os operários das Docas de Santos: Direitos e Cultura de Solidariedade. 1937-1968; Operários sem patrões. Os trabalhadores da cidade de Santos no entreguerras; O Polvo e o Porto. A Cia Docas de Santos (1888-1914); O “Porto Maldito”: modernização, epidemias e moradia da população pobre em Santos no final do século XIX.
Os nomes dos livros acima, muitos dos quais costumam reaparecer aqui no Porto Literário, indicam que a reflexão intelectual sobre a cidade de Santos se detém sobre alguns temas: a história econômica, a história dos trabalhadores e a história das transformações urbanas, sempre tendo o porto de Santos como fio condutor ou componente importante das narrativas históricas ou sociológicas sobre a cidade.
Ainda que esses temas não estejam esgotados, já chegou a hora de também ser contada a história cultural da cidade.
Por isso, a coluna celebra a publicação de Canção d’’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos, livro organizado por Heloísa Valente, professora de música, doutora em Comunicação e Semiótica e pesquisadora associada do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Música da Universidade de São Paulo. O livro traz escritores, artistas, músicos, historiadores e pesquisadores que, a partir da sugestão da presença portuguesa na cidade, traçam uma história da cidade ainda não contada, a da evolução da música em Santos. Desde orquestras que tocavam nos cassinos, passando pelos programas de rádio, e chegando ao Festival de Música Nova.
Heloísa Valente, organizadora também do Festival Música e Mídia, nas duas citações seguintes, tiradas de sua apresentação, aponta a riqueza e o ineditismo dessa pesquisa:
A história do fado, em Santos, é a história de uma escuta, sobretudo radiofônica: a maioria da população, praticamente de todos os níveis sócio-econômicos, tinha o hábito de ouvir o rádio, principal meio de contato com a música – de todos os gêneros e estéticas. Some-se a essa característica o fato de que o período em que o maior número de imigrantes se fixou na cidade coincide com o apogeu do rádio, como mídia dominante.
(...)
Nesse processo de coleta de dados, qualquer anotação ou depoimento pessoal era de extrema valia já que, infelizmente, poucos são os estudos sobre fado e, menos ainda, sobre a música em Santos.
Após a apresentação, o livro começa com o texto Santos, cidade mítica, do escritor Flávio Viegas Amoreira, em que o Oceano Atlântico, que une (ou separa) Europa e América, é interpretado em chave mitológica: “Terra emprestada do Oceano, Delos desprendida: temos compromisso cosmopolita com além-mar, vasto horizonte, somos cidade-Estado do Atlântico: como notara o capitão Burton, enciclopédico semi-deus, aqui cônsul britânico: alguns pousos têm vocação mítica: Trieste, Tânger, Gênova”.
A obra coletiva continua com o historiador Rodrigo Rodrigues Tavares contando uma história da presença portuguesa em Santos; o musicólogo Diósnio Machado Neto escreve uma “crônica da música em Santos no século XX”; a própria Heloísa entrevista Manoel Joaquim Ramos e Lídia Miguez, que mantém desde a década de 50 um programa de rádio sobre o fado; temos ainda análise de letras das canções, estudos sobre o uso dos instrumentos que acompanham o fado e sobre o próprio fado enquanto gênero musical.
Além da riqueza que a diversidade de autores garante à obra, o livro ainda traz notas explicativas, partituras de músicas, algumas fotos, e uma pequena apresentação de cada um dos participantes, além de uma orelha escrita pelo compositor Gilberto Mendes e quarta capa escrita pelo poeta Ademir Demarchi.
Epílogo
Publicado pela Realejo, Canção d’’Além-Mar traz uma evolução em relação à publicação anterior da editora sobre a história da cidade, Santos: uma história de pioneiros, piratas, revoltas, epidemias, carnaval e futebol, dos jornalistas Hilda Pereira Prado de Araújo e José Alberto Pereira “Sheik”, publicado no início de 2007. Os leitores desse apanhado da história da cidade não acham em qualquer lugar do livro as fontes, obras ou arquivos em que foram encontradas as panorâmicas informações ali publicadas. Não sei se por iniciativa da editora ou da organizadora, o fato é que Canção d’’Além-Mar, além de leitura interessantíssima, fornece aos interessados as fontes e obras consultadas para a realização dos textos.
Referências
Heloísa Valente (organizadora). Canção d’’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos. Santos: Realejo, 2008.