Há duas semanas, comentando o livro Tratado dos anjos afogados, lançamento de Marcelo Ariel (Ariel, Borges e a ficção de Cubatão), apontei um comentário sobre o autor do crítico e poeta Ademir Demarchi. Para Demarchi, editor da revista de poesia Babel, a literatura de Ariel, apesar de temas como a tragédia de Vila Socó, não pode ser confundida com realismo ou simples denúncia social. Repito o que ele escreveu sobre a obra de Ariel:
A literatura que Marcelo Ariel vem escrevendo reflete muito dessa realidade [de Cubatão e das favelas da Baixada Santista], sem cair na mímese do real e crueza de texto do neo-realismo vigente na literatura brasileira contemporânea.
Demarchi critica essa crueza também no texto inventivo, como no poema – adivinhem o nome – Do realismo:
histórias cruas
apodrecem cedo
Do realismo faz parte de Os Mortos na Sala de Jantar, livro de poemas – e agora é Ariel que comenta Demarchi – em que a morte é a “musa” do autor. Assim como Do realismo, são bem curtos muitos dos poemas do livro que, como indica o título, tratam da morte como componente do cotidiano, ou, em uma imagem mais gasta, como parte da vida. Lemos ali, por exemplo, Amazônia in memoriam:
descansa em paz
no chão
e nos móveis da sala
Ou o poema Morto e vivo, vice-versa, quase menor que o próprio título:
o morto é a projeção do vivo
Outro exemplo é Quem diria, hem:
não há corpos
nos túmulos
dos soldados
desconhecidos
Um poema muito divertido é o do dia de Finados:
nos finados
os cemitérios multiplicam
suas ossadas
Para acabar, repetimos a troca de cadeiras entre poeta crítico e poeta criticado, vamos ler o que Ariel escreveu sobre o trabalho de Demarchi no seu blog Teatro Fantasma:
No livro Ademir chega a uma rigorosa concisão ...É fácil perceber que alguns poemas foram trabalhados com picareta e formão e reduzidos a uma única e perturbadora frase...
Foto: Nicodemos Sena
Marcelo Ariel lê sob o olhar de Ademir Demarchi durante o Primeiro
Ciclo de Leituras, Encontros e Debates Literários de Caraguatatuba.
Epílogo
Tive a oportunidade de participar no dia 17 da 7ª Semana Cultural Rui Ribeiro Couto, conversando sobre escritores de Santos com crianças e adolescentes durante os Encontros com a Leitura da Zona Noroeste, promovidos pelo Proeco (Projeto Educacional de Conscientização e Orientação), onde dividi o espaço com Eliane Pimenta, do Pró-Ler. Fica aqui o agradecimento ao convite e um abraço aos que tiveram a paciência de me ouvir.
Referências
Ademir Demarchi. Os Mortos na Sala de Jantar. Santos: Realejo Edições, 2007.