Se existe um mistério maior do que os sustentam o ibope das novelas brasileiras, como, por exemplo, “quem matou Odete Roitman?”, este está no Porto de Santos, diz respeito a uma dívida bilionária e envolve vários atores, alguns coadjuvantes, outros protagonistas. Estes são o poderoso Grupo Libra, a diretoria da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a Agência Nacional dos Transportes Aquaviários (Antaq) e a Secretaria de Portos (SEP), entre outros.
O texto Eduardo Campos pode fazer de Suape o Porto do Brasil, publicado nesta coluna, em 9 de dezembro último, causou um bom frisson no mundo social digital. Afirmamos que o governador de Pernambuco – hoje na corrida presidencial – pode surpreender positivamente o setor portuário tupiniquim com um novo e arrojado modelo de porto, colocando Suape entre os mais modernos e avançados do mundo, deixando para trás “feras” do setor, como Santos (SP) e Paranaguá (PR), entre os portos públicos. Todavia, as opiniões diferem.
A luz vermelha foi acesa para a dragagem de aprofundamento do Porto de Santos, no litoral paulista. Tanto que foi formado um grupo interministerial por representantes da Secretaria de Portos (SEP) e dos ministérios dos Transportes e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para reavaliar todo o plano de dragagem cais santista. Para o presidente da Fiorde Logística Internacional, Milton Lourenço, isso é uma confissão pública do governo federal de que as obras de dragagem têm deixado muito a desejar, contribuindo não só para a ampliação dos congestionamentos viários como para prejudicar a produtividade do cais.
Governar é estabelecer prioridades, defende o presidente da Fiorde Logística Internacional, Milton Lourenço, lembrando episódio acontecido há 225 anos. Naquela época, diz, D. Bernardo José Maria de Lorena e Silveira (1756-1818), capitão-general e governador de São Paulo à época colonial, tomou uma atitude que seria fundamental para abrir literalmente o caminho para o desenvolvimento da capitania. “Determinou que toda carga produzida na capitania primeiro teria de passar pelo Porto de Santos”, observa Lourenço, avaliando que tal medida, na historiografia, passaria a ser conhecida impropriamente como “lei do porto único”.
Deveria ser encarado com indignação e repulsa pela comunidade portuária nacional o fato de as principais autoridades envolvidas nos escândalos de favorecimento empresarial apurados pela Operação Porto Seguro, que vieram à tona há um ano, no final de 2012, continuarem "navegando" por cargos de importância na esfera federal. No entanto, esses sentimentos têm sido sufocados pela impunidade vigente no Brasil. São pouquíssimos os que foram punidos pelo mar de corrupção que toma conta do País - e que apesar de acusações ao governo atual acontece há muitas décadas, e só cresce.