Terça, 26 Novembro 2024

Deveria ser encarado com indignação e repulsa pela comunidade portuária nacional o fato de as principais autoridades envolvidas nos escândalos de favorecimento empresarial apurados pela Operação Porto Seguro, que vieram à tona há um ano, no final de 2012, continuarem "navegando" por cargos de importância na esfera federal. No entanto, esses sentimentos têm sido sufocados pela impunidade vigente no Brasil. São pouquíssimos os que foram punidos pelo mar de corrupção que toma conta do País - e que apesar de acusações ao governo atual acontece há muitas décadas, e só cresce.

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Trabalho de apuração da PF se intensificou nas festas de fim de ano de 2012

Um dos casos mais recentes e emblemáticos no setor portuário é o do ex-secretário executivo da Secretaria de Portos (SEP), Mário Lima Júnior. Desde que foi apurado, pela Polícia Federal, o seu envolvimento com o grupo chefiado pelo então diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Vieira, que vendeu pareceres técnicos de órgãos públicos a empresas privadas, ele teve que deixar o cargo na SEP e também a cadeira que ocupava no Conselho de Administração (Consad) da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

A saída de Mário Lima foi considerada estratégica, para que a poeira da Operação Porto Seguro baixasse. E de fato baixou. Polícia Federal e os grandes órgãos de imprensa pouco se mexem para levantar o tapete e encontrar a sujeira lá deixada. Dessa forma, o ex-secretário executivo da SEP teve caminho livre para assumir, na última semana, a diretoria de Infraestrutura e Gestão Portuária da Companhia Docas do Ceará (CDC). Mário Lima tem um longo histórico profissional na atividade portuária cearense, tendo também ocupado o cargo de diretor de Desenvolvimento Comercial do complexo portuário do Pecém.

Foto: LC Moreira/Secretaria de Portos

Mário Lima Júnior ocupou cargo de confiança na Secretaria de Portos

Durante as apurações da PF, a assessoria de comunicação da Secretaria de Portos saiu em defesa de Mário Lima e garantiu que ele não participou da facilitação para implantar o projeto da empresa São Paulo Empreendimentos Portuários na Ilha de Bagres, em Santos. No entanto, a investigação interna na SEP foi comandada pelo chefe de gabinete Raul Moura de Sá, que era subordinado direto de Mário Lima e poderia ter poupado o superior das investigações. Sem receber punições, o agora diretor da CDC volta a circular por Brasília, sem ter esclarecido o seu envolvimento nas acusações.

Da mesma forma, os ex-ministros Pedro Brito e Leônidas Cristino não esclareceram o que sabiam (ou não sabiam) sobre o envolvimento de funcionários, indicados e subordinados da SEP nas investigações. Tantas dúvidas permitem pensar que a rede de venda de pareceres pode continuar a favorecer grupos empresariais nos portos brasileiros. É possível botar a mão no fogo por essa turma (Brito é diretor-geral da Antaq) especialmente no momento que o Brasil prepara dezenas de licitações de terminais portuários?

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