Caros leitores,
Em continuidade ao relato da evolução da navegação fluvial na França, hoje iremos abordar os primeiros engenhos que foram utilizados para vencer a correnteza do rio Sena, pois a halage era restrita aos trechos próximos das vilas, necessitava também da via lateral para os cavalos andarem e a força exercida era sempre ob/iqua. Nos trechos com muitos meandros e margens a/agadiças, a utilização da halage era impraticável.
A idéia de utilizar as rodas de pás acionadas pela correnteza para tracionar o próprio barco ou outra embarcação é tão antiga quantos aos moinhos d'água. A exploração dessa idéia deu nascimento no século XVIII a diversas máquinas de puxar embarcações, as quais foram instaladas entre a Ponte Neuf (ponte nova) e a Ponte au Change ( ponte da troca) em Paris.
Existiam dois tipos de tracionadores, os fixos e os móveis. Os fixos instalados nos moinhos d'água para puxar grandes embarcações ou sobre as pontes, estes com tração humana para pequenas embarcações, através de cabos manobrados pelos “chableurs” , os cabeiros.
Os móveis, instalados sobre naves, que eram denominadas de aquamotores. O aquamotor enrolava seu próprio cabo de amaração no eixo de rotação da roda de pás, se deslocando até o ponto de fixação, tracionando um comboio composto por diversas peniches.
Após a invenção da máquina a vapor, os aquamotores foram substituídos por embarcações motorizadas que se deslocavam tracionando uma corrente colocada no leito do Sena. Essa operação era chamada de touage.
O barco era simétrico e navegava nos dois sentidos, contra e a favor da correnteza, sempre tracionando de 3 a 4 peniches. A máquina a vapor puxava a corrente através de polias, as quais permitiam um rendimento melhor da potência instalada em comparação a tração animal, além da vantagem de ser axial ao deslocamento.
A partir de 1820, a primeira linha de touage é colocada em serviço pelo engenheiro Thourasse. Em 1845, uma linha de touage, a vapor em corrente contínua, ligava a Ponte de Tournelle, acima da Ponte de Notre Dame até a confluência do Rio Marne, totalizando uma distância de 6 km ao longo do Sena.
Em 1855 as linhas de touage se expandiram atendendo Conflans de Sainte-Honorine, importante centro da battelerie, frota das peniches, a juzante de Paris, até a barragem de Suresnes, a montante de Paris, numa distância aproximada de 50 km.
Os comboios fluviais subiam e desciam o Rio Sena, havendo inclusive a integração entre os serviços da Compagnie Générale de Touage et Remorquage, a qual operava no baixo Sena, com a Compagnie de Touage de la Haute Siene, que operava no alto Sena. 0 ponto de integração era no braço de la Monnaie, ao lado da Ile de la Cite, onde se instalaram os escritórios das companhias de navegação, de seguros e de agenciamento de fretes assim como os cafés dos marinheiros.
Atualmente esse local corresponde ao Quartier Latin, com seus famosos cafés e os bouquinistes vendendo seus velhos livros e pinturas ao longo do cais do Rio Sena, onde as peniches ainda continuam a navegar.
Referência bibliográfica:
BEAUDOUIN, F. Paris e la batellerie du XVII au XX siécle. Paris: Editions Maritimes & D'Outre Mer, 1979. 32p.
Ijenry, B.,Henry M. Voyageurs aux Iongsjours. Paris: Les Editions Arthaud, 1982.216p.
Robin, C., Bergeaud, C. Le français par la méthode directe Deuxieme Iivre. Paris: Librairie Hachette, 1951.186p.