No último 8 de dezembro, foi lançado no Museu do Café, no Centro Histórico de Santos, o livro Navios e Portos do Brasil, de autoria de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo.
A capa do livro 'Navios e Portos do Brasil' mostra um cartão-postal
de um dos navios 'Itas' dos pequenos, atracando no Porto de Santos,
nas proximidades da Alfândega.
O coquetel de lançamento foi bastante animado e muitas pessoas que gostam do tema estiveram presentes. Os autores esbanjaram simpatia durante o evento.
Vale salientar que o livro nos leva a navegar através de 512 imagens, que ilustram a navegação do País no início do século passado até o período pré-anos 70. É mais ou menos como foi dito em um noticiário de São Paulo – cada leitor há de sentir bater na face a brisa marinha.
João Emilio Gerodetti (um dos autores do livro 'Navios
e Portos do Brasil'), o jornalista José Carlos Silvares
(autor do livro 'Principe de Astúrias', lançado em 19 de
dezembro de 2006), Laire José Giraud e o jornalista Carlos
Cornejo (o outro autor de 'Navios e Portos do Brasil'),
durante o lançamento da obra, no Museu do Café de Santos,
no dia 8 de dezembro de 2006. (Acervo: Laire J. Giraud)
A obra tem informações bastante interessantes sobre os portos brasileiros e os navios que deixaram os nomes marcados no livro de ouro da navegação e portuário do Brasil.
É impraticável enumerar a imensidão de assuntos do livro. Apenas folheando as páginas o leitor terá idéia da grandiosidade da obra, que mostra cartões-postais e imagens de fotógrafos, dos mais simples aos mais famosos.
O nosso querido Seu Zezinho, José Dias Herrera, um dos mais famosos fotógrafos de Santos de todos os tempos, colabora na obra com belas imagens clicadas pela magia do olhar e da sensibilidade extraordinária que a alma dele soube manter perenes em fotografias que provocaram e ainda provocam encantamento em gerações de admiradores.
Tive o privilégio de fazer o primeiro prefácio do livro, que recebeu o subtítulo de ‘O desfile de palácios flutuantes pelo estuário’, que, além de reminiscências da nossa Cidade, conta um pouco do que é essa grandiosa obra. Peço licença aos leitores para mostrar a minha apresentação:
O desfile de palácios flutuantes pelo estuário
O lançamento desta obra de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo representa um desafio para quem se empenhar em superá-la, pois tem um conteúdo difícil de ser reunido. Outro ponto favorável é a objetividade, aliada à leveza dos textos.
O 'Cap Polonio', da Hamburg-Sud, está presente no capítulo especial
dos navios alemães. O cartão-postal mostra o navio durante manobra de atracação, vendo-se à esquerda a superestrutura de um rebocador da Wilson Sons. (Acervo: Laire J. Giraud)
Mas tarefa mais hercúlea ainda será ultrapassar o farto recheio de ilustrações de cartões-postais e fotografias, clicadas por simples ou renomados fotógrafos do século passado, muitas inéditas, que recuperam épocas românticas para o olhar da modernidade.
Este livro se propõe a preservar a história dos nossos principais portos e dos navios de várias bandeiras, pertencentes a célebres empresas de navegação, como o Lloyd Brasileiro, a Companhia Nacional de Navegação Costeira, a alemã Hamburg-Sud, a francesa Chargeurs Reunis, a Itália di Navigazione, a portuguesa Companhia Colonial de Navegação, a espanhola Ybarra y Comp., a estadunidense Moore McCormack Lines, entre outras.
Os navios da Marinha do Brasil também são contemplados, com imagens e memórias de célebres vasos bélicos, cruzadores, contratorpedeiros, submarinos e navios-escola.
Entre vários transatlânticos de nacionalidade espanhola, o belo 'Cabo San Augustin' está entre vários da Ybarra. Cartão-Postal datado de 1934. (Acervo: Laire J. Giraud)
Esta obra – que tenho a honra de prefaciar – me traz muitas lembranças de acontecimentos ocorridos na minha cidade natal, Santos. Todo santista, diga-se de passagem, de nascimento ou de coração, tem o mar a circular nas veias. E por este mar passam navios, chegando ou partindo, a trazer esperanças aos que aportam e a deixar saudades nos que se encantam com o calor e a fraternidade da gente santista.
Sempre fui intenso admirador de transatlânticos. Desde a infância gostava de vê-los navegando em direção ao porto, tanto ali do Canal 5, no Embaré, onde eu morava, quanto da Ponta da Praia, na companhia do meu pai, o médico Laire Giraud, que, além de viajante do mar, foi grande aficionado deste tipo de nave.
Da Ponta da Praia, víamos os navios passarem tão perto da gente, que dava a impressão de que podíamos toca-los. Aliás, também gostava de ver as maquetes de navios nas agências marítimas que ficavam na Rua XV de Novembro e na Rua do Comércio, ainda reduto das suavidades ligadas à navegação, ao porto e à exportação de café.
No belo livro 'Navios e Portos do Brasil', o Porto de Santos recebe grande destaque histórico. Entre muitas informações, apresenta os trabalhadores portuários no início do Século XX, em franca atividade. (Acervo: Laire J. Giraud)
Lembro que o primeiro transatlântico que vi entrar em Santos, lá pelos idos de 1950, foi o britânico ‘Andes’, da Royal Mail Line, mais conhecida no Brasil como Mala Real Inglesa. Esta tinha agência na Rua XV de Novembro, onde exibia na vitrina a maquete do ‘Alcantara’, que hoje está no saguão de entrada da Escola Técnica do Senai de Santos, na Ponta da Praia.
Nas primeiras sete décadas do século XX, o Porto de Santos apresentava intenso movimento de passageiros, tão intenso como hoje têm os aeroportos. Em alguns dias, registrava-se a escala de até cinco transatlânticos. A entrada de um navio de passageiros era um verdadeiro espetáculo. Eram muitas pessoas que chegavam – e milhares que iam esperá-las.
No porto, havia risos e lágrimas, gritos alvissareiros e silêncios comovidos, acenos de lenços e abanos de mão, enquanto um navio de passageiro atracava no cais, numa época em que a Cidade era a porta de entrada e saída dos viajantes – passageiros das mais variadas nacionalidades, imigrantes, artistas, políticos, empresários e dignitários da Igreja, entre outros.
O transatlântico italiano 'Giulio Cesare', na Ponta da Praia, em Santos, em 1952. Devem ser notados o calçadão e a amurada, local onde ainda é comum, nestes anos do início do Século XXI, as pessoas se reunirem para admirar a passagem dos navios. Fotografia de José Dias Herrera. (Acervo: Laire J. Giraud)
Para os santistas, dia de transatlântico no porto era de alegria – e sempre houve um lugar muito especial para admirar o desfile dos palácios flutuantes pelo estuário. Era a passarela natural da Ponta da Praia, com uma calçada amurada que era e é o mirante onde apaixonados ou apenas curiosos admiravam e ainda admiram o entra-e-sai dos navios.
Na Ponta da Praia, até a passagem de um simples cargueiro era reverenciada em silêncio, silêncio preenchido pela nave em movimento no estuário.
O que dizer, então, daquele tempo de glamour, quando célebres transatlânticos entravam pelo canal de acesso ao porto, cruzavam a Fortaleza da Barra e seguiam majestosamente em direção ao antigo Armazém de Bagagem da Companhia Docas de Santos?
Entre os navios portugueses, o 'Vera Cruz' é muito bem lembrado por ocasião da primeira passagem pelo porto da cidade do Rio de Janeiro, ocorrida em 1952. (Acervo: Laire J. Giraud)
Como no filme italiano E La Nave Va, de Fellini, ver um transatlântico passar era um acontecimento. Milhares de pessoas se debruçavam sobre a amurada e esperavam com ansiedade até que o imponente navio surgisse na linha das balsas do Guarujá. E lá vinha, silencioso e sobranceiro, rasgando a água do estuário, a caminho do mar, para mais uma viagem...
Foi da Ponta da Praia - local inesquecível e inefável – que registrei na retina, para toda a eternidade, os navios de passageiros, e comecei a admirá-los cada vez mais e mais. Todas as vezes que um transatlântico zarpava e eu estava na Ponta da Praia, contemplava a sua silhueta em movimento, até desaparecer no horizonte do mar...
Lembro com nitidez alguns: Conte Grande, Conte Biancamano, Alcantara, Highland Brigade, Brasil. Argentina, Rio de La Plata, Alberto Dodero, Provence, Ruys, Brasil Maru, Augustus, Giulio Cesare, Charles Tellier, Louis Lumiére, Anna C, Serpa Pinto, North King, Vera Cruz, Santa Maria, Enrico C, Cabo San Vicente, Arlanza, Cristoforo Colombo, os nossos Cisnes Brancos: Anna Nery, Rosa da Fonseca, Princesa Isabel e Princesa Leopoldina – e o mais belo dos navios de passageiros dos anos dourados a passar por Santos, o célebre Eugenio C. A lista é longa, por isso paro aqui.
Embora tenha deixado de avistar muitos navios, por serem de épocas anteriores, menciono alguns, não somente devido à importância, como porque também fizeram parte da história da cidade e do porto: Avon, Astúrias, Almanzora, Cap Trafalgar, Cap Polonio, Monte Rosa, Monte Olivia, Cap Arcona, Massilia, Lutetia, Tubantia, Almeda Star, Principessa Maria, Principessa Giovanna, Conte Verde, Conte Rosso e American Legion.
Gostaria de contar muito mais coisas do tempo em que o Brasil se movimentava através do mar (e a cartofilia tem valor e importância nos registros históricos dos portos e navios, cartofilia que tem muito a ver com a minha presença neste livro), mas, - como o assunto pende para o infinito – fica para outra obra dessa já consagrada dupla, Gerodetti e Cornejo.
A partir deste livro, quem no Brasil escrever ou comentar sobre navios e portos do passado, terá que conferir o que João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo deixam registrado nesta maravilhosa obra.
Finalizando, aconselho aos leitores que apreciam o tema, para que adquiram essa obra pela razão de ter inúmeras imagens de navios em vários portos, inclusive fluviais, que, por sinal, também são muito interessantes. Repetindo, quem quiser falar sobre portos e navios, antes tem que consultar o livro Navios e Portos do Brasil.
Lamento
Com pesar, a coluna Recordar, de PortoGente, lamenta o falecimento de Oswaldo Paulino, ocorrido em 21 de dezembro.
Em Aparecida do Norte, os jovens Laire
Giraud e Oswaldo Paulino, estudantes
de Medicina, durante celebração da mis-
sa das bodas de prata de Mário e Janu-
ária de Andrade dos Santos, em 1939.
A foto me foi presenteada pelo Dr.
Oswaldo Paulino, em 2000.
(Acervo: Dr. Oswaldo Paulino)
O professor e doutor Oswaldo Paulino foi médico ativo em várias atividades do campo da Medicina.
Ele se formou, na turma de 1939, na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, onde o meu pai, o médico Laire Giraud, também se formou, em 1940.