Terça, 07 Mai 2024

Desde a minha infância, sempre fui grande admirador de todos os tipos de navios, principalmente dos transatlânticos, mais conhecidos antigamente como paquetes, nome com que ainda são chamados em Portugal os navios de passageiros.

 

O 'Loide Haiti', navio da série Nações,

fundeado no Estuário do Porto de Santos,

aguardando atracação. O cargueiro navegou

durante quase 30 anos. Imagem do final

dos Anos 60. Cartão-postal do livro Photo-

grafias e Fotografias do Porto de Santos,

publicado em 1996.

 

Depois dos transatlânticos, a minha predileção recai sobre os navios cargueiros, que transportavam carga geral, substituídos nas últimas décadas pelos modernos porta-contêineres.

Como exemplo, cito o ‘Loide América’, da extinta Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, cargueiro que pertencia à serie Nações: os navios recebiam nomes como ‘Loide Canadá’, ‘Loide Paraguai’ e ‘Loide México’.

A meu ver, esses navios foram os mais marcantes de todos os tempos daquela que foi uma das maiores companhias de navegação do Planeta.

Havia também outros cargueiros que marcaram época no Porto de Santos, como os noruegueses ‘Sunda’ e ‘Cometa’, os argentinos ‘Rio Deseado’ e ‘Marinero’, os japoneses ‘Sumida Maru’ e ‘Shin Sakura Maru’, os americanos ‘Mooremack Pride’, ‘Mooremack Moon’ e ‘Mooremack Mail’ e outros, das mais variadas nacionalidades.

 


Um dos petroleiros da Texaco, exibindo na chaminé a estrela que

tornou a empresa mundialmente conhecida. Foto do livro comemo-

rativo da Texaco, 'Those Were The Days', publicado em 1995.

 

Mas a minha admiração ia um pouco além, estendendo-se até os antigos petroleiros de várias companhias petrolíferas estrangeiras.

Os que mais me chamavam a atenção eram os navios-tanque da Texaco. Alguns eram pintados de um verde puxando para o abacate. Por terem essa tonalidade, prendiam a atenção dos que os contemplavam.

Também havia os de casco preto - todos com a bela e famosa estrela estampada nas chaminés.

Nas décadas de 1950 e 1960, vi a maioria desses navios passando pela amurada da Ponta da Praia, no Estuário de Santos.

Era um tempo em que o Brasil tinha dependência quase total das importações de petróleo, quanto também de combustíveis como gasolina, óleo diesel, querosene, além de outros produtos derivados do chamado

 


O pequeno navio-tanque 'Rio Grande do Norte', da Fronape, que

navegou na cabotagem, transportando o chamado ouro negro, na

década de 1950. (Reprodução: Acervo Laire José Giraud)

 

O movimento de entrada e saída desses navios era muito grande. Os petroleiros atracavam no cais da Ilha Barnabé e no cais do Saboó.

Eu avistava esses locais nitidamente do consultório médico do meu pai, Laire Giraud, que ficava no sexto andar do Edifício Patriarca.

Uma outra empresa de navegação transportadora de petróleo que prendia a minha atenção era a Fronape – Frota Nacional de Petroleiros (da Petrobras), atualmente controlada pela Transpetro.

Os navios da Fronape tinham nome de presidentes, como o ‘Presidente Getúlio Vargas’, ‘Presidente Dutra’, e de estados, como o pequeno ‘Rio Grande do Norte’.

 

O navio-tanque 'Presidente Dutra', um dos gigantes da Década de

1950, entrando no Porto de Santos, com petróleo para a Refinaria

Presidente Bernardes, de Cubatão, em uma época em que ainda não

existia o terminal da Petrobras no Porto de São Sebastião, no Litoral

Norte do Estado de São Paulo. (Reprodução: Foto José Dias Herrera)

 

Vale lembrar que o prático Fabio Melo Fontes, atual presidente da Praticagem de Santos, foi comandante de vários navios dessa armadora pertencente à Petrobras, como também - se não me falha a memória - Coaraci Camargo foi chefe de máquinas desses navios-tanque nacionais.

A Fronape foi e continua sendo, através da Transpetro, uma das maiores empresas transportadoras de petróleo e derivados, como o GLP - gás liquefeito do petróleo, que antes era importado em grande quantidade da Venezuela e de países árabes.

Atualmente, 80% do nosso consumo são fornecidos pela Bolívia através de gasoduto, que hoje é um problema devido à decisão boliviana de nacionalizar as reservas de combustíveis.

Conheçamos mais um pouco dessa grande companhia – a Fronape - através do texto de um catálogo da Petrobras com o título: “Ancorar é Preciso”, enviado por Coaraci Camargo através de e-mail:

ANCORAR É PRECISO
Até 1950, ano da criação da Fronape (Frota Nacional de Petroleiros), o transporte de petróleo e derivados era feito por navios estrangeiros.

 

Um supertanque da Transpetro em manobra de atracação no terminal

petrolífero da Petrobras em São Sebastião. (Reprodução: Transpetro)

 

Empresa do extinto CNP (Conselho Nacional de Petróleo), a Fronape começou com três navios. Em 1953, quando foi incorporada à Petrobras, contava com 22.

Responsável pelo transporte marítimo de petróleo e derivados, álcool, GLP e produtos químicos, líder no transporte petrolífero no Hemisfério Sul, a unidade operacional passou, em 1999, a fazer parte da Transpetro (Petrobras Transportes S.A.), subsidiária da Petrobras que conta hoje com 10 mil quilômetros de oleodutos e gasodutos, 44 terminais terrestres e aquaviários e uma frota de 52 navios petroleiros.

Alguns destes navios viraram plataformas e outros estão sendo convertidos, como o navio-tanque ‘Barão de Mauá’.

Construído no Estaleiro Ishibrás, no Rio de Janeiro e incorporado à Fronape em 1979, o ‘Barão de Mauá’ transportou petróleo durante 25 anos, até ser desativado, em 2004 – na época da incorporação, era o maior navio brasileiro no mar e o último da classe a servir como navio-tanque.

 

A conversão do navio para a P-54, plataforma do tipo FPSO (unidade de produção, armazenamento e transferência), é realizada e terminará em 2007.

A P-54 ficará ancorada no Campo do Roncador, na Bacia de Campos, e terá capacidade para produzir 180 mil barris de petróleo por dia.

Após esse interessante texto, gostaria de mencionar uma coisa importante ocorrida na minha vida. Como disse, desde menino costumava ver navios da Texaco, que, devido ao porte e à imponência, me deixavam fascinado.

Com isso quero dizer que, em um belo dia de 1973, já trabalhando na área de despacho aduaneiro, me dirigi ao escritório da Texaco do Brasil em Santos, que ficava na Rua Bittencourt, no Centro, munido de uma carta oferecendo os nossos préstimos profissionais na área de cabotagem e de consumo de bordo.

 

José Carlos de Matos e o chefe de máquinas do 'Island Star,'

transatlântico de cruzeiros marítimos, durante abastecimento

de óleo combustível em 2006. José Carlos de Matos gosta do

que faz e está sempre pronto a fazer operações de atendi-

mento de consumo de bordo e abastecimentos dos navios no

Porto de Santos. (Reprodução: Foto Laire José Giraud)

 

Fui recebido pelo Sr. Waldir, gerente do escritório da companhia na Cidade. Após ouvir as minhas explanações, ele disse que estudaria a proposta.

Retornei dias depois, na companhia de Mario Alonso, proprietário de um posto Texaco, que gentilmente endossou as pretensões oferecidas na carta-proposta.

Lembrando: os produtos consumidos por navios estrangeiros são como uma exportação normal - são necessários todos os trâmites exigidos para outras mercadorias, ou seja, o desembaraço aduaneiro (liberação) junto à Alfândega, fechamento de câmbio e outras providências.

O consumo de bordo envolve grande número de pessoas, tanto da empresa que vende o produto, quanto dos mais diversos prestadores de serviço: despachantes aduaneiros, pessoal de transportadora especializada, empresas marítimas que fornecem barcaças para abastecimento quando feito pelo lado de mar e agência de navegação, além dos tripulantes do navio que recebe a carga.


O embarcador José Carlos de Matos, o despachante aduaneiro
Gustavo Giraud, Fernando Perez e Eduardo S. Diegues, da
Chevron do Brasil, durante visita ao Estuário de Santos.
(Reprodução: Foto Laire José Giraud)


Com isso quero dizer que não imaginava que um dia seria um dos despachantes aduaneiros dessa conceituada companhia de petróleo, função que hoje também é exercida pelos meus filhos, Gustavo e Roberta.

Também não posso esquecer os numerosos colaboradores que passaram pela Triton Serviços Aduaneiros Ltda., empresa da qual faço parte como sócio.

Hoje, representamos a Chevron Brasil Ltda., empresa que adquiriu a Texaco e opera através de uma empresa subsidiária, a Global Lubrificantes, cujo escritório central é na cidade do Rio de Janeiro.

Vale ressaltar que os funcionários da Chevron são muito eficientes e colaboram de modo a tornar os nossos serviços de despachante mais fluentes e ágeis, permitindo que tudo saia com sucesso e segurança, indispensável na operação de abastecimento de uma embarcação.

Outra figura importante no escritório do Rio de Janeiro da Chevron/Texaco é o coordenador de exportação marítima, Luiz Carlos U. Botelho.

Falei de outros colaboradores mais, cujos nomes prefiro omitir para que não haja injustiça de esquecer algum.

Mas vale lembrar um que já trabalha conosco há 18 anos, sempre dentro da maior integridade, lealdade, camaradagem e boa vontade para os que dele precisam. Trata-se de José Carlos de Matos, sempre presente nos consumos e abastecimentos de bordo.

Este artigo é homenagem a todos os que trabalham nas atividades de consumo de bordo, direta e indiretamente, pessoas cujas funções são importantes, mas muitas vezes pouco lembradas quando pensamos em termos de fornecimento de navio.

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