Terça, 07 Mai 2024


O 'Cristoforo Colombo', gêmeo do 'Andrea

Doria', que fez durante algum tempo a linha

Gênova-Buenos Aires, ficou conhecido em

Santos na década de 70 (Reprodução: cartão-

postal do acervo L.J. Giraud)

Diante do incidente ocorrido com o navio ‘Cougar Ace’, que carregava em seu bojo cerca de 5.000 automóveis, acabamos por esquecer os 50 anos do naufrágio do famoso transatlântico ‘Andrea Doria’.

Graças, porém, à lembrança de um amigo e de uma reportagem na emissora de tevê italiana RAI, que entrevistou oficiais de náutica, engenheiros e pesquisadores marítimos, dando pareceres sobre um acidente – com o ‘Andrea Doria’ - que parecia ser improvável de acontecer.

Por isso, acho que são válidos os exercícios de salvamento realizados antes do início da viagem dos navios de cruzeiros pela tripulação, informando como utilizar os coletes salva-vidas, além de mostrar os locais das estações de embarque para os escaleres de bordo em caso de acidente.

 

O mais belo transatlântico da Italia

Line, o 'Andrea Doria', em viagem

transatlântica por volta de 1955

(Reprodução)

Tal iniciativa faz com que os hóspedes – como os passageiros marítimos são considerados pelas companhias de navegação - de bordo fiquem bem informados no que diz respeito a este procedimento, essencial em casos de emergência. Pois sempre achamos que acidentes não ocorrem conosco, apenas com os outros.

Como foi

Na noite de 25 de julho de 1956, o maior e mais novo transatlântico de luxo da Italian Line, o ‘Andrea Doria’, com 1.134 passageiros a bordo, aproximava-se do barco-farol de Nantucket, no final da travessia de 4.000 milhas (7.400 quilômetros), viajando a oeste de Gênova (Itália) rumo a Nova York (Estados Unidos).

Também próximo ao barco-farol, mas tendo zarpado de Nova York, vinham o imponente ‘Ile de France’, da French Line, e o ‘Stockholm’, da linha sueco-americana, um navio a motor de 160 metros, posto em serviço em 1948 como o mais novo transatlântico da Svenska Amerika Linjen a cruzar o Atlântico após a Segunda Guerra Mundial.

 

O transatlântico 'Andrea Doria',

deixando o Porto de Nova York

rumo a Genova, 1954 (Reprodução)

Os dois últimos navios tinham zarpado mais ou menos ao mesmo tempo, mas o ‘Ile de France’, operando a uma velocidade de 24 nós (20,4 km/h), logo se afastou do ‘Stockholm’, que desenvolvia 17 nós (31,4 km/h).

Cerca das 21h30, após passar pelo barco-farol de Nantucket e marcado o curso para o barco-farol de Ambrose (que sinaliza o canal de entrada do porto de Nova York), o oficial de serviço a bordo do ‘Andrea Doria’ observou no radar a imagem de outro navio movendo-se em direção a eles, na distância de 17 milhas (31,4 km).

O radar do ‘Stockholm’ captou o bip do ‘Andrea Doria’ quando os dois navios ainda estavam a 12 milhas (17 quilômetros) de distância um do outro.


O cartão-postal dos anos 50 mostra o 'Stockholm'

em plena navegação (Reprodução)

 

Mantiveram contato contínuo por radar a partir daí, até ser feito contato visual a uma distância de cerca de 2 milhas (3,7 km).

Aos oficiais no passadiço do ‘Andrea Doria’, pareceu que os navios passariam com segurança, boreste a boreste (direita a direita).

Porém, de repente, a ilusão de distância foi rompida. No passadiço do ‘Andrea Doria’, o comandante Piero Calamai, de 60 anos, percebeu tarde demais que seu transatlântico estava em rota de colisão e que se aproximava do navio estranho também em movimento a uma velocidade combinada de quase 40 milhas (74 km) por hora.

 

O 'Andrea Doria' adernado, após ter sido

abalroado pelo Stockholm (Reprodução)

 

O leme do transatlântico italiano foi virado para bombordo (esquerda), porém era tarde demais. Um navio de quase 30.000 toneladas não obedece ao leme de imediato.

Os dois navios se chocaram, ambos com os telégrafos da casa de máquinas em “toda a força a vante” (frente).

O ‘Stockholm’, comandado por H. Gunnar Norderson, um navio menor, estava equipado com proa quebra-gelo bem reforçada para navegação no Ártico.

 

O transatlântico sueco com

a proa - frente - destruída

após a colisão, aqui visto

quando da chegada no Porto

de Nova York (Reprodução)

 

Combinando os atributos, tanto de um aríete, quanto de um cutelo de açougueiro em enorme escala, a proa branca rebentou fundo o lado de boreste do ‘Andrea Doria’.

Enquanto o gracioso transatlântico italiano adernava pelo impacto, o vulto branco do ‘Stockholm’ foi sumindo dentro da escuridão da noite, com a elegante proa esmagada e transformada em um emaranhado de destroços.

Embora apenas um compartimento do casco do ‘Andrea Doria’ estivesse exposto ao mar, o belo rei do mar ficou deitado sobre o bordo de boreste como que agonizando.

 

O transatlântico 'Ile de France', da

French Line, foi muito prestativo

durante a operação de resgate dos

passageiros do navio naufragado

(Reprodução)

 

A estabilidade de sua construção de 11 andares tinha sido afetada e a inclinação foi ficando cada vez pior até o mar invadi-lo e tragá-lo.

O ‘Ile de France’ chegou, avançando grandioso de dentro da noite em resposta aos chamados de S.O.S., ostentando o nome acima do mar em gigantescas luzes elétricas, como era o costume de navios da linha francesa.

Os seus barcos salva-vidas e os do ‘Stockholm’ salvaram os passageiros, exceto 43, a bordo do ‘Andrea Doria’, pois este maravilhoso navio levou um certo tempo para afundar.

 


O navio-transporte 'William H. Private',

dos Estados Unidos, participante do salva-

mento dos passageiros do transatlântico

que naufragou (Reprodução)

Vários navios participaram da operação de resgate dos passageiros do ‘Andrea Doria’, entre eles o transporte de tropas americano ‘William H. Private’, que levava familiares dos militares que serviram na Alemanha.

Em número de vidas perdidas, a colisão entre o ‘Andrea Doria’ e o ‘Stockholm’ não foi um grande desastre marítimo, mas foi espetacular, e com certeza, o mais controvertido e bizarro nos anais marítimos.

No mundo marítimo, o que aconteceu naquela fatídica noite entre os dois transatlânticos até hoje permanece incompreensível.

  

As propagandas do

'Andrea Doria' davam

grande destaque à

culinária de bordo,

como o anúncio da

época (Reprodução)

Informações técnicas:


”Andrea Doria”

Bandeira: Italiana
Estaleiro: Ansaldo – Sestri Ponente
Armadora: Italia Di Navigazione
Deslocamento: 29.083 toneladas
Comprimento: 213,40 metros
Boca (largura): 27,5 metros
Velocidade: 23 nós (42,5 km/h) = máxima
Passageiros: 1.241

“Stockholm”

Bandeira: Sueca
Estaleiro: Gotaverken – Gotemburgo, Suécia

Armadora: Svenska Amerika Linjen
Deslocamento: 11.700 toneladas
Comprimento: 160,10 metros
Boca (largura): 21 metros
Passageiros: 600
Viagem inaugural: 1948


Anúncio da Italia Societá di
Naviga
zione Genova, com os
navios da época encabeçado
pelo 'Andrea Doria' (Reprodução)

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