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A seguir, apresento texto do historiador marítimo José Carlos Rossini, que expõe sucintamente informações sobre o livro.
Transcorreram 122 anos desde a Proclamação da República, substituindo a Monarquia Imperial do Brasil. No início do novo regime de governo (1890), brilhou um clarão de esperança para que a “terra brasiliense” pudesse enfim também ser um país marítimo. O axioma era, já naqueles idos do “z”, bem esclarecedor: “para o povo brazileiro, o Brazil termina nas praias”.
Embarcação com práticos santistas após saída de navios. Início da década de 1930
Os produtos de cultivo das férteis terras (algodão, café e outros mais) eram escoados, para além-mar, através dos portos primitivos então existentes, em vapores em cujas chaminés e bandeiras estavam as cores de armadoras de nações estrangeiras.
O “Brazil” que a República encontrou era uma vasta extensão de terras ilhadas do resto do mundo e cuja única ligação com outras nações era controlada por outros povos de tradição marítima.
O período da primeira parte (1890-1945) da obra abrange iniciativas do regime republicano tomadas para “quebrar os grilhões” da dependência.
Surgiu assim, por iniciativa governamental, a armadora “Lloyd Brazileiro”, a qual, bem ou mal, supriu parcialmente a lacuna existente no transporte marítimo, seja ao nível da navegação de cabotagem, seja ao nível das rotas transatlânticas.
A história dessa armadora, a maior em importância nacional, já foi objeto de vários estudos e publicações.
O prático Ismael Castanho, filho do prático Antonio Reis Castanho, que
entrou com o navio Windhuk em Santos, litoral paulista. Ambos são
lembrados na obra de Rossini. Foto de 2007
Além dessa iniciativa estatal, surgiram, no panorama do transporte marítimo brasileiro, corajosos empreendedores independentes, os quais, com capitais e esforços próprios, constituíram empresas de navegação que com o passar dos anos cresceram e que em seus navios tremulava a bandeira brasileira. Foi o início de um período no qual o Brasil deixou de “terminar na praia”.
“Armação Mercante do Brasil” rende homenagem a quatro desses empreendedores-armadores, cujos espíritos de criatividade, iniciativa e ousadia marcaram as quatro primeiras décadas do Século XX.
De forma original e enfoque pioneiro nas listagens das frotas de navios, esta obra tira a “poeira do tempo” de um período importante do nascimento do “Brasil do mar”, para que também possa servir de exemplo ao que ainda poderá ser feito no setor no futuro, no Século XXI.
“Praticagem de Santos” constitui também uma homenagem à entidade de profissionais que contribuíram de forma significativa para que o Porto de Santos pudesse se tornar, no período de 1890 a 1969, o maior e mais importante porto se não só do Brasil, mas também da América Latina.
Esses profissionais garantiram e ainda garantem importante papel na segurança e na operacionalidade da navegação no complexo portuário santista, sem os quais ficaria comprometida a total viabilidade do escoamento produtivo (agrícola ou industrial) do Estado de São Paulo, o mais rico e esteio financeiro da nossa nação.
O canal – estuário – do Porto de Santos é a verdadeira “artéria-aorta” do fluxo de riquezas (importação-exportação) de grande parte do “hinterland” brasileiro e este fluxo foi e é assegurado pela entidade dos práticos-pilotos, cuja história foi sempre relegada ao esquecimento até o aparecimento com esta obra.