Recentemente, os amigos mais próximos de Edson Lucas, atual presidente da Associação de Cartofilia do Rio de Janeiro (Acarj), da qual, diga-se de passagem, sou associado, com muita honra, começaram a receber por e-mail imagens de antigos navios da nossa marinha mercante.
O pequeno e valente 'Aspirante Nascimento', deixando o
Porto de Angra dos Reis por volta de 1940. (Foto: Edson Lucas)
Das imagens de navios, a que mais tocou Edson foi a do ‘Aspirante Nascimento’, que deu início a uma troca de e-mails entre ele e o comandante Carlos Dufriche, que, entre outros, comandou o ‘Charrua’, navio que era representado em Santos pela Indifaço Comércio e Navegação.
Na época, eu era contato publicitário da Agência Hugo Paiva Publicidade, que mantinha a conta de publicidade da Indifaço para anúncios de chegada de navios na página Vapores de A Tribuna, que não existe mais.
Por volta de 1970, as companhias de navegação faziam anúncios da escala de chegada de navios por elas representadas. Muitas vezes os anúncios das agências de navegação e dos armadores ocupavam três páginas.
Muitos despachantes aduaneiros e o pessoal ligado ao porto e à navegação, com certeza, se lembram dessas páginas.
Voltando ao pequeno navio ‘Aspirante Nascimento’, peço licença ao amigo Edson e ao comandante Dufriche para reproduzir os e-mails, nostálgicos e repletos de histórias:
Amigos,
De todas as fotos antigas de navios brasileiros que já tive oportunidade de adicionar à minha coleção, nenhuma delas me transporta com tanta realidade para aqueles tempos nostálgicos da navegação, como esta, em anexo, do ASPIRANTE NASCIMENTO partindo do Porto de Angra dos Reis. Provavelmente na Década de 40.
Não esqueço uma vez que o comandante Dufriche me disse que quando este navio chegava em frente a Copacabana, nem precisava confirmar... só pela fumaça já sabia que se tratava do dito cujo.
Edson Lucas
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Edson e demais ship lovers:
Linda foto, naquele tempo ninguém sabia o que era poluição, esse aí passava em frente a Copacabana e deixava seu longo rastro de fumaça que, densa e negra como era, permanecia no ar por muito tempo.
O 'Aspirante Nascimento', visto de outro ângulo, fundeado na Baía da Guanabara nos Anos 30 do século passado. (Cartão-postal do Acervo Laire José Giraud)
Na época ele fazia a linha Rio-Angra, Parati, Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião, Santos, Iguape e Cananéia, mais ou menos uma viagem redonda por semana.
Na maior parte das escalas devia fundear, as canoas já o esperando, embarcar e desembarcar alguns passageiros e malas postais, carga quase não transportava, suspender e partir.
Acho que este naviozinho foi mercante, depois foi da Marinha de Guerra, de novo mercante e de novo da Marinha, onde terminou sua longa carreira como navio-hidrográfico. Na segunda-feira voltarei com mais informações sobre ele.
Abraços
Carlos Dufriche
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Amigos,
Para os que se interessam pela história dos navios, aqui algumas informações sobre o ASPIRANTE NASCIMENTO.
Segundo o livro "LLOYD BRAZILEIRO", de C. de Saint Hubert (San José da Costa Rica, 1982), republicado por Reinhart Schmelzkopf (Cuxhaven, 1984), esse navio foi encomendado ao estaleiro Deutsche Werft, de Hamburgo, pela Hamburg Süd, mas utilizado por sua afiliada brasileira, Companhia de Navegação Cruzeiro do Sul, Rio de Janeiro, com o nome de VENUS.
Outro navio utilizado pelo Lloyd Brasileiro na navegação de cabotagem era o 'Manaos', (grafado com a letra O), que contribuiu para o desenvolvimento do Brasil, transportando cargas do Sul para o Norte e vice-versa. (Cartão-postal
do Acervo Laire José Giraud)
Em 1916, foi adquirido pelo Lloyd Brasileiro e batizado OYAPOCK. Em 4/1/1924, foi cedido, a título precário, à Marinha de Guerra e passou a chamar-se ASPIRANTE NASCIMENTO, em homenagem ao Aspirante Joaquim Cândido do Nascimento, morto em combate a bordo da canhoneira MEARIM, em 12/8/1865, durante a guerra do Paraguai.
Serviu como aviso fiscal de pesca e fez várias viagens à Ilha da Trindade, transportando também prisioneiros políticos.
Segundo "Subsídios para a História Marítima do Brasil", foi desarmado e devolvido ao Lloyd Brasileiro, tendo a mostra de desarmamento ocorrido em 22/3/1926.
Manteve o nome e em 21/9/1944 foi novamente incorporado à Marinha do Brasil, como navio-auxiliar a serviço da Diretoria de Hidrografia e Navegação, sempre como ASPIRANTE NASCIMENTO.
Finalmente, em 10/10/1953 deu baixa e presumivelmente foi demolido.
Características técnicas:
TAB – Tonelagem de Arqueação Bruta: 916 toneladas
TAL – Tonelagem de Arqueação Líquida: 439 toneladas
TDW – Tonnage of Dead-Weight (Tonelagem de Peso Morto): 916t toneladas
Construído em: 1905
Acomodações para 66 passageiros de 1.ª classe e 32 de 3.ª
Apesar da fumaça, quando do LB queimava óleo combustível
Velocidade 8/10 nós (14,8 km/h)
Carlos Dufriche
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Conforme pude notar, o ‘Aspirante Nascimento’, navegava no mesmo estilo do ‘Carl Hoepcke’ e do ‘Anna’, da companhia de navegação Carl Hoepcke.
O 'Carl Hoepcke', da companhia catarinense de navegação Carl Hoepcke fazia as
linhas de cabotagem no estilo do 'Aspirante Nascimento'. (Imagem: Edson Lucas)
Isto ocorreu num tempo em que o Brasil era ligado de Norte a Sul através dos navios, pois as estradas de rodagem praticamente não existiam, e poucas eram transitáveis.
Então, o único modo garantido e seguro de viajar e de transportar cargas era através do mar. O Lloyd Brasileiro, a Companhia Nacional de Navegação Costeira, o Lloyd Nacional, a Companhia de Navegação Pereira Carneiro, entre outras, eram as mais conhecidas na navegação de cabotagem, que começou a declinar por volta de 1965, quando surgiram melhores estradas, o caminhão tomou conta da carga, os ônibus e os aviões, dos passageiros.
A seguir, apresentarei comentários de pessoas que viajaram em uma época em que os melhores meios de transporte eram o trem e o navio.
O prático José Console, que iniciou a carreira de oficial no Lloyd Brasileiro, jamais embarcou em navios da Costeira, mas conta que muitos dos cargueiros de ambas as companhias não tinham frigorífico.
Levavam, para consumo da tripulação e de passageiros, animais vivos, que eram abatidos durante a viagem, porque as geladeiras a bordo eram muito pequenas. A situação perdurou até o final dos anos 40.
O 'Itaúba', da Costeira, atracado no Cais do Armazém 6
da antiga Companhia Docas de Santos: era um 'Ita' dos
pequenos, em imagem de 1926. (Cartão-postal do Acervo
Laire José Giraud)
De acordo com Console, que vive em Santos, os animais para consumo de bordo eram frangos e porcos (leitões), principalmente.
Carlos Alberto Piffer, ex-funcionário da Companhia Docas de Santos e da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), tem recordações da armadora Companhia Nacional de Navegação Costeira (CNNC):
“Lembro-me também da minha primeira viagem de navio, com os meus pais, a São Sebastião, por volta de 1939. Partimos de Santos, no fim da tarde, a bordo do ‘Itassusé’, da Costeira. O jantar consistia de peru assado – um luxo para a época – e a mesa, os talheres e demais objetos eram impecáveis. A chegada em São Sebastião foi por volta da meia-noite. A viagem toda, com bom tempo, não demorava mais de quatro horas. O Porto de São Sebastião não existia ainda: lembro-me de ver já alguma atividade relacionada com a construção, que demoraria alguns anos para ser concluída e mais outros para entrar em funcionamento”.
Sendo este artigo apenas um passeio ao passado, não contará maiores detalhes daquela época, em que imperavam as viagens marítimas.
Esses detalhes vão ficar por conta dos confrades João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo, que, no decorrer deste ano de 2006 lançarão uma grande obra, um livro pictórico sobre navios: vários amigos apreciadores do tema terão a oportunidade de cooperar.
Para finalizar, agradecemos ao comandante Carlos Dufriche e ao amigo Edson pelas informações e imagens de um tempo que não volta mais.
Aceitem os parabéns da coluna Recordar de PortoGente.
