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O terceiro Barroso foi também um cruzador. Era inglês e foi construído em Elswick (Inglaterra), em 1895, dando baixa em 1931. O atual Barroso foi construído no Arsenal de Marinha de Filadélfia, por encomenda da marinha norte-americana, e teve sua quilha batida a 28 de maio de 1935. Foi lançado ao mar em 17 de novembro de 1936, com o nome de US Philadelphia e incorporado um ano depois.
Foto aérea do cruzador Barroso, nau-capitânia da
Esquadra brasileira na década de 1950.
(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)
Em abril de 1938 a embarcação teve a missão de hospedar o presidente Roosevelt num cruzeiro pelo Mar das Antilhas e na II Guerra Mundial foi incorporado à Patrulha Neutra do Atlântico Norte. Teve o seu batismo de fogo no dia 8 de novembro de 1942, no bombardeamento das costas de Safi, no Marrocos.
Modernizado
Em fins de 1942, foi modernizado e destacado para o Mediterrâneo, onde tomou parte nas operações de desembarque na Sicília meridional, ataque a Salermo e invasão da França, nesta última derrotando os canhões de 15 polegadas do Forte Toulon, o que possibilitou a posse das Ilhas fortificadas ao largo do Porto de Marselha.
Por volta de 1955, os contratorpedeiros Bauru,
Beberibe, Bocaina e Bertioga, que escoltavam o
famoso cruzador em suas viagens pelos portos do
Brasil. A foto foi tirada a partir da popa do Barroso.
Foto: José Dias Herrera – Acervo: Laire José Giraud
Terminada a guerra, o US Philadelphia passou para a reserva. Depois, adquirido pelo governo brasileiro, foi reativado e incorporado à Marinha do Brasil, no dia 21 de agosto de 1951. Quatro meses antes, a Marinha enviou aos Estados Unidos uma equipe para trazê-lo ao Brasil, depois de passar por um período de adestramento. Dessa equipe, 2 suboficiais permanecem, até hoje, na tripulação do Barroso: José Floriano Néri (operador de radar) e Pedro Silva (artilheiro).
Esses dois marinheiros contam que a viagem para os Estados unidos foi feita no navio-escola Duque de Caxias e o caminho foi percorrido em 22 dias: “a única escala foi Trinidad-Tobago, aonde chegamos durante o carnaval. Apesar de passarmos naquele porto somente dois dias para reabastecimento, recebemos um convite para a solenidade de enforcamento de um condenado. Houve protesto de nossa tripulação, e ninguém foi”.
A primeira tripulação do cruzador Barroso, foi levada aos
Estados Unidos para trazê-lo ao Brasil, a bordo do navio-
escola Duque de Caxias. Esse navio-escola fez várias
viagens à Europa, África com os formandos da Escola Naval
do Brasil nos anos 50. (Foto: Internet)
Depois dessa escala, a viagem prosseguiu direta até Filadélfia, onde ficaram 6 meses. A volta ocorreu do Porto de Norfolk, e, no dia da partida, a tripulação recebeu, da Marinha norte-americana, o conselho de que não deviam sair por causa de um temporal em alto mar.
“Saímos assim mesmo. Na altura do Golfo do México pegamos aquele temporal durante 4 dias e 4 noites. Era água por todos os lados. Chegamos a ficar 4 horas à matroca (com as máquinas paradas)”, contaram os dois suboficiais.
Imagem - para posteridade - de oficiais e praças do
cruzador Barroso – 1960 (Reprodução: Foto José Dias
Herrera - Acervo L. J. Giraud)
Instrução
A serviço da esquadra brasileira, o cruzador Barroso cumpriu várias missões de instrução, adestramento e operacionais. Representou, ainda o Brasil, nos festejos de Santos; tomou parte no desfile naval de Portsmouth durante a solenidade de coroação da rainha da Inglaterra; transladou os restos mortais da Princesa Isabel e do Conde D’Eu.
Perfil do cruzador Barroso, líder de uma das colunas de
navios de guerra, cruza com os veleiros no desfile de Sagres,
em Portugal. (Foto: Estórias Navais Brasileiras)
Outros serviços que o Barroso executou foi transportar de Salvador para o Rio de Janeiro, o presidente português Craveiro Lopes; foi a Portugal participar das comemorações henriquinas; tomou parte na chamada “Guerra da Lagosta”; transportou o ex-presidente Juscelino Kubitschek a Portugal e recepcionou o atual presidente português, Américo Thomas. Durante 22 anos percorreu milhares de milhas, a uma velocidade máxima de 30 nós. O Barroso tem comprimento de 185 metros, calado de 7,30 metros e deslocamento de 14 mil toneladas. Seu raio de ação é de 8.900 milhas.
Seu armamento principal está montado em 5 torres tríplices, com canhões de 6 polegadas, permitindo volume total de fogo equivalente a 7 batalhões de artilharia de 105 milímetros. Sua guarnição é composta de 1.003 homens (57 oficiais). A potência de suas máquinas é de 100 mil HP, o que daria para iluminar uma grande cidade.
O triste fim do legendário, heróico e guerreiro
Barroso: sucata. Imagem de 1974 tirada pró-
xima à estação das barcas em Vicente de Carvalho,
no Município de Guarujá, integrante do complexo
do Porto de Santos. (Reprodução)
No dia 15 de maio, o ministro da Marinha, almirante Adalberto de Barros Nunes, determinou a baixa do navio do serviço ativo. A desativação já está sendo feita, sob as ordens do atual comandante, capitão-de-mar-e-guerra Carlos de Oliveira Roes, que guarda como relíquia, no seu camarote, talvez a única fotografia existente do Almirante Barroso, o Barão do Amazonas. Mas, o cruzador Barroso só deixará de ser navio de guerra quando houver a solenidade da mostra de desarmamento, o que ocorrerá daqui a dois meses. Nessa ocasião, será retirada a Bandeira Nacional de sua popa, e ele será transformado numa embarcação comum.
Curiosamente, o casco do velho Barroso depois de desarmado e descomissionado, foi arrematado em leilão da Marinha, por uma firma de São Bernardo do Campo – SP, de nome Igrafer Comércio de Ferros e Metais, da qual eu era despachante aduaneiro. Por essa razão, estive algumas vezes a bordo do seu casco inerte, que ficou literalmente encalhado, nas proximidades da estação das barcas de Vicente de Carvalho. Recebi de presente do seu proprietário, um relógio elétrico do navio, onde estava escrito no seu mostrador ainda USS Philadelphia – US Navy. Mas, por não ter dado muita importância na época, acabou se deteriorando.
O Barroso quando ainda era USS Philadelphia, fotogra-
fado em 1938, nota-se que no casco, havia aberturas
conhecidas por “vigias”, depois, por questão de segurança,
foram fechadas. (Foto: US Navy)
Um outro detalhe, é que em um dos exemplares da revista estadunidense Sea Classics, que aborda assuntos referentes a navios de guerra e mercantes, um anúncio de venda de objetos do navio em desmanche, e pedia para os interessados, entrassem em contato, com nada mais, nada menos, do que o historiador e pesquisador marítimo José Carlos Rossini, autor do livro Rota de Ouro e Prata, que conta a história dos principais navios de passageiros que vinham o Brasil, Uruguai e Argentina. Vinte anos após esse anúncio, vim conhecê-lo através de uma apresentação feita pelo jornalista Armando Akio.
Para finalizar, gostaria de ressaltar que o cruzador Barroso me trás boas recordações do tempo em que ia com vários amigos do Canal 5 visitá-lo geralmente atracado no Armazém 5 da famosa CDS, a Companhia Docas de Santos. Nossas homenagens à memória do Velho Guerreiro que com certeza será sempre lembrado pela gloriosa Marinha do Brasil.